Cresce número de jornalistas assassinados em países que não estão em guerra
  • 29.12
  • 2020
  • 13:21
  • Abraji

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Cresce número de jornalistas assassinados em países que não estão em guerra

A organização internacional Repórteres sem Fronteiras divulgou, nesta terça-feira (29.dez.2020), a segunda parte do documento que aponta os abusos cometidos contra os jornalistas em todo o mundo. Em 2020, 50 jornalistas foram mortos  - 68% deles em países que não estão em guerra. Nos últimos dez anos, o registro é alarmante: 937 profissionais de imprensa assassinados. 

O monitoramento da RSF analisou o período de 1º de janeiro a 15 de dezembro de 2020. O México registrou o maior número de crimes contra profissionais de imprensa, com oito mortos, à frente da Índia, Paquistão, Filipinas (quatro cada) e Honduras (três).  

O perigoso exercício da profissão de jornalista no México levou a criação do mais recente consórcio internacional de jornalismo investigativo: 60 repórteres de 18 países se debruçaram sobre colegas mexicanos assassinados pelo narcotráfico para continuar a apuração que os mortos não conseguiram concluir. Hoje, diante da repercussão negativa dos números da RSF, especialistas e entidades de jornalismo cobraram responsabilidade das autoridades mexicanas.

“De todos os jornalistas mortos em 2020, 84% foram deliberadamente visados e eliminados, comparado a 63% em 2019. Alguns foram assassinados em condições particularmente bárbaras”, esclarece o texto de divulgação da RSF.

O Balanço Anual da RSF ressalta que o número total de assassinatos diminuiu discretamente quando comparado ao ano passado (53). Mas a organização destaca o aumento dos crimes em nações que estão em situação oficial de paz.

“Em 2016, 58% das mortes se deram em zonas de conflito. Hoje, a proporção de jornalistas mortos em áreas dilaceradas pela guerra, como a Síria e o Iêmen, ou em países afetados por conflitos de baixa ou média intensidade, como Afeganistão e  Iraque, é de 32%”, afirma o comunicado.

O Brasil não aparece com casos na lista porque o jornalista brasileiro Léo Veras, diretor do site Porã News, foi executado na cidade paraguaia Pedro Juan Caballero. O crime é acompanhado pelo Programa Tim Lopes, da Abraji. Até sua morte, em fev. 2020, Veras cobria a disputa do narcotráfico na fronteira entre Brasil e Paraguai, e já havia recebido ameaças de morte. Durante as investigações, a Abraji revelou que a pistola que matou o jornalista foi usada em 7 casos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), considerada a maior facção criminosa do Brasil.

A Federação Internacional de Jornalistas também mantém monitoramento de assassinatos. Pelos critérios da FIJ, são 60 assassinados em 2020 - incluindo jornalistas e funcionários de empresas de mídia.

Outras formas de violência e ataques

Na primeira parte do Balanço de Abusos, divulgada em 14.dez.2020, a RSF listou 387 jornalistas detidos por cumprir com a missão de informar, um número historicamente elevado. A detenção de mulheres também gerou um alerta: 42 mulheres jornalistas encerram o ano privadas de sua liberdade, um aumento de 35% em relação ao ano de 2019.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) também anunciou seu próprio balanço anual de prisões arbitrárias. Ao menos 274 profissionais estavam presos em 1º de dezembro ante 250 na mesma data do ano anterior. Foi o maior número desde que a organização internacional começou a coletar dados no início dos anos 1990.

Instituições que monitoram a tentativa de calar a imprensa encerram o ano com outros informes. Nesta segunda-feira, 28.dez.2020, o Instituto Prensa y Sociedad da Venezuela afirmou que, nos últimos seis meses, registrou 141 casos de violação aos direitos de liberdade de imprensa e informação.

O IPYS adota como critério de violação os 12 indicadores definidos pelo projeto regional Voces del Sur, composto por Abraji e outras 12 organizações da sociedade civil. São eles: assassinatos, sequestros, desaparecimentos forçados, prisões arbitrárias, tortura, agressões, discurso estigmatizantes, acesso à informação, ações judiciais contra os meios de comunicação, uso abusivo do poder estatal, marco jurídico contrário às normas, restrições na internet.

Os números levantados pela Abraji  sobre o Brasil mostram que, em 2020, os casos de ataques a jornalistas quase triplicaram em relação a 2019: passaram de 130 para 362 até 23 de dezembro.
 

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