- 14.07
- 2009
- 11:48
- Ivan Men Torraca/ Projeto Repórter do Futuro
Dimmi Amora conta os bastidores da premiada reportagem Favela S/A, no congresso da Abraji
“Por uma nova visão sobre a favela”. É assim que o repórter do jornal O Globo Dimmi Amora definiu um dos objetivos principais da grande reportagem chamada Favela S/A, que deu nome à palestra realizada por ele durante o 4º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo realizado na Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo.
Segundo o jornalista, há um “imaginário de que na favela só moram pobres e miseráveis”. De acordo com estimativa feita pelo repórter, a renda bruta das pessoas nas favelas fica entre 5 e 10 bilhões por ano e o faturamento do comércio chega a perto de 3 bilhões. Além disso, Dimmi descobriu que na favela “há pessoas que têm uma renda superior a 10 mil reais. Além disso, elas não pagam água, eletricidade, IPTU, entre outros impostos”, disse.
A partir dessa constatação, Amora se preocupou em mostrar como é feita a “apropriação da renda dos moradores por traficantes, milicianos, políticos e policiais. Este foi o sentido da matéria”, contou. Dentro desta economia ilegal, destaca-se o famoso “gato”, a venda de gás e o transporte irregular feito com vans.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo jornalista foi a falta de dados sobre o tema, pois trata-se de um local sem regulação do Estado. Além disso, o último grande levantamento feito pelo governo foi o CENSO 2000.
Outra dificuldade foi o contato com as fontes. “Depois da morte do Tim Lopes, aumentou a distância entre jornalistas e favela”, afirma Dimmi Amora, que, para preservar as fontes, contou as histórias com nomes fictícios e, às vezes, chegava omitir a região do entrevistado.
O resultado foram 20 páginas publicadas em nove dias por uma equipe de 22 pessoas, sendo quatro editores, sete repórteres, sete fotógrafos, três artistas gráficos e um pesquisador. Favela S/A foi a reportagem do ano do Jornal O Globo, ganhou o prêmio CNH de Jornalismo e também o de Direitos Humanos da UNESCO em 2008.