- 30.06
- 2005
- 12:36
- MarceloSoares
Dilemas das idas e vindas migratórias
YARA VERÔNICA FERREIRA - REPÓRTER DO FUTURO
As andanças pela Praça Kantuta, nas tardes de domingo, revelam que a cultura da Bolívia não se desfaz, mesmo distante da terra natal. Essa feira, onde dezenas de imigrantes latino-americanos se reúnem, é um pequeno retrato do complexo quadro da presença dos latino-americanos no Brasil.
Os números são difíceis de contabilizar, porque a maior parte dos latinos entra no país de forma ilegal. O chefe da Seção de Estrangeiros da Polícia Federal, Luiz Eduardo Machado, informa que entre argentinos, bolivianos, chilenos, colombianos, mexicanos, paraguaios e peruanos, são 78.037 imigrantes legalizados atualmente em São Paulo.
Em relação aos chilenos, a assistente social e secretária do Consulado Geral do Chile no Brasil, Marta Moreno, informa que são cerca de 30 mil, mas alerta: “o número não é preciso, porque nem todos regularizaram sua situação”. Nos apontamentos da Polícia Federal, são 20.499 legalizados.
Com registro de entrada no país, são 4.025 colombianos, mas funcionários do Consulado Geral da Colômbia no Brasil estimam que haja cerca de três mil colombianos. A funcionária do consulado não quis se identificar. Talvez essa atitude reflita a relação conflituosa que se instalou entre os dois países depois de o governo brasileiro ter negado asilo a alguns colombianos, como declarou a consulesa Martha de Arévalo ao jornal “Presença Latina”, em março.
A recusa de imigrantes colombianos chegou aos ouvidos do jornalista e escritor José Manuel Rodriguez Walteros, que vive nos Estados Unidos. Ele saiu há 20 anos da Colômbia e acredita que não seria bem recebido no Brasil, devido aos problemas políticos que teve por ter escrito, aos 19 anos, um conto que denunciava a situação que o governo e os grupos guerrilheiros impunham aos seus compatriotas. “Viva la República”, o conto, foi premiado na Argentina, mas causou a separação da família Walteros.
As imigrações estão intimamente relacionadas com a situação dos países da América Latina, que reflete um novelo de lã emaranhado e não há fórmulas que consigam desembaraçar os fios que começaram a se enrolar, desordenadamente, ainda na época da colonização.
Nem todos vêm ao Brasil fugindo de conturbações políticas. É o caso do professor mexicano Gabriel Jiménez Aguilar, que também veio ao Brasil para estudar. Todos os seus irmãos escolheram estudar em outros países, mas ele preferiu um da América Latina. “Estava entre Argentina e Brasil, mas o Brasil era o melhor porque queria aprender uma nova língua”. Ele leciona espanhol no Senac enquanto estuda. Já cursou Filosofia na PUC e Letras na Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid). “Vou fazer mestrado e doutorado para depois voltar ao México, pois a situação política, econômica e financeira em meu país é melhor que aqui”, afirma, orgulhoso.
A cidade predileta dos imigrantes é São Paulo, por ser um centro econômico. O problema é que muitos latinos vêm ao país em busca de melhores condições de vida e, no entanto, acabam em situações constrangedoras. Como os bolivianos, captados em zonas rurais por grupos de chineses, brasileiros e dos próprios bolivianos. O artesão e músico Oscar Eddy Claros Gusman foi seduzido por chineses na área rural da Bolívia a entrar no Brasil como turista. Encontrou uma jornada de trabalho em confecção, num regime de semi-escravidão com mais de 12 horas diárias. Hoje, vende CD´s e outros produtos pelas ruas do centro.
Para reduzir as dificuldades vividas por esses povos, foram criadas algumas entidades que funcionam como centro cultural e prestam assistência jurídica e social. Em São Paulo, entre outras, há a Pastoral do Imigrante e a Associação Gastronômica Folclórica Boliviana, criada pelo Padre Bento, na região do Pari.
A vereadora e apresentadora de TV Soninha, que é relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do trabalho análogo à escravidão na Câmara Municipal, relata que a gravidade da situação vai muito além da quantidade de horas excessivas de trabalho. São locais insalubres, que na tentativa de encobrir o barulho das máquinas tocam música boliviana no mais alto volume. O expediente chega a 18 horas de trabalho e os funcionários dormem ali mesmo, ao lado das máquinas.
O artigo 1° da Lei Federal nº 6.815/80 diz: “Em tempo de paz, qualquer estrangeiro poderá, satisfeitas as condições desta Lei, entrar e permanecer no Brasil, e dele sair, resguardados os interesses nacionais”. Respaldados nessa lei, os imigrantes latinos se concentram em São Paulo, num crescimento não planejado dessa população. O resultado? Desemprego, falta de moradia, mal atendimento na área de saúde, tráfego caótico e poluição.
Descoberto pela Polícia Federal em situação ilegal, o imigrante teria que voltar para seu país. Porém, segundo Soninha, “o Brasil deixa por isso mesmo, porque não quer pagar as despesas de volta”. Na visão da vereadora, o melhor seria que o Brasil pudesse ajudar os países vizinhos a se organizar, porque expulsar esses cidadãos, nas condições em que vivem no Brasil e em seus países, seria desumano.
As andanças pela Praça Kantuta, nas tardes de domingo, revelam que a cultura da Bolívia não se desfaz, mesmo distante da terra natal. Essa feira, onde dezenas de imigrantes latino-americanos se reúnem, é um pequeno retrato do complexo quadro da presença dos latino-americanos no Brasil.
Os números são difíceis de contabilizar, porque a maior parte dos latinos entra no país de forma ilegal. O chefe da Seção de Estrangeiros da Polícia Federal, Luiz Eduardo Machado, informa que entre argentinos, bolivianos, chilenos, colombianos, mexicanos, paraguaios e peruanos, são 78.037 imigrantes legalizados atualmente em São Paulo.
Em relação aos chilenos, a assistente social e secretária do Consulado Geral do Chile no Brasil, Marta Moreno, informa que são cerca de 30 mil, mas alerta: “o número não é preciso, porque nem todos regularizaram sua situação”. Nos apontamentos da Polícia Federal, são 20.499 legalizados.
Com registro de entrada no país, são 4.025 colombianos, mas funcionários do Consulado Geral da Colômbia no Brasil estimam que haja cerca de três mil colombianos. A funcionária do consulado não quis se identificar. Talvez essa atitude reflita a relação conflituosa que se instalou entre os dois países depois de o governo brasileiro ter negado asilo a alguns colombianos, como declarou a consulesa Martha de Arévalo ao jornal “Presença Latina”, em março.
A recusa de imigrantes colombianos chegou aos ouvidos do jornalista e escritor José Manuel Rodriguez Walteros, que vive nos Estados Unidos. Ele saiu há 20 anos da Colômbia e acredita que não seria bem recebido no Brasil, devido aos problemas políticos que teve por ter escrito, aos 19 anos, um conto que denunciava a situação que o governo e os grupos guerrilheiros impunham aos seus compatriotas. “Viva la República”, o conto, foi premiado na Argentina, mas causou a separação da família Walteros.
As imigrações estão intimamente relacionadas com a situação dos países da América Latina, que reflete um novelo de lã emaranhado e não há fórmulas que consigam desembaraçar os fios que começaram a se enrolar, desordenadamente, ainda na época da colonização.
Nem todos vêm ao Brasil fugindo de conturbações políticas. É o caso do professor mexicano Gabriel Jiménez Aguilar, que também veio ao Brasil para estudar. Todos os seus irmãos escolheram estudar em outros países, mas ele preferiu um da América Latina. “Estava entre Argentina e Brasil, mas o Brasil era o melhor porque queria aprender uma nova língua”. Ele leciona espanhol no Senac enquanto estuda. Já cursou Filosofia na PUC e Letras na Universidade da Cidade de São Paulo (Unicid). “Vou fazer mestrado e doutorado para depois voltar ao México, pois a situação política, econômica e financeira em meu país é melhor que aqui”, afirma, orgulhoso.
A cidade predileta dos imigrantes é São Paulo, por ser um centro econômico. O problema é que muitos latinos vêm ao país em busca de melhores condições de vida e, no entanto, acabam em situações constrangedoras. Como os bolivianos, captados em zonas rurais por grupos de chineses, brasileiros e dos próprios bolivianos. O artesão e músico Oscar Eddy Claros Gusman foi seduzido por chineses na área rural da Bolívia a entrar no Brasil como turista. Encontrou uma jornada de trabalho em confecção, num regime de semi-escravidão com mais de 12 horas diárias. Hoje, vende CD´s e outros produtos pelas ruas do centro.
Para reduzir as dificuldades vividas por esses povos, foram criadas algumas entidades que funcionam como centro cultural e prestam assistência jurídica e social. Em São Paulo, entre outras, há a Pastoral do Imigrante e a Associação Gastronômica Folclórica Boliviana, criada pelo Padre Bento, na região do Pari.
A vereadora e apresentadora de TV Soninha, que é relatora da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do trabalho análogo à escravidão na Câmara Municipal, relata que a gravidade da situação vai muito além da quantidade de horas excessivas de trabalho. São locais insalubres, que na tentativa de encobrir o barulho das máquinas tocam música boliviana no mais alto volume. O expediente chega a 18 horas de trabalho e os funcionários dormem ali mesmo, ao lado das máquinas.
O artigo 1° da Lei Federal nº 6.815/80 diz: “Em tempo de paz, qualquer estrangeiro poderá, satisfeitas as condições desta Lei, entrar e permanecer no Brasil, e dele sair, resguardados os interesses nacionais”. Respaldados nessa lei, os imigrantes latinos se concentram em São Paulo, num crescimento não planejado dessa população. O resultado? Desemprego, falta de moradia, mal atendimento na área de saúde, tráfego caótico e poluição.
Descoberto pela Polícia Federal em situação ilegal, o imigrante teria que voltar para seu país. Porém, segundo Soninha, “o Brasil deixa por isso mesmo, porque não quer pagar as despesas de volta”. Na visão da vereadora, o melhor seria que o Brasil pudesse ajudar os países vizinhos a se organizar, porque expulsar esses cidadãos, nas condições em que vivem no Brasil e em seus países, seria desumano.