- 19.09
- 2012
- 14:00
- Karin Salomao
Diretor da Abraji é homenageado com prêmio internacional e fala sobre sua carreira
O repórter da Gazeta do Povo e diretor da Abraji Mauri König é um dos homenageados do Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ) com o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa. O prêmio, que homenageia a carreira do jornalista como um todo, também foi concedido a Mae Azango (Libéria), e os jornalistas Dhondup Wangchen (China) e Azimjon Askarov (Quirguistão), que estão presos.
Apesar de não ter sido o primeiro prêmio que recebeu, König considera que esse tem um valor mais expressivo: “é o resultado do reconhecimento de toda minha carreira, não de um trabalho específico. É um prêmio escolhido pelo próprio comitê do CPJ”, diz, em entrevista à Abraji.
Em seus 22 anos de carreira, König recebeu 24 prêmios, nacionais e internacionais. Entre eles, Prêmio Esso (2001 e 2004), Prêmio Vladimir Herzog (2001, 2004, 2005 e 2011), Jornalista Amigo da Criança (2003) e Prêmio SIP (2002).
O jornalista se define como correspondente de rua. No prefácio do seu livro, “Narrativas de um correspondente de rua”, ele descreve seu trabalho na cobertura da guerra cotidiana, na rua, contra a miséria e a indiferença. Para ele, a máxima “lugar de repórter é na rua” é quase um lema. “Alguns jornalistas passam muito tempo dentro das redações e perdem a habilidade de ver o que acontece lá fora”, diz.
A primeira batalha que um jornalista deve enfrentar, segundo ele, é convencer o seu editor e o jornal de que vale a pena investir tempo e dinheiro na história que o repórter tem na mão. Tempo, para ele, é um dos bens mais raros na redação. Segundo König, o jornalista precisa estar disposto a ler muito, procurar diversas fontes, obras e documentos. Nesse período, é possível refletir sobre o que está fazendo. “Essas reflexões vão dando luz a questões da pauta e podem levar a um insight”.
Hoje, König desenvolve diversos projetos de longa duração. O último trabalho do gênero levou cinco meses para ser feito, entre a pesquisa, análise de dados e apuração. O resultado é a série “Polícia Fora da Lei”, publicado pela Gazeta do Povo.
Coordenada por König, a equipe com mais três repórteres formou um banco de dados sobre a Polícia Civil do Paraná e desenvolveu diversas reportagens sobre o tema.
Em consequência desse trabalho, policiais civis usaram um blog para lançar ofensas e fazer ameaças a Mauri König. Segundo o site da Gazeta do Povo, “as postagens, sempre anônimas, classificam o jornalista como ´inimigo público número 1 da Polícia Civil´. As ameaças se estendem ainda a um policial que os comentaristas do blog julgam ser o informante”. Para König, essas ameaças de morte geram um “temor constante da ação do inimigo invisível”. “Eles sabem quem eu sou, onde trabalho, onde moro, minha vida. Eu não sei nada sobre eles”, diz, sobre os comentários anônimos.
Essa não é a primeira vez que policiais o ameaçam por causa de suas reportagens. Em 2001, o jornalista vivenciou uma experiência de quase morte. König estava no Paraguai, apurando como adolescentes brasileiros eram recrutados ilegalmente pelo Exército paraguaio e viviam sob condições de quase escravos do outro lado da fronteira. No meio de sua viagem, foi espancado e estrangulado com correntes por três homens que vestiam a farda do Exército paraguaio. Recebeu cinco prêmios por essa série de reportagens, incluindo um Esso e o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.
Em 2003, as ameaças de forças policiais brasileiras o fizeram mudar de cidade. Ele morava em Foz do Iguaçu e estava realizando reportagens ao longo da região fronteiriça do Brasil com Paraguai e Argentina, quando enfrentou uma onda de ameaças. A redação do jornal o chamou de volta a Curitiba, cidade-sede da Gazeta do Povo.
No ano seguinte, viajou do Chuí ao Oiapoque junto com o fotógrafo Albari Rosa , para expor as injustiças sociais da região de fronteira do sul ao norte do país, como exploração sexual de crianças e adolescentes. “Quanto mais perto da fronteira e para o interior do país, mais distante do poder central está a região”, diz. Por isso, mais perigosa é a região para os moradores e para jornalistas, diz König, citando problemas como tráfico de drogas e de pessoas. De 2004 a 2005, a equipe acompanhou de perto o “submundo do crime”. Porém, por causa de suas experiências anteriores, ele e o fotógrafo estavam cientes de que não arriscariam a vida por nenhuma informação e conseguiram voltar ilesos.
Apesar de todas as ameaças que já enfrentou, ele diz nunca ter sido processado por suas reportagens. Apesar de expor problemas sociais, políticos e corrupção, ele sempre teve o cuidado de ter em mãos todas as provas antes de fazer uma. “Como as pessoas denunciadas não acham meios jurídicos [para impedir a divulgação das reportagens], acham outros meios de calar”, diz.
Para os profissionais que pretendem fazer jornalismo investigativo, König aconselha “paciência, preparação, rigor da apuração e ter como premissa o interesse público”. Para ele, a experiência do jornalismo diário é fundamental para conseguir escrever reportagens de fôlego. O jornalista não deve ter pressa para ter êxito, mas começar aprendendo o básico. Dessa forma, será capaz de escrever reportagens que, de alguma forma, interfiram na realidade, “no que é mais injusto”, diz.