Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji  reúne 1.200 pessoas em SP
  • 04.07
  • 2019
  • 07:00
  • Natália Silva

Formação

Liberdade de expressão

Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji reúne 1.200 pessoas em SP

O 14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), reuniu ao longo de três dias, de 27 a 29 de junho, em São Paulo, 1.200 pessoas — entre participantes, palestrantes, membros da equipe de cobertura e organização — para debater os rumos do jornalismo no Brasil e no mundo. Mais uma vez, o maior encontro de jornalistas do país foi realizado no campus da Universidade Anhembi Morumbi localizado na Vila Olímpia.

O público registrado nesta edição foi o segundo maior da história. O recorde pertence ao evento realizado em 2013, no Rio de Janeiro, em conjunto com a Conferência Global de Jornalismo Investigativo (GIJC, na sigla em inglês) e a Conferência Latino-americana de Jornalismo Investigativo (Colpin, na sigla em espanhol).Durante o evento de 2019, foram realizados 91 painéis e oficinas, ministrados por 187 palestrantes — sendo 15 deles estrangeiros — e 55 moderadores.

A grande novidade deste ano foi o Domingo de Dados, que aconteceu em 30.jun.2019, no Insper, também em São Paulo, e contou com a presença de 190 participantes em 22 oficinas sobre programação, acesso à informação e investigações baseadas em dados.

Entrevista ao vivo, homenagem e Vaza-Jato

O primeiro grande painel do Congresso da Abraji foi a entrevista ao vivo do general da reserva Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, feita por Julia Duailibi, comentarista de política e economia da GloboNews, e por Daniel Bramatti, presidente da Abraji e editor do Estadão Dados e do Estadão Verifica. O vídeo completo está disponível aqui.

A homenageada do 14º Congresso da Abraji foi a jornalista Miriam Leitão. Com 47 anos de carreira, Miriam se junta a outros grandes nomes do jornalismo brasileiro que receberam a homenagem em edições anteriores, como José Hamilton Ribeiro, Joel Silveira, Paulo Totti e Lúcio Flávio Pinto, Rosental Calmon Alves, Zuenir Ventura, Janio de Freitas, Tim Lopes, Marcos Sá Correa, Clóvis Rossi, Elio Gaspari, Santiago Andrade, Dorrit Harazim, Elvira Lobato e Carlos Wagner.

Durante a sessão de homenagem, realizada em 27.jun.2019, com a presença de familiares e amigos da jornalista, foi exibido um documentário sobre a vida e a carreira de Miriam, disponível aqui. Diante do auditório lotado, a jornalista recebeu com emoção o reconhecimento: “O meu coração bate pelo jornalismo de todas as formas.”

O auditório com capacidade para 410 pessoas ficou lotado novamente durante a palestra “Vaza Jato: jornalismo de impacto e colaborativo”. Leandro Demori, editor executivo do The Intercept Brasil — veículo responsável pelas primeiras reportagens sobre os vazamentos de mensagens atribuídas a procuradores da Lava Jato e ao ex-juiz e agora ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro — respondeu a perguntas do moderador Fernando Rodrigues, diretor de redação do Poder360 e da plateia, ao lado de André Shalders, repórter da BBC Brasil especializado em política e justiça.

Lançamentos, desinformação e algoritmo

Dois projetos importantes para o jornalismo foram divulgados no Congresso. A Escola de Dados, em parceria com a Open Knowledge Brasil, a Abraji e organização francesa HEI-DA, anunciou a primeira edição do Prêmio Claudio Weber Abramo de Jornalismo de Dados, que busca incentivar a excelência no uso de dados por jornalistas.

Além disso, foi feito o lançamento da segunda edição do Projeto Comprova. A coalizão de veículos de mídia — que trabalhou em 2018 para verificar conteúdos falsos durante a eleição presidencial brasileira — voltará a atuar no segundo semestre de 2019, agora com um papel mais educativo e focado em combater a desinformação sobre políticas públicas na internet. Claire Wardle, diretora executiva do First Draft — organização que pesquisa e combate a desinformação — e responsável por reunir a primeira coalizão do Comprova, avaliou os resultados alcançados pelo projeto em 2018. Em 12 semanas de trabalho, o Comprova realizou 147 apurações. Apenas 8% das informações verificadas eram verdadeiras.

O impacto das notícias falsas também foi tema da palestra “Operação Infektion: vídeos do New York Times desvendam o uso político das notícias falsas”, feita por Adam Ellick, diretor e produtor executivo de vídeos para a editoria de Opinião do New York Times. O projeto Repórter do Futuro, responsável pela cobertura oficial do Congresso, fez um resumo do painel e entrevistou o jornalista.

O jornalismo investigativo de Ken Bensinger, que lhe rendeu uma indicação ao Prêmio Pulitzer em 2010, atraiu congressistas interessados em saber mais sobre reportagens envolvendo “gente grande". Na palestra, Bensinger — que trabalha no BuzzFeed News — falou sobre a apuração do envolvimento de Donald Trump com a Rússia nas eleições de 2016, o escândalo do Fifagate e o livro que lançou recentemente sobre casos de corrupção no mundo do futebol, chamado “Red Card” (Cartão Vermelho, em tradução livre), ainda sem publicação no Brasil.

A jornalista independente Mago Torres veio do México para o evento e compartilhou seus conhecimentos sobre grandes investigações no painel “O país das 2 mil covas: uma investigação sobre enterros clandestinos no México”. Mago tem longa experiência no jornalismo: foi colaboradora dos Panama Papers e uma das fundadoras da Periodistas de a Pie, organização focada em melhorar a qualidade do jornalismo no México. Em outro painel, ao lado de Guilherme Amado, vice-presidente da Abraji, ela falou sobre a importância do jornalismo colaborativo.

Na palestra “Investigações sobre tecnologia e algoritmos enviesados: como ir além do jornalismo de gadgets”, o editor-adjunto Gabriel Dance e o colaborador Diego Salazar, ambos do NYT, dividiram a mesa com Tatiana Dias, repórter do The Intercept Brasil, e Sérgio Spagnuolo, editor da agência de jornalismo de dados Volt Data Lab e diretor da Abraji, para debater como a cobertura do impacto da tecnologia na sociedade pode ganhar mais profundidade.

O último painel do 14º Congresso da Abraji reuniu as jornalistas Marzena Suchan, da Polônia e Luz Mely Reyes, da Venezuela, que falaram sobre as dificuldades enfrentadas por comunicadores em países com governos autoritários. A mediação foi feita pelo diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, Rosental Calmon Alves. A cobertura completa está disponível aqui.


A realização do 14º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo contou com o patrocínio de tradicionais parceiros de projetos da Abraji, como Google News Initiative e Facebook Journalism Project, e de empresas como Grupo Globo, Itaú, UOL, Twitter, Poder 360, Aos Fatos, Crusoé, Estadão e Folha, além do apoio de mídia de CBN, Grupo RBS, Correio e SBT. A lista completa dos apoiadores pode ser consultada em congresso.abraji.org.br.

Assinatura Abraji