• 29.04
  • 2013
  • 11:38
  • Cleyton Vilarino

Criminalista critica dramatização de crimes na imprensa

A imprensa deveria se focar mais no seu papel pedagógico e na explicação do que é o crime do que em sua teatralização e uso como espetáculo. A opinião é do ex-secretário de Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo e criminalista, Antônio Claudio Mariz de Oliveira.

Mariz esteve na mesa sobre Liberdade de Imprensa e Direito de Defesa do seminário O Crime e a Notícia na quinta-feira, dia 25, e abordou os abusos da imprensa ao utilizar a notícia policial como ferramenta para aumentar a audiência. “Dramatizar e teatralizar um crime para efeitos de ibope e faturamento é um crime!” afirmou o ex-secretário.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo divulgados pelo Estadão, o número de encarceramentos em São Paulo aumentou exponencialmente ano a ano no Estado. Enquanto em 1994 eram 55.021 presos, em 2013 esse número saltou para mais de 200 mil. Apesar do aumento nas prisões, o número de crimes registrados pela secretaria não caiu: aumentou de cerca de 304 mil registros para 540 mil.

De acordo com ele, a imprensa deveria se focar em explicar as causas geradoras da criminalidade para cobrar uma solução que previna o crime ao invés de insistir na punição. “É preciso cobrar as autoridades para que encarem os fatores desencadeadores do crime” afirmou Mariz deixando clara a importância da imprensa no papel de formação da sociedade para cobrar as autoridades neste sentido.

Para o jornalista Eugênio Bucci, a imprensa não teria condições de fiscalizar o poder público se fosse conivente com ele. “Há uma série interminável de segredos publicados que prestaram serviço público e do qual hoje somos beneficiados”, relata Bucci lembrando que uma notícia nada mais é que um segredo revelado: “O dever do jornalista é considerar a publicação de uma matéria quando envolve interesse público. O pacto do jornalista é com o cidadão e não com as autoridades.” ressaltou.

Criação de uma Farsa

Para o ex-ministro da justiça, Márcio Thomaz Bastos, que esteve presente na mesa sobre Sigilo, privacidade, publicidade e publicidade opressiva, a forma como alguns canais de televisão realizam a cobertura de crimes transforma o julgamento numa farsa aonde o réu vai apenas para descobrir qual será sua pena. “É preciso desmitificar a ideia de que a imprensa é mero espelho da realidade [...]. Sou advogado criminal é já participei de julgamentos onde vi clientes inocentes serem condenados pela pressão da mídia”, revelou.

O ex-ministro disse também acreditar que em casos como o do ex-PM Mizael Bispo e do Mensalão, com a transmissão quase integral por alguns canais de televisão e grande apelo popular, ministros, juízes e advogados passam a atuar para as câmeras. “Há uma grande influência do meio sobre a atuação das pessoas” ressaltou.

Para o ex-secretário de Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo e criminalista, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, a sociedade está condicionada a esperar uma punição de qualquer envolvido em um crime “Quando ocorre um crime a expectativa da sociedade como um todo é pela culpa, não há expectativa pela inocência. A declaração de inocência é seguida do juízo de valor de que o judiciário foi conivente, que inventaram provas... por que essa ânsia por castigo e punição?”, questionou o criminalista durante sua fala.

Assinatura Abraji