CPJ escolhe 4 mulheres para o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa 2024
  • 25.11
  • 2024
  • 23:00
  • Ramylle Freitas e Tatiana Farah

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CPJ escolhe 4 mulheres para o Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa 2024

Em um ano desafiador para o jornalismo e enfrentando complexidades para realizar reportagens em suas comunidades em um contexto de guerra, prisões e repressão governamental, as jornalistas Shrouq Al Aila, Quimy de León, Samira Sabou e Alsu Kurmasheva são as homenageadas de 2024 na 34ª edição do International Press Freedom Awards (IPFA - Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa, em português), do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ). Para Cristina Zahar, coordenadora para América Latina do CPJ, as quatro jornalistas de Gaza, Guatemala, Níger e Rússia representam o melhor do jornalismo, pois mostram os impactos da guerra, da corrupção e do abuso de poder em seus países.

Os prêmios foram entregues no dia 21 de novembro, em Nova York. Quimy de León, da Guatemala, Samira Sabou, do Níger, e Alsu Kurmasheva, da Rússia, participaram do evento, mas a jornalista Shrouq Al Aila não teve permissão para deixar Gaza e viajar aos Estados Unidos. De acordo com Zahar, as vencedoras do IPFA simbolizam o trabalho vital realizado por repórteres de todo o mundo para relatar fatos que os poderosos em geral desejam esconder.

“Eventos como esse servem para chamar a atenção sobre os riscos que jornalistas correm diariamente e destacar que a liberdade de imprensa é um direito de todos os cidadãos e cidadãs. O CPJ tem um lema do qual gosto muito: a liberdade de imprensa é a sua liberdade. Sem ela, os demais direitos estão sob risco”, pontuou.

O CPJ também homenageou postumamente Christophe Deloire com o Prêmio Gwen Ifill de Liberdade de Imprensa de 2024. Deloire foi diretor-geral da Repórteres Sem Fronteiras (RSF) por 12 anos até sua morte prematura, em junho deste ano. O prêmio é apresentado anualmente pelo conselho de diretores do CPJ em reconhecimento ao comprometimento de um indivíduo com a liberdade de imprensa.

“Conceder a ele o Prêmio Gwen Ifill de Liberdade de Imprensa de 2024, dado anualmente pelo conselho consultivo do CPJ, é um reconhecimento ao compromisso de Deloire com a liberdade de imprensa”, declarou Zahar.

Histórias de coragem

A jornalista palestina Shrouq Al Aila reporta sobre os horrores da guerra em Gaza pela produtora independente Ain Media. Ela comanda a produtora desde que seu marido, Roshdi Sarraj, cofundador da agência, foi morto por um míssil israelense, enquanto eles tomam café da manhã juntos, em outubro de 2023. Neste vídeo, em inglês, a história da jornalista em um minidoc apresentado pelo CPJ, uma vez que ela não pode deixar a Palestina para receber o prêmio. 

Quimy de León, da Guatemala, é dentista e jornalista há mais de 20 anos. Escreve sobre saúde, questões indígenas, politica e gênero. É diretora da Prensa Comunitaria e fundadora da revista digital feminista Ruda. A plataforma Prensa Comunitaria tem sido uma voz quase solitária na denúncia sobre os impactos ambientais na Guatemala. Por seu trabalho corajoso, de León sofre assédio digital e judicial em seu país. Aqui, o vídeo produzido pelo CPJ (em inglês) sobre ela.

Usando sua página no Facebook, onde tem mais de 300 mil seguidores, Samira Sabou é uma das mais destacadas jornalistas do Níger. Por suas reportagens sobre política, sofre há anos assédio judicial e perseguição. Mesmo grávida, ela foi presa por autoridades do país. Hoje, preside também a Associação de Blogueiros pelo Ativismo Cidadão, organização que defende liberdade de expressão, jovens e mulheres. Com o golpe de Estado no Níger no ano passado, sua situação se agravou. Ela foi presa por um agente não identificado, levada em um carro sem identificação e acusada de traição. Hoje está em liberdade e continua reportando sobre os desmandos no país em textos no Facebook. O vídeo do CPJ sobre sua história pode ser conferido neste link, em inglês e francês, com legendas em inglês.

Alsu Kurmasheva tem dupla cidadania (norte-americana e russa) e vive na Rússia, de onde reporta sobre a guerra do país com a Ucrânia como editora do serviço Tatar-Bashkir da Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade (RFE/RL), financiada pelo Congresso dos EUA. Ela foi presa na Rússia em 2023 sob acusação de ser uma agente estrangeira e, em julho, foi condenada a mais de seis anos de prisão e três anos de banimento do jornalismo sob a falsa acusação de espalhar "fake news" sobre o exército russo. Ela passou nove meses na prisão e foi libertada no final de agosto. "Eu era inocente e o mundo todo sabia disso", diz a jornalista no vídeo produzido pelo CPJ para o prêmio. Em inglês, o vídeo pode ser acessado neste link.

Sobre o CPJ

Segundo a jornalista Cristina Zahar, o CPJ trabalha com três pilares: documentação, incidência e ajuda emergencial. Partindo desses pontos, cada programa ao redor do mundo é responsável por documentar as violações à liberdade de imprensa em sua região. 

“Fazemos isso monitorando os casos de violência por meio da imprensa, da internet e de redes de parceiros locais. O trabalho de incidência vem em seguida e pode envolver desde comunicados e informes conjuntos à atuação junto a organizações e mecanismos internacionais. A ajuda emergencial, como o nome diz, pode correr em paralelo e se destina a jornalistas que correm risco de vida ou ameaça grave e precisam se deslocar internamente ou deixar seus países”, explicou Zahar.

CPJ e Abraji são organizações parceiras na Coalizão em Defesa do Jornalismo (CDJor), que reúne também: Artigo 19, Associação de Jornalismo Digital (Ajor), Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social, Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Instituto Tornavoz, Instituto Palavra Aberta, Instituto Vladimir Herzog, Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação) e Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

*Na foto: John Oliver, que apresentou o evento, Perrine Doubas, viúva do homenageado Christophe Deloire, as premiadas Quimy de León, Samira Sabou e Alsu Kurmasheva, a CEO e o presidente do CPJ, Jodie Ginsberg e Jacob Weisberg. Crédito: Dia Dipasupil/Getty Images

Assinatura Abraji