• 08.05
  • 2015
  • 09:21
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Diretor da Abraji cria banco de dados de informações públicas sobre empresas do Brasil

No fim de 2014, o diretor da Abraji e professor da PUC-RS Marcelo Träsel criou o projeto Registro Livre, um banco de dados de informações públicas sobre empresas no Brasil desenvolvido pela Aceleradora Ágil do Centro de Inovação Microsoft no TecnoPUC, em parceria com a empresa ThoughtWorks. Desde então, a iniciativa, cujo objetivo é criar uma rede colaborativa em que todo cidadão poderá contribuir e ter acesso aos registros disponíveis, ganhou corpo e forma e começa a ser alimentada. Träsel deu entrevista à Abraji falando mais sobre os próximos passos e como jornalistas podem ajudar e ser beneficiados pelo site. 

O Registro Livre ainda não está operando em sua potencialidade máxima, mas quem quiser já pode mandar sua contribuição para [email protected]. O software é open source e o código está disponível no GitHub.

 

Abraji: Por que você decidiu fazer esse projeto, e de onde surgiu essa ideia?

Marcelo Träsel: O projeto foi concebido a partir de discussões que tive com jornalistas investigativos brasileiros nos últimos anos, em especial depois que comecei a atuar na diretoria da Abraji. O contato com repórteres que baseiam suas investigações em documentos públicos me chamou a atenção para o fato de que nem todo documento público é publicado. Além disso, sou partidário de políticas de dados abertos abrangentes. Como trabalho numa instituição, a PUC-RS, na qual tenho acesso a acadêmicos e desenvolvedores de tecnologia, decidi propor parcerias com empresas e órgãos do Parque Tecnológico e tentar encontrar uma forma de resolver esse problema. 

 

A: Qual a importância de esse tipo de informações estar disponível para jornalistas?

MT: A resposta curta seria: poupar recursos financeiros e tempo durante uma investigação. Não vejo sentido em repórteres de todas as redações ao redor do Brasil levantarem os mesmos documentos toda vez em que precisam investigar uma pessoa física ou jurídica. A cópia de um contrato social ou registro de imóvel pode custar muito caro nas juntas comerciais e cartórios. Como normalmente as investigações exigem levantar dados sobre diversas empresas ou indivíduos, a conta bate facilmente nos milhares de reais. É bem mais lógico compartilhar esses documentos de interesse comum com outros repórteres Brasil afora e, em contrapartida, poder contar com contribuições de outros colegas. Além disso, no caso específico do Registro Livre, o sistema oferece um sistema de busca mais rápido e amigável que as Juntas Comerciais.

 

A: Como é a disponibilização dessas informações atualmente?

MT: Salvo engano, exceto no caso da Junta Comercial de São Paulo, que oferece gratuitamente e imediatamente informações básicas sobre estrutura societária, patrimônio etc., nos outros Estados é preciso pagar uma taxa alta e esperar, dependendo do caso, alguns dias para obter os documentos. A vantagem do Registro Livre é facilitar o início da investigação, o teste de hipóteses. Havendo um banco de dados abertos, o dinheiro e o tempo podem ser dirigidos apenas para os documentos realmente promissores. O tamanho da tarrafa que é preciso lançar para pegar algum peixe diminui quando se enxerga os movimentos do cardume.

 

A: Qual a importância dos sistemas colaborativos para o jornalismo hoje?

MT: A cultura jornalística sempre foi mais competitiva do que colaborativa. O caderno de fontes, por exemplo, costumava, ou costuma, ser protegido com a vida numa redação. Ninguém quer dar um furo de graça a um concorrente, mesmo que ele trabalhe na própria redação. Mas aos poucos essa cultura está mudando e se tornando mais colaborativa, a reboque da valorização geral do cooperativismo que a Internet provocou. Em especial os repórteres que usam a informática no dia a dia e, por força disso, acabam interagindo com grupos naturalmente colaborativos, como hackers, estão trazendo estes valores para as redações. Daí, vemos fenômenos como editorias de dados, crowdfunding e outras iniciativas que incorporam a cultura cooperativa da Internet.

Assinatura Abraji