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Como repórteres podem estimar o número de pessoas em uma multidão

Por Jessica Weiss. Publicado em 24 de julho de 2013 no IJNet (inglês). Tradução livre.

Protesto em São Paulo em 20/06/2013Quando os egípcios tomaram as ruas do Cairo para protestar contra o governo Mohammed Morsi recentemente, alguns veículos afirmaram ser a maior manifestação da história. Estimou-se o número de manifestantes em 30 milhões. Outras organizações de mídia disseram ser 14 milhões. Não há dúvida de que o protesto foi enorme, mas em que medida?

Relatar o tamanho de uma multidão é um desafio que jornalistas de todo o mundo enfrentam ao fazer reportagens sobre eventos, sejam manifestações ou shows. A contagem fica ainda mais difícil quando se trata de eventos políticos, já que lados opostos usam estimativas de participantes como instrumentos de relações públicas.

"É muito raro ter dados sobre o tamanho de uma multidão sem que haja alguma tendência de exagerar para mais ou para menos", disse a matemática Hannah Fry em entrevista à BBC.

Fazer uma "contagem por cabeça em um protesto ou marcha é humanamente impossível", afirmam Ray Watson e Paul Yip, em um artigo sobre estimativa de público bastante usado como referência.

Embora não haja uma fórmula perfeita, há várias maneiras de estimar e contar a quantidade de pessoas reunidas em uma multidão. Os especialistas sugerem algumas:

Comece respondendo a algumas perguntas básicas

Dependendo do evento, você já tem bastante informação disponível ao seu alcance. O público de eventos como os esportivos ou shows é fácil de contar, já que a entrada é controlada. As pessoas são contadas conforme passam pelos portões ou catracas.

"Descubra a capacidade máxima do espaço e qual é a área útil dele", disse o professor Clark McPhail à NPR. Então, pergunte a si mesmo: que proporção do espaço está ocupada? 100%, 75%, 50%?

Use a fórmula de Jacobs para medir multidões

Atribui-se a Herbert Jacobs, professor de jornalismo do campus Berkeley da Universidade da Califórnia nos anos 1960, a modernização da estimativa de pessoas em multidões. 

Da janela do escritório, Jacobs viu estudantes reunidos em uma praça protestando contra a Guerra do Vietnã. A praça era organizada em forma de grade, então Jacobs contou os estudantes dentro dos pequenos quadrados para obter uma média dos estudantes por quadrado. Multiplicou então esse número pelo total de quadrados que compunham a praça. 

Ele criou uma regra básica de densidade, segundo a qual uma "multidão pouco densa" tem uma pessoa por metro quadrado, e uma "multidão densa" tem de duas a três pessoas por metro quadrado. Uma multidão ainda mais densa, na qual se poderia até fazer um "mosh", como Watson e Yip chamam, teria cinco pessoas por metro quadrado.

Use fotografias

Baseie-se em imagens aéreas ou de satélite, se disponíveis, das multidões. Então desenhe uma área quadriculada (grade) e aplique o método de Jacobs, como descrito acima. Fotos em alta resolução podem permitir até mesmo a contagem por cabeça. E dependendo do software de edição de imagens que você usa, poderá virar a foto para se encaixar em uma grade para contar e estimar melhor.

O problema de usar imagens é que a área ocupada por uma multidão é geralmente irregular, e partes dela ficarão de fora da foto, escondida sob árvores, prédios ou áreas escuras.

Compare e analise estimativas de fontes variadas

Polícia, empresas de segurança privada e organizadores fornecerão números diferentes de um mesmo evento. Um pouco de matemática pode te ajudar a decidir qual das estimativas é mais precisa. Por exemplo: em junho, depois de uma vigília em Hong Kong para marcar o 22º aniversário do colapso do movimento pró-democracia em Beijing, Reuters, BBC e outras grandes agências de notícias usaram a estimativa dos organizadores: 150 mil pessoas. A polícia, por sua vez, estimou em 77 mil.

Watson e Yip calcularam a densidade média em pouco menos de duas pessoas por metro quadrado, o corresponente a uma multidão densa. Eles sabiam que a área do evento era de cerca de 42 mil metros quadrados. Para que houvesse cerca de 150 mil pessoas, seria necessário que toda a área estivesse ocupada por pessoas a uma densidade "ideal para mosh", o que eles sabiam que não aconteceu. Com base nestes fatos, eles estimaram que o público era mais próximo ao informado pela polícia.

Ao contar uma passeata, use o método de um ou dois pontos

No método de um ponto, deve-se ficar posicionado próximo ao ponto focal de uma marcha ou parada contando o número de pessoas que passam por ali em um dado intervalo de tempo.

Outro método, que o Popular Mechanics chama de "mais rápido e mais preciso", foi delineado por Watson e Yip: determine dois pontos de contagem, e posicione-os adequadamente com uma certa distância entre eles. Deve-se contar (simultaneamente nos dois pontos) as pessoas passando e perguntar a indivíduos escolhidos randomicamente se eles passaram (ou pretendem passar) por onde está o outro ponto de contagem para estimar quantas pessoas foram contadas duas vezes.

Apele à tecnologia

A tecnologia de análise de imagem está em melhoria contínua, e fornecerá respostas cada vez mais precisas. Já existe uma boa variedade de métodos, entre matemáticos, com auxílio do computador e ferramentas on-line. 

Curt Westergard, presidente do Digital Design & Image Service, disse ao Popular Mechanics que ele planeja fazer contagens por cabeça coletivamente, enviando imagens aéreas para a Mechanical Turk, uma rede mantida pela Amazon que reúne freelancers para tarefas on-line. Westergard diz que ao enviar a foto a 20 pessoas, terá 20 contagens diferentes a partir das quais estabelecerá uma média.

Assinatura Abraji