Congresso online trata do poder do jornalismo local na cobertura das eleições

O que é jornalismo local e qual a sua importância, principalmente no período das eleições municipais? Nesta palestra, gravada especialmente para o 19º Congresso da Abraji, a jornalista Marta Alencar, fundadora da agência de checagem COAR Notícias, fala sobre o papel fundamental do jornalismo local no combate à desinformação e no fortalecimento da democracia, além de trazer dados importantes sobre o assunto. 

Marta inicia a palestra contextualizando, de acordo com os estudos da jornalista Penelope Abernathy, o que são os desertos de notícias, também chamados de desertos informativos. “A autora define deserto de notícia como uma comunidade que padece de cobertura dos seus acontecimentos locais. E muitas vezes a notícia que circula naquele espaço tem uma certa limitação de informações ou são informações sem credibilidade”, explicou.

Segundo a jornalista, a região Nordeste tem o maior número desses desertos, conforme a edição de 2023 do Atlas da Notícia, um projeto do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo) que mapeia veículos de jornalismo, sobretudo os locais. “Apesar de ser o maior deserto, existe um número considerável na região: 2.786 veículos cadastrados segundo levantamentos do Atlas da Notícia, desse total: 207 emissoras, 1.344 veículos online (blogs e sites), 226 impressos e 1.115 rádios. Mas, ao mesmo tempo, há um volume considerável em relação aos desertos informativos na região”, relatou.

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Marta explica que esses dados são necessários para compreender a configuração do jornalismo local no Brasil, em especial as regiões Norte e Nordeste. “Por exemplo, o aumento de nativos digitais como blogs, sites, rádios e podcasts. Mas também observar que o Norte e o Nordeste continuam sendo as regiões que mais padecem com a falta de cobertura local, o nordeste em primeiro lugar e o norte em segundo”, falou. 

Jornalismo local e de proximidade

De acordo com a jornalista, o conceito de jornalismo local não é apenas uma questão de escala geográfica. É, também, compreender que muitas vezes o veículo pode não residir em um determinado local, mas, ainda assim, cobrir aquela localidade, pois a internet permite isso. Para Marta, o jornalismo local está ligado aos interesses da comunidade que ele quer alcançar.

“Por isso eu trouxe essa definição de jornalismo local =  jornalismo de proximidade, porque o termo 'proximidade' traz à tona alguns estudos das próprias teorias do jornalismo que a gente já debate nos primeiros anos de jornalismo, que é a questão do valor notícia [...] em que a proximidade define também como é feita a notícia”, pontuou.

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A jornalista também cita a reflexão do cientista político Rasmus Kleis Nielsen, que destaca que os veículos de comunicação local representam não só a questão da identidade das pessoas que atuam ou residem em uma determinada comunidade, mas também traz a ideia de pertencimento, ou seja, as pessoas se identificam com o meio local e se sentem mais próximas. “Não é só uma questão de proximidade geográfica, é uma questão de proximidade cultural também”, disse.

A importância do jornalismo local nas eleições

Durante a palestra, Marta fala sobre a ausência de cobertura local contribuir para que a desinformação circule mais rápido, contribuindo para que haja um aumento da corrupção nesses locais. Além disso, ela reitera a importância de compreender a relevância das redes sociais digitais na questão da aproximação em relação à audiência, mas alerta que as redes sociais digitais também são um terreno fértil para a desinformação, principalmente no cenário eleitoral. 

Outro desafio apontado pela jornalista para quem vai cobrir um determinado local é combater a desinformação, visto que as fake news circulam muito rápido nas redes sociais. “O jornalismo local tem um compromisso com a sociedade, fiscalizar o poder público em uma determinada região. Mas muitas vezes ele enfrenta a influência política e o desafio de dizer ao público que, de certa maneira, aquele jornalismo é confiável”, alertou.

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Patrocinadores 

O 19º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo é uma realização da Abraji e do curso de Jornalismo da ESPM.

Patrocinaram o 19º Congresso: Google News Initiative, Luminate, Grupo Globo, JSK Journalism Fellowships, Albert Einstein - Sociedade Beneficente Israelita Brasileira, Agence Française de Développement (AFD), Transparência Internacional - Brasil, SBT News, Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, Jusbrasil, International Center for Journalists (ICFJ), Atricon, Abert, Basília Rodrigues Comunicação, Alma Preta, Folha de S. Paulo, Abracom, Fundação Lemann, Natura, Alright, YouTube, Revista Cenarium, JB Litoral, RConsortium, Fogo Cruzado, Fundo Brasil, Poder 360, Internews, Serrapilheira, Artigo19, Report for the World, Meio e UOL.

Foram parceiros institucionais do evento: Aberj, Galápagos Newsmaking, Jeduca, Portal Imprensa, Agência Mural, Vida de Jornalista, Núcleo, DiversaCom, Knight Center, ANJ, Pacto pela Democracia, Fórum De Direito de Acesso a Informações Públicas, Inova.aê, Oboré e Textual Comunicação.