- 14.12
- 2006
- 14:15
- Belisa Figueiró
Curso é avaliado como 100% de uso prático
O curso para jornalistas especializados na cobertura de situações de conflito armado e violência interna foi avaliado por 100% dos participantes como de uso prático. O encontro ocorreu entre os dias 11 e 13 de novembro, em São Paulo, e reuniu militares, juristas, jornalistas e trabalhadores humanitários brasileiros e estrangeiros interessados em conhecer a experiência humanitária do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e debater sobre as normas internacionais aplicáveis tanto em situações de conflito armado quanto em outras situações de violência.
A promoção foi da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e Oboré Projetos Especiais, com apoio do CICV e dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, da Rádio CBN, do SBT e da TV Globo, que indicaram os jornalistas de suas redações com melhor perfil para participar do curso. Devido ao sucesso, Abraji e Cruz Vermelha estudam tornar o curso um evento permanente, com periodicidade ao menos anual.
Na avaliação dos participantes, o curso foi importante para trocar experiências entre os colegas, discutir o Direito Internacional Humanitário, conhecer a complexidade do trabalho da Cruz Vermelha e ouvir profissionais ligados ao tema. Perguntados sobre como utilizarão as palestras durante o seu trabalho, disseram que o curso foi uma ferramenta para escrever sobre conflitos sem erros de conceituação, enxergar o lado mais humanitário e militar, se preparar para um trabalho como esse e perceber mais de perto os riscos, desmistificando o lado romântico da cobertura. Alguns participantes solicitaram mais dias para as palestras e também material de apoio. A escolha dos palestrantes também foi um ponto muito positivo apontado pelos jornalistas.
No primeiro dia, o general Augusto Heleno Ribeiro Pereira fez uma análise da cobertura da imprensa durante os 15 meses que comandou os soldados enviados com aval das Nações Unidas. O militar fez críticas, mas concluiu com um balanço positivo: “Apesar de todas as dificuldades, a imprensa brasileira fez um trabalho de alto profissionalismo”.
Entre 30 de maio de 2004 e 30 de agosto de 2005, Heleno teve contato próximo com jornalistas de várias partes do mundo, com especial destaque para a imprensa haitiana e a brasileira. Diariamente, participava de entrevistas e pôde fazer uma comparação entre a cobertura dos veículos de diversos países. Ele também falou dos desafios da missão militar para conciliar a rotina das operações com a demanda de entrevistas e também as lições que aprendeu durante o período.
Luis Kawaguti, do jornal Diário de S. Paulo, também falou no primeiro dia de curso e relatou a sua experiência como correspondente na missão brasileira no Haiti e fez algumas críticas: “Não houve uma estratégia. A imprensa acabava caindo nas pautas iniciais, sem profundidade, justamente por desconhecer o local e não ter uma infra-estrutura”.
No segundo dia, Michel Minnig - representante do CICV para Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai - relatou o trabalho da instituição durante os conflitos armados. Ele levantou questões sobre as problemáticas humanitárias recentes, provocadas por situações de conflito armado e outras situações de violência, e a resposta do CICV frente a estas situações.
Gabriel Valladares, assessor jurídico do CICV, segundo palestrante do dia, falou das normas internacionais aplicáveis em situações de conflito armado internacional, conflito armado interno e em outras situações de violência, apresentando balizadores jurídicos úteis para a observação e a interpretação de fatos ocorridos nestas situações.
Para fechar o terceiro e último dia de curso, William Waack fez um depoimento sobre a sua experiência Guerra do Golfo de 1991 e outras coberturas de conflito armado. Ele analisou os erros mais cometidos pela imprensa nestas situações e também fez uma avaliação do curso: “Estamos abrindo uma perspectiva de discussão sobre o jornalismo que precisava acontecer. Eu, que já me considero um veterano, tive uma oportunidade enriquecedora ao falar com esses jovens que estão começando agora e saber a maneira como eles estão vendo essa cobertura”.
João Paulo Charleaux, do Comitê Internacional do CICV, considerou que o mais interessante do curso foram os palestrantes, que conseguiram falar do seu universo, de seus assuntos, sempre relacionando com o trabalho da imprensa. “Não foi uma palestra só sobre o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, mas principalmente sobre como a organização vê o uso de certos termos e conceitos do Direito da Guerra no trabalho cotidiano dos jornalistas. O mesmo com o William Waack, que faz uma reflexão muito prática sobre o trabalho da imprensa nestas situações”, concluiu.