- 16.12
- 2021
- 12:44
- Abraji
Liberdade de expressão
Acesso à Informação
Detenção arbitrária de mulheres jornalistas bate recorde, diz RSF
Foto de capa: Jornalista presa na Bielorrúsia durante cobertura de protestos pós-eleitorais. Facebook de Katsyarina Andreyeva/RSF
Encerram o ano de 2021 detidas ao redor do mundo 60 mulheres jornalistas, alta de 43% na comparação com 2020 (42), mostra o balanço anual para 2021 da Repórteres Sem Fronteiras (RSF). No total, 488 profissionais de imprensa estavam presos até o dia 1.dez.2021, ante 387 no período anterior.
Novo participante na lista dos países que mais detêm jornalistas e funcionários de redação, com 32 casos, a Bielorrússia prende mais pessoas do gênero feminino (17) do que do masculino (15). “As autoridades bielorrussas foram surpreendidas com o papel preponderante das mulheres no início dos movimentos de protesto [contra a reeleição contestada de Alexander Lukashenko, há 27 anos no poder]”, afirma a organização internacional no relatório.
As duas primeiras pessoas condenadas pelo sistema de justiça criminal da Bielorrússia por exercer jornalismo foram mulheres: as correspondentes do canal polonês Belsat, Daria Tchoultsova e Katsiarina Andreyeva. Exilada em Berlim desde 2020, a escritora Svetlana Alexievich, ganhadora do Nobel de Literatura, tem denunciado casos de tortura perpretados pelo regime de Lukashenko nas prisões do país.
A China é o país que mais tem prendido jornalistas nos últimos cinco anos, com 137 detenções, segundo a RSF. Enquanto o número de prisioneiros na China continental diminuiu ligeiramente em 2021, as prisões em Hong Kong contribuíram para um aumento de 2% em todo o país. A vencedora do prêmio RSF 2021 na categoria coragem, Zhang Zhan, encontra-se sob risco de morte após fazer uma greve parcial de fome por ter sido presa devido à cobertura da disseminação do novo coronavírus em Wuhan.
“No final de outubro, pesava apenas 40 kg para 1,77 m de altura, não conseguia mais se mover ou mesmo levantar a cabeça sem ajuda”, informou a organização internacional sobre a jornalista chinesa.
Outros países que despertam o alerta da RSF são Mianmar (53), Vietnã (43) e Arábia Saudita (31). O levantamento também considera a prisão de profissionais de imprensa que não são jornalistas. Estão sob custódia 363 jornalistas profissionais, 103 não profissionais (como blogueiros) e 22 colaboradores de meios de comunicação. Em 9.dez.2021, o CPJ (Comitê para Proteção de Jornalistas) contabilizou 293 repórteres atrás das grades em função do exercício jornalístico.
No Brasil, está preso na penitenciária de Tremembé (SP) o blogueiro esportivo Paulo Cezar de Andrade Prado, condenado a uma pena de cinco meses por difamação.
Segundo o coordenador da RSF na América Latina, Artur Romeu, houve vários episódios de detenções arbitrárias em Cuba, Nicarágua e Colômbia - na grande maioria associadas a manifestações. A maior parte é, no entanto, temporária, durando de algumas horas a poucos dias. No caso do regime cubano, são várias as denúncias de prisões domiciliares. E, na Nicarágua, muitos jornalistas optaram por sair do país para não serem detidos.
Outras formas de violência e ataques
“De modo geral, na América Latina, a violência direta, que se materializa em agressões, ameaças, campanhas de difamação, processos judiciais abusivos e assassinatos, segue sendo a principal forma de cerceamento à liberdade de imprensa”, explica Romeu à Abraji.
Com 47 jornalistas assassinados nos últimos cinco anos, México e Afeganistão continuam a ser os países mais perigosos para o exercício da profissão, afirma o relatório anual da RSF. O México é pelo terceiro ano consecutivo o país com o maior número de casos de jornalistas mortos no mundo.
No total, a organização internacional contabilizou 46 homicídios de profissionais da imprensa em 2021. Em 30 casos, o crime foi planejado em represália ao exercício jornalístico e, nos outros 16, ocorreu durante o exercício da profissão pelo jornalista. O número é o mais baixo desde 2003. Com 9% das vítimas mulheres (4), a proporção é a mais alta registrada.
São mantidos reféns outros 65 jornalistas ao redor do mundo. Os principais sequestradores são os grupos Estado Islâmico (28), Hutis (8) e Hayat Tahrir al-Cham (7). Outras forças apoiadas pelos turcos, Al-Nosra, Al-Qaeda, JNIM, autoridades autônomas curdas e exército sírio são responsáveis por manter em cativeiro 14 profissionais de imprensa. Sete casos não têm responsável determinado.
A RSF considera que um jornalista é refém a partir do momento em que ele/ela está nas mãos de um ator não-estatal que ameaça matar, ferir ou continuar a detê-lo a fim de pressionar um Estado, uma organização ou um grupo de pessoas a realizar determinado ato político ou econômico.
Foram dados como desaparecidos em 2021 os jornalistas mexicanos Jorge Molotzín Centlal e Pablo Felipe Romero. Os dois atuam no estado de Sonora, no México. “Em ambos os casos, nem a justiça local, nem a federal anunciaram avanços significativos nas investigações, e permanece o mistério sobre esses desaparecimentos”, informa a RSF.