Como fake news são criadas e ferramentas simples para identificá-las
  • 11.06
  • 2021
  • 17:35
  • Olga Yurkova *

Formação

Como fake news são criadas e ferramentas simples para identificá-las

Texto originalmente publicado pela Global Investigative Journalism Network (GIJN).

Expor imagens falsas ou manipuladas digitalmente é perfeitamente possível com as ferramentas e técnicas adequadas. 

Neste tutorial da GIJN, seis cenários de fraude são explorados, juntamente com instruções passo a passo sobre como verificar sua veracidade:

  • 1. Manipulação de fotos - fácil de verificar, usando ferramentas como o Google Reverse Search.
  • 2. Manipulação de vídeo - o exame atento do material e a localização do vídeo original estão entre as lições aqui.
  • 3. Fatos distorcidos - fique atento a manchetes enganosas, opiniões apresentadas como fatos, distorções, fatos inventados e detalhes negligenciados.
  • 4. Pseudo-especialistas, falsos especialistas e especialistas com falas distorcidas - Como verificar suas credenciais, qualificações e declarações.
  • 5. Usando a mídia - fique atento a declarações falsas que se referem à mídia tradicional.
  • 6. Manipulando dados - observe a metodologia, as perguntas, os clientes e muito mais.

1. Manipulação de fotos

A manipulação de fotos é a maneira mais fácil de falsificar notícias, mas também a mais simples de expor.

Existem duas técnicas comuns de manipulação de fotos.

A primeira é editar fotos em programas especiais, como o Adobe Photoshop. A segunda é apresentar fotos reais como se tivessem sido tiradas em outro momento ou local. Em ambos os casos, existem ferramentas para detectar manipulações.

Você deve ser capaz de descobrir quando e onde a foto foi tirada e se ela foi alterada em um programa de edição.

1.1 Edição de fotos

Aqui está um exemplo simples de uma foto falsa criada a partir da edição da original no Adobe Photoshop.




Esta é uma captura de tela da página de um dos grupos pró-russos na rede social Vkontakte, uma espécie de Facebook russo. Muito difundida em 2015, a imagem mostra uma criança recém-nascida que supostamente tem uma suástica no braço. A foto traz a legenda: “Choque! Os funcionários de uma maternidade em Dnipropetrovsk souberam que uma mulher que deu à luz era refugiada do Donbass e esposa de um miliciano morto. Eles decidiram fazer um corte em forma de suástica no braço do bebê. Três meses depois, uma cicatriz ainda é visível.”

Mas essa foto é falsa. A original pode ser facilmente encontrada na internet. E o bebê não tem nenhum corte no braço.

A maneira mais simples de verificar uma foto é usando a pesquisa reversa do Google Imagens. Este serviço tem várias funções úteis, como a pesquisa de imagens semelhantes e outros tamanhos da imagem pesquisada. Use o mouse para selecionar a imagem e, em seguida, arraste e solte-a na barra de pesquisa da página do Google Imagens ou apenas copie e cole o endereço da imagem. No menu Ferramentas, você pode escolher as opções "Imagens semelhantes" ou "Mais tamanhos".

Usar a opção “Mais tamanhos” nos leva a um artigo de 2008. Ele pode não exibir a foto original, mas é uma prova de que a foto não poderia ter sido tirada em 2015 e não contém uma suástica.

Vejamos uma foto falsa mais complexa, que mostra um soldado ucraniano beijando uma bandeira americana. A foto foi divulgada antes do Dia da Bandeira Nacional da Ucrânia em 2015 e apareceu pela primeira vez em um site separatista com um artigo intitulado O Dia do Escravo.

A manipulação da imagem pode ser demonstrada em várias etapas.

Primeiro, remova qualquer informação adicional à foto: legendas, títulos, moldura, etc., porque tudo isso pode influenciar os resultados da pesquisa. No caso do exemplo, você pode cortar a palavra “Demotivators” no canto inferior direito da imagem usando uma ferramenta gratuita como a Jetscreenshot.

Em segundo lugar, tente inverter a imagem usando qualquer ferramenta de efeito espelhado como o LunaPic e salve o resultado.

Em seguida, verifique a imagem usando o Google Imagens ou outra ferramenta de pesquisa reversa de imagens. Desta forma, você pode descobrir se a imagem é original ou editada. E você também pode encontrar data, local e contexto reais de sua publicação.

Na verdade, a foto em questão foi tirada em 2010 no Tajiquistão e o soldado beijando a bandeira é um oficial da alfândega tajique. A bandeira ucraniana em sua manga foi adicionada posteriormente usando um programa de edição de fotos e a foto foi invertida horizontalmente usando efeito espelhado.

Às vezes, uma pesquisa no Google não é suficiente para encontrar a fonte de uma imagem. Experimente o TinEye, outra ferramenta de pesquisa reversa.

A principal diferença entre o TinEye e o Google é que o TinEye reconhece cópias idênticas ou editadas de imagens. Dessa forma, você pode encontrar versões recortadas ou montagens da mesma foto. Além disso, os sites onde as fotos são hospedadas também podem fornecer informações adicionais sobre o conteúdo da imagem.

A imagem acima foi retuitada e curtida dezenas de milhares de vezes no Twitter. Mostra um Vladimir Putin muito sério cercado por outros líderes mundiais, todos olhando para ele como se estivessem focados no que ele está dizendo. Ela é falsa.

Você pode encontrar a original usando o TinEye. Coloque o endereço da imagem na barra de pesquisa ou arraste e solte a imagem do seu computador. Você pode usar a opção “Biggest Image” (imagem maior) para encontrar a possível imagem de origem, porque cada edição reduz o tamanho e afeta a qualidade da foto.

Assim, podemos ver que a foto foi tirada de um site turco.

Você também pode usar outras opções da barra de ferramentas como Best Match (melhor correspondência), Newest (mais novo), Oldest (mais antigo) e até Most Changed (mais alterado) para rastrear quais alterações foram feitas na imagem.

Você também pode filtrar os resultados por domínio - por exemplo, Twitter ou outros sites onde a imagem aparece.

Mais um exemplo de falsificações sofisticadas diz respeito a uma imagem criada para zombar o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, supostamente mostrando seu perfil de um ângulo nada vantajoso.

Ela circulou nas redes sociais em out.2017, junto com a alegação de que o presidente estava insatisfeito com a foto e não queria que ela fosse compartilhada na internet. Na verdade, a imagem foi postada originalmente no Facebook em 14.jul.2017, por Vic Berger, um criador de vídeos virais:

Você pode encontrar a fonte usando uma ferramenta de efeito espelhado e, em seguida, o TinEye:

Berger criou a imagem falsa usando uma fotografia que o fotógrafo da Getty Images, Matthew Cavanaugh, tirou em 2011. Berger inverteu horizontalmente a foto original, ampliou a garganta de Trump e coloriu sua pele com um tom mais escuro e mais alaranjado.

Para estudar a foto mais profundamente, você pode usar programas que analisam se ela foi editada. Entre os melhores está o FotoForensics.

Em 12.jan.2015, o noticiário noturno do canal Rossiya 1, Vesti, relatou que o partido político ucraniano Svoboda havia proposto uma nova nota de 1.000 grívnias retratando Hitler.

Era mentira. Aparentemente, a fonte desta foto falsa de notícias usou o Photoshop e postou a imagem no pikabu.ru, onde foi marcada como "humor" e "piada".

O design original da nota representa o escritor ucraniano Panteleimon Kulish.

A análise detalhada com o FotoForensics mostra que a foto com Hitler foi editada. Parte da imagem original foi apagada e então preenchida com a imagem de Hitler e o valor da nota.

FotoForensics é um site que usa “análise de nível de erro” (ELA, na sigla em inglês) para encontrar partes de uma imagem que foram adicionadas a ela por meio de edição. Após processar uma foto, o programa produz a imagem com as partes editadas em destaque.

Além disso, o programa também fornece dados EXIF (também chamados de metadados) para cada foto. Cada arquivo de imagem contém uma gama de informações adicionais, codificadas em um arquivo gráfico.

Entre outras informações, os metadados podem conter:

  • Data e hora da imagem original
  • Dados de geolocalização
  • O modelo da câmera e suas configurações (tempo de exposição, valor de abertura, etc.)
  • Informações sobre direitos autorais

Por exemplo, os investigadores do Bellingcat usaram os metadados para verificar as fotos da internet associadas ao acidente do voo MH17 da companhia aérea Malaysia Airlines. Às 16h20, horário local, em 17 de julho de 2014, o avião foi abatido nos céus do leste da Ucrânia, matando todos os 298 passageiros e membros da tripulação. Quase exatas três horas depois, a seguinte fotografia foi postada no Twitter:

O tweet de @WowihaY descreve como uma testemunha enviou a ele uma fotografia mostrando os vestígios de fumaça causados pelo lançamento de um míssil no sudeste da cidade de Torez, no território ocupado do Leste da Ucrânia. Os metadados da fotografia mostraram que ela foi tirada às 16h25 (cinco minutos após o avião ser atingido), de acordo com o relógio interno da câmera.

No entanto, este método não oferece 100% de garantia de precisão. A maioria dos metadados necessários para autenticação desaparece durante o download na Internet.

No caso acima, por exemplo, os resultados não contém os metadados da foto original porque se trata de uma captura de tela. A mesma situação se aplica quando uma foto é colocada nas redes sociais.

Apesar dessas ressalvas, os metadados geralmente adicionam informações úteis para sua pesquisa.

1.2 Fotos reais, que afirmam ser tiradas em um local ou hora diferente

A manipulação pode ser feita para apresentar fatos de uma forma distorcida. 

Uma foto tirada em Israel em 2014 foi postada recentemente como sendo uma foto tirada no Leste da Ucrânia em 2015.

A farsa foi descoberta pelo jornalista israelense e especialista em Ucrânia Shimon Briman.

Você pode usar qualquer ferramenta de pesquisa reversa para verificar a autenticidade de uma foto, cortando todos os elementos adicionados, como título. A opção “Oldest” (Mais velha) do TinEye é muito útil aqui; há pelo menos dois resultados relacionados a Israel, datados do ano anterior.

Nem sempre é possível encontrar a origem da foto desta maneira. Mas esse resultado pode ser uma pista para se aprofundar mais em pesquisas futuras.

O quinto resultado da pesquisa é uma foto de um jornal israelense de 27.jul.2014, que descreve em detalhes como e quando a foto foi tirada. Uma menina, Shira de Porto, tirou a foto com seu celular durante um ataque com míssil em Beer Sheva. O pai e outro homem usam seus corpos como escudo para proteger o bebê.

Se uma imagem suspeita aparecer nas redes sociais, você pode usar as ferramentas de pesquisa integradas do TinEye.

Por exemplo, durante a visita de Joe Biden, na época vice-presidente dos EUA, a Kiev, uma foto de pessoas ajoelhadas do lado de fora do prédio do Gabinete de Ministros da Ucrânia foi postada em redes sociais e sites pró-Rússia. A legenda dizia que eram residentes de Kiev "apelando a Biden para salvá-los de Yatseniuk", referindo-se ao primeiro-ministro da Ucrânia na época. A foto apareceu pela primeira vez em 6.dez.2015.

Usando o TinEye, o StopFake descobriu que a foto original foi postada no Twitter com a hashtag #Euromaidan em 18.jan.2015. Para descobrir o contexto, você pode usar a ferramenta de busca do Twitter. Escolha “Filtros de busca” e depois “Busca avançada”.

Em seguida, você pode inserir qualquer informação - neste caso, a hashtag e a data, 18.jan.2015.

O primeiro resultado da pesquisa mostrou o tweet original com a foto original. Foi tirada na rua Hrushevsky, em Kiev, em 18.jan.2015, quando milhares de pessoas se reuniram para homenagear as primeiras vítimas dos confrontos ocorridos durante os protestos “Euromaidan” de 2013.

Há uma variedade de ferramentas além do TinEye e do Google Imagens, incluindo Baidu (que funciona melhor para conteúdo chinês), Yandex e ferramentas de busca de metadados como FotoForensics.

Se você vai usar essas ferramentas para verificar fotos com frequência, experimente o ImgOps, que contém as funcionalidades mencionadas acima, e você pode adicionar as suas próprias. Outra ferramenta é o Imageraider.com, similar ao TinEye, mas com alguns recursos diferentes, como a capacidade de analisar várias fotos ao mesmo tempo e excluir alguns sites dos resultados da pesquisa.

Um breve resumo

  • Preste atenção nas imagens com maior resolução e tamanho. A resolução das fotos diminui a cada nova edição, de modo que a foto de maior tamanho ou com melhor resolução é a menos editada. Este é um sinal indireto de que essa foto pode ser a original.
  • Preste atenção na data de publicação. A imagem com a data mais antiga é a mais próxima da original.
  • Releia as legendas das fotos. Duas imagens idênticas podem ter descrições diferentes.
  • Fotos falsas não são apenas cortadas ou editadas, mas também podem ser espelhadas (invertidas horizontalmente).
  • Você pode pesquisar um site, rede social ou domínio específico.



2. Manipulação de vídeos

A manipulação de vídeos ocorre tão frequentemente quanto a manipulação de fotos. No entanto, expor vídeos falsos é muito mais difícil e demorado. Primeiro, assista ao vídeo e procure discrepâncias: colagem de vídeos imprecisa, proporções distorcidas ou momentos estranhos.

Observe os detalhes: sombras, reflexos e a nitidez de diferentes elementos. O país e a cidade onde a filmagem foi feita podem ser identificados por placas de carros, de lojas ou de ruas. Se houver edifícios incomuns na imagem, olhe para eles no modo Street View do Google Maps. Você também pode verificar o clima para aquela hora e local específicos usando os arquivos de sites de previsão do tempo. Se ela indica que choveu o dia todo no local apontado, mas o sol está brilhando no vídeo, pode-se questionar sua veracidade.

Um site útil é o Weather Underground.

As tecnologias a seguir são usadas com mais frequência para criar notícias falsas em formato de vídeo.

2.1 Usando vídeos antigos para ilustrar novos acontecimentos

Muitas fotos e vídeos foram compartilhados nas redes sociais, supostamente mostrando ataques aéreos dos EUA, França e Reino Unido contra três alvos sírios em 14.abr.2018. Por exemplo, este vídeo supostamente mostra um ataque aéreo ao Centro de Pesquisas Jamraya em Damasco .

Se um vídeo estiver incorporado a uma notícia, você pode acessar o tweet original, o vídeo do YouTube ou a postagem no Facebook e ler os comentários. O público online, especialmente no Twitter e no YouTube, é muito ativo e receptivo. Às vezes, você pode encontrar links para a fonte e informações suficientes para refutar uma falsificação.

Ao fazer isso, podemos encontrar o link para o vídeo original do YouTube. A localização estava correta, mas o vídeo foi filmado em jan.2013 durante um ataque semelhante que foi atribuído a Israel.

Você também pode examinar rapidamente a conta a partir da qual um vídeo foi postado. Que informações ela compartilha sobre o usuário? A quais contas em outras plataformas ele está vinculado? Que tipo de informação é compartilhada?

Para encontrar um vídeo original, você pode usar o YouTube DataViewer da Anistia Internacional. Ele permite que você descubra a data e hora exatas do upload e verifique se este vídeo foi postado anteriormente no YouTube.

No DataViewer podemos verificar a hora de upload do vídeo mencionado no caso acima, confirmando que ele foi carregado em jan.2013.

A próxima etapa na verificação de vídeos é a mesma que na verificação de fotos - fazer uma pesquisa reversa de imagens.

Você pode fazer capturas de tela dos trechos importantes do vídeo manualmente e colocá-los em um mecanismo de busca como o Google Imagens ou o TinEye. Você também pode usar ferramentas especiais projetadas para simplificar esse processo. O Youtube DataViewer gera miniaturas de um vídeo no YouTube. Você pode fazer uma pesquisa reversa de imagens com apenas um clique.

Em fev.2018, o Observers do France 24 desmentiu um vídeo que afirmava mostrar esquadrões de caças turcos em uma missão de bombardeio sobre Afrin, na Síria. Este vídeo filmado da cabine de um caça F16 foi postado em várias contas do YouTube em 21.jan.2018.

Eles verificaram com a ajuda do YouTube DataViewer.

A postagem original não tem uma voz narrando em turco, isso foi adicionado posteriormente. Na verdade, o vídeo foi feito durante um show aéreo em Amsterdã.

2.2 Colocando um vídeo - ou parte dele - em outro contexto

Às vezes, você precisa descobrir fatos adicionais sobre um vídeo para provar que ele é falso.

Por exemplo, este, postado no YouTube em 22.ago.2015, foi amplamente distribuído em oito países. O vídeo supostamente mostra migrantes muçulmanos na fronteira entre a Grécia e a Macedônia que supostamente recusaram ajuda alimentar da Cruz Vermelha porque os alimentos não eram halal (permitidos pela religião) ou porque a embalagem estava marcada com uma cruz.

Para saber mais sobre um vídeo, você pode usar uma poderosa ferramenta de pesquisa reversa - InVid. Ele pode ajudá-lo a verificar vídeos nas redes sociais, como Twitter, Facebook, YouTube, Instagram, Vimeo, Dailymotion, LiveLeak e Dropbox. Baixe o plugin InVid. Copie o link do vídeo. Cole-o na janela “Keyframes” no InVid e clique em “Submit” (Enviar).

Clique nas miniaturas uma por uma para fazer a busca reversa de imagens e explorar os resultados.

Na verdade, os migrantes recusaram os alimentos oferecidos em protesto contra o fechamento de fronteiras e as péssimas condições em que são obrigados a esperar para atravessar a fronteira. Jornalistas italianos escreveram sobre isso para o Il Post depois de entrevistar trabalhadores humanitários no local. O jornalista que filmou este vídeo confirmou isso. Foi inicialmente postado em seu site com a legenda: “Os refugiados recusam comida depois de passar a noite na chuva sem conseguir cruzar a fronteira”.

Mais um exemplo desse tipo de manipulação é uma postagem sobre a chanceler alemã Angela Merkel do Gloria.tv. É um videoclipe de sete segundos em que a chanceler diz apenas uma frase. O título do vídeo é: “Angela Merkel: os alemães têm que aceitar a violência dos estrangeiros”.

Mas, na realidade, a frase foi tirada do contexto e a manchete inverte o significado da declaração original, conforme descobriu uma análise do BuzzFeed News. Aqui está sua declaração completa:

O que se pretende aqui é garantir a segurança local e, ao mesmo tempo, erradicar as causas da violência na sociedade. Isso se aplica
a todas as partes da sociedade, mas temos que admitir que o número de crimes é particularmente alto entre os jovens imigrantes. Portanto, o tema da integração está vinculado à questão da prevenção da violência em todas as camadas de nossa sociedade.

O vídeo se mostrou como sendo de um discurso de 2011, escreveu o site alemão de checagem de fatos Mimikama.

A melhor maneira de encontrar a origem destes vídeos é usar mecanismos de busca como o Google.

2.3 Criando um vídeo completamente falso

Criar vídeos totalmente falsos requer muito tempo e dinheiro. Mas é um método muito usado para criar propaganda russa.

Um exemplo é a suposta “prova” de que militantes do Estado Islâmico serviram no regimento de Operações Especiais ucraniano “Azov”. Isso foi anunciado como sendo uma descoberta de um grupo de hackers pró-Rússia chamado “CyberBercut”.

Os hackers do CyberBercut alegaram que conseguiram acesso ao smartphone de um combatente “Azov” e encontraram evidências. Eles não mencionaram a localização da filmagem, nem as técnicas empregadas no hackeamento. A BBC encontrou o local usando o serviço geográfico do Wikimapia.

Você também pode usar outros serviços de mapeamento, como o Google Maps, para comparar a localização aparente do vídeo e a real. Ou usar o serviço Google Street View quando possível. Neste caso, o vídeo foi filmado no Isolyatsia Art Center, no território ocupado do leste da Ucrânia.

Às vezes, essas falsificações são toscas, por isso são fáceis de expor. Basta estar atento. Por exemplo, a mídia russa espalhou a notícia de que combatentes do “setor direito” estavam ministrando “aulas de russofobia” nas escolas da cidade de Kramatorsk, na região de Donetsk, no leste da Ucrânia.

O vídeo foi distribuído nas redes sociais e no YouTube e depois divulgado pela mídia tradicional russa. Um dos alunos supostamente filmou essas aulas com uma câmera de celular. Um homem com uniforme militar britânico e uma arma na mão força as crianças a lerem em voz alta o artigo “O que é russofobia?” Essas aulas, diz ele, serão ministradas em todas as instituições de ensino no território libertado dos russos.

Usuários de redes sociais notaram que os alunos parecem mais velhos do que crianças em idade escolar. O personagem principal do vídeo está vestido com uma jaqueta militar estilo Condor com uma faixa escrita “Thor mit uns”. Essa faixa, assim como as roupas nos vídeos, podem ser compradas em qualquer loja online.

Na verdade, esse vídeo foi uma provocação, feita por um ativista de Kramatorsk, para testar se a mídia russa o publicaria sem verificar sua autenticidade. O autor do vídeo, Anton Kistol, forneceu à StopFake versões preliminares, bem como fotos das filmagens do vídeo.



3. Manipulando as notícias

3.1 Publicando uma notícia verdadeira com um título falso

Muitas pessoas postam artigos nas redes sociais depois de ler o título, mas sem ler o texto inteiro. Colocar um título enganoso em notícias reais é uma das técnicas mais comuns de fake news.

Tirar citações fora do contexto é outro truque comum.

Por exemplo, em dez.2016, a mídia russa declarou que o Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia acusou a União Europeia de traição. A agência de notícias oficial da Rússia, RIA Novosti, e os sites Vesti e Ukraina.ru, apresentaram reportagens afirmando que a Ucrânia suspeitava de conspiração e até de traição da UE.

Eles citaram uma entrevista com Olena Zerkal, vice-ministra das Relações Exteriores da Ucrânia para a Integração Europeia, no Financial Times:

Isso está testando a credibilidade da União Europeia... Não estou sendo muito diplomática agora. Parece uma espécie de traição... especialmente tendo em conta o preço que pagamos pelas nossas aspirações europeias. Nenhum dos países membros da União Europeia pagou esse preço.

Naquela época, embora a isenção de visto para ucranianos tivesse, em princípio, sido acordada com a UE, ainda não havia começado oficialmente. Zerkal expressou frustração com o longo processo, apesar de a Ucrânia ter cumprido todas as condições. Ela não estava exatamente acusando a UE de traição.

Outro exemplo é do blog Free Speech Time. Ele publicou um artigo, já excluído, em 6 de maio de 2018, intitulado: “Veja: Prefeito Muçulmano de Londres Encoraja Muçulmanos a Fazerem Manifestações Durante a Visita de Trump ao Reino Unido”. O artigo começava assim:

O prefeito muçulmano de Londres incitou o ódio islâmico contra o presidente Trump. Ele aproveitou todas as oportunidades para atacar o presidente dos EUA por ousar criticar o Islã e proibir terroristas de entrar na América. Agora ele avisa Trump para não vir ao Reino Unido porque os muçulmanos “pacíficos” que representam a “religião da paz” terão que se revoltar, se manifestar e protestar durante sua visita ao Reino Unido.

O próprio Sadiq Khan incitou o ódio contra o presidente dos EUA entre os muçulmanos britânicos. Que vergonha para o prefeito muçulmano de Londres.

A postagem incluía este vídeo como prova. No entanto, o artigo não fornecia evidências para a afirmação feita no título. O trecho do vídeo simplesmente mostrava o prefeito Khan, durante uma entrevista, afirmando: “Acho que haverá protestos, falo com os londrinos diariamente e acho que eles usarão os direitos de que dispõem para expressar sua liberdade de expressão”.

Quando Khan foi questionado diretamente pelo entrevistador se ele “endossava” tais protestos, ele respondeu dizendo: “O principal é isto - eles devem ser pacíficos, devem ser legais”. Ele não mencionou as palavras "muçulmano", "muçulmanos" ou "Islã" nenhuma vez durante o clipe, como escreve Maarten Schenk no Lead Stories.

Se precisar verificar uma citação, você pode encontrar uma fonte usando a Pesquisa Avançada do Google. Você pode definir os parâmetros de data e o site que está procurando. Às vezes, a informação inicial é excluída da fonte primária, mas disseminada por meio de outras fontes. Você pode localizar o material excluído usando uma pesquisa do Google Cache ou navegando no arquivo de origem por data.

3.2 Apresentando uma opinião como um fato

Ao ler um artigo, pergunte-se: isso é um fato ou a opinião de alguém?

Alguns meios de comunicação russos disseram que a Turquia seria expulsa da OTAN em novembro de 2015. O site Ukraina.ru relatou: “A Turquia não deve ser membro da OTAN; deve ser expulsa da Aliança. O anúncio foi feito pelo major-general aposentado do Exército dos EUA e analista militar sênior da Fox News, Paul Vallely. ”

Na verdade, explicou a Stopfake.org, um oficial militar aposentado não pode falar pela OTAN ou por seus membros. Vallely era um crítico da política dos EUA e do então presidente norte-americano, Barack Obama. Obama falou em apoio à Turquia.

3.3 Distorcendo um fato

Uma reportagem do canal de notícias Russia Today contou a história de judeus que fugiram de Kiev devido ao anti-semitismo do novo governo ucraniano, citando o Rabino Mihail Kapustin.

Mas uma pesquisa básica mostrou que ele não era rabino de nenhuma sinagoga de Kiev, mas sim de uma na Crimeia. Depois de pedir a defesa da Ucrânia e da Crimeia das ações da Rússia, ele estava fugindo da Crimeia devido ao novo governo russo, descobriu a Stopfake.org.

3.4. Apresentando informações completamente inventadas como fato

Pesquisas básicas podem expor a falsidade de algumas alegações.

Um exemplo proeminente na Ucrânia diz respeito a um suposto “menino crucificado”. Mas não havia nenhuma evidência para a alegação de 2014 feita por uma mulher no canal de TV oficial do Kremlin, o Channel One, de acordo com Stopfake.org. Ela acabou sendo identificada como a esposa de um militante pró-Rússia.

Muitas reportagens sobre os chamados campos de treinamento do Estado Islâmico na Ucrânia apareceram na mídia em 2017, mas Pesquisas Avançadas do Google não revelaram nenhuma evidência disso, relatou a Stopfake.org.

Os criadores de fake news também tentam manipular citações, ou mesmo inventá-las.

O ex-vice-presidente do Facebook, Jeff Rothschild, supostamente pediu "uma terceira guerra mundial para exterminar 90 por cento da população mundial". Mas a suposta citação, encontrada pela primeira vez no blog Anarchadia, não tinha nenhuma base, de acordo com o site de checagem, Snopes.com.

3.5 Ignorando detalhes importantes que mudam completamente o contexto das informações

Em mar.2017, o Buzzfeed publicou uma matéria afirmando que o primeiro-ministro ucraniano, Volodymyr Groysman, havia concordado que a Ucrânia ajudaria a Turquia com os refugiados da Síria.

Citando um relatório da agência de notícias estatal Ukrinform, o colaborador do Buzzfeed Blake Adams escreveu que a Ucrânia estabeleceria três centros de refugiados, atribuindo isso ao diretor do Instituto de Pesquisa do Oriente Médio, Igor Semyvolos. Mas Semyvolos não disse nada sobre refugiados ou centros de refugiados, como ele apontou em uma postagem no Facebook.

O Buzzfeed também incluiu um link para uma postagem no Facebook de Yuriy Koval, que por sua vez, incluiu um link para um blog chamado Vse Novosti e alguém chamado Mykola Dobryniuk, ambos alegando que a Ucrânia concordou em receber refugiados sírios da Turquia. Curiosamente, nem Koval nem Dobryniuk têm outras publicações na internet.

Depois que o StopFake desmascarou essa falsa história, o Buzzfeed a retirou de seu site.

 



4. Manipulação de avaliações de especialistas

Outro método de falsificação é usar especialistas falsos ou distorcer a palavra de especialistas reais.

4.1. Pseudo especialistas e organizações

Os verdadeiros especialistas costumam ser bem conhecidos na comunidade profissional e zelam por sua reputação. Os pseudo-especialistas, por outro lado, muitas vezes aparecem uma única vez e depois desaparecem. Para verificar a legitimidade de um especialista, vale a pena consultar sua biografia, páginas de redes sociais, sites, artigos, citações na mídia e comentários de colegas sobre seu trabalho.

Em 30.set.2014, o jornal Vechernyaya Moskva publicou uma entrevista com o cientista político letão Einars Graudins, que foi apresentado como um “especialista da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE)”. No entanto, esta pessoa não tinha qualquer ligação com a OSCE. Isso foi confirmado pela missão da OSCE na Ucrânia por meio de sua conta oficial no Twitter.

Primeiro, procure por esses especialistas no site da organização em questão. Se não encontrá-los, entre em contato com a organização. A maneira mais fácil de fazer isso é via Twitter ou Facebook. Organizações respeitáveis estão interessadas em impedir a disseminação de notícias falsas sobre elas e seus especialistas.

Alguns pseudo-especialistas aparecem na mídia com frequência. A NTV na Rússia informou sobre a "reação inflamada no Ocidente" causada pela declaração de Vladimir Putin de 3.mar.2018, de que os EUA não eram mais a principal potência militar mundial. Essa opinião foi expressa por Daniel Patrick Welch, apresentado como um analista político americano.

Mas uma pesquisa no Google feita pelo The Insider descobriu que Welch se descreve como “escritor, cantor, tradutor, poeta, cantor e ativista”. Ocasionalmente, ele publicou artigos sobre política em sites pouco conhecidos, nos quais criticava a política dos Estados Unidos como militarista e expansionista. Welsh simpatiza com os militantes no leste da Ucrânia e chamou as autoridades oficiais da Ucrânia de "grupo controlado por Washington". Na Rússia, as maiores agências de notícias e emissoras de TV o procuram e recebem seus comentários.

O que parecem ser organizações respeitáveis podem ser questionáveis.

Um membro sênior do Atlantic Council, Brian Mefford, desmentiu uma dessas organizações, chamada Center for Global Strategic Monitoring (CGS Monitor). Em seu site, a organização o mencionava erroneamente como seu especialista. Ele procurou, sem sucesso, informações de contato no site, para solicitar que seu nome fosse removido.

O site da CGS Monitor parece ser um site de notícias e opinião impressionante e sério à primeira vista, escreveu Mefford. Mas é fácil descobrir que a organização é falsa. Primeiro, o site republica análises e artigos de opinião de instituições de pesquisa reais e respeitáveis, aparentemente sem permissão. Então, esses materiais de qualidade são misturados com “notícias” de fontes controladas pela Rússia, sem referência a elas. O site até publica alguns artigos falsos sob os nomes de renomados estudiosos.

4.2. Inventando especialistas do zero

Às vezes, pessoas completamente falsas são apresentadas na mídia como especialistas para promover certos pontos de vista políticos específicos ou encorajar o público a certas decisões.

Por exemplo, o “Analista Sênior sobre a Rússia no Pentágono, tenente-coronel David Jewberg” mantinha uma página popular no Facebook e era frequentemente citado na mídia ucraniana e russa como uma fonte interna do Pentágono em tópicos relacionados à Ucrânia e à Rússia. Ele se apresentava como uma pessoa real com o nome legal de “David Jewberg”. Uma série de figuras conhecidas da oposição russa frequentemente citava Jewberg como um analista respeitado e o apresentavam como alguém com quem mantinham contato.

Em sua investigação, o Bellingcat descobriu que Jewberg era uma pessoa fictícia associada a um grupo de pessoas nos Estados Unidos, ligadas ao financista americano Dan K. Rapoport. Um grande número de seus amigos pessoais e contatos profissionais ajudaram a sustentar esse personagem falso. Fotografias de um amigo da faculdade foram usadas para representar Jewberg e vários amigos de Rapoport escreveram sobre o falso analista como se ele fosse uma pessoa real.

Outro exemplo é Drew Cloud, que ocasionalmente é citado como um dos principais “especialistas” em empréstimos estudantis nos Estados Unidos. Acontece que essa pessoa não existe. Ele ofereceu artigos sobre empréstimos estudantis para meios de comunicação e se ofereceu para fazer entrevistas por e-mail. Cloud tem frequentemente aparecido em sites de consultoria financeira como escritor convidado ou como entrevistado. Ele não diz onde cursou a faculdade, mas diz que, ele próprio, fez empréstimos estudantis. Quando as pessoas procuravam Cloud em busca de sua experiência com dívidas estudantis, ele costumava sugerir que refinanciassem seus empréstimos.

Foi necessário um artigo no Chronicle of Higher Education para revelar que Drew Cloud era um personagem fictício criado pelo The Student Loan Report, um site administrado por uma empresa de refinanciamento de empréstimos estudantis.

4.3. Distorcendo declarações de especialistas ou falsificando-as

Frequentemente, os manipuladores distorcem o significado das palavras dos especialistas, principalmente colocando frases fora do contexto.

Em mai.2018, tweets e postagens de blog sobre uma aparição na televisão da educadora sexual Deanne Carson se tornaram virais nas redes sociais. Os usuários protestaram contra o suposto conselho dela. Ela teria dito que os pais deveriam pedir permissão ao bebê antes de trocar a fralda.

Mas isso foi um exagero. Ela disse que os pais podem perguntar aos filhos se suas fraldas podem ser trocadas para ensiná-los que "sua resposta é importante", observando que não é realmente possível para os bebês consentirem na troca de fraldas, de acordo com uma verificação feita pelo Snopes.

Há casos em que as opiniões de verdadeiros especialistas são completamente falsificadas. Para verificá-las, visite o site do grupo ou organização à qual o especialista é afiliado. Analise o foco de sua pesquisa, declarações ou artigos. Eles estão de acordo com as palavras atribuídas ao especialista?

Um excelente exemplo é a história “Vítimas do terror nos EUA exigem justiça” no site CGS Monitor (que já foi retirada do ar). O artigo era um ataque à aliança EUA-Arábia Saudita e teria sido escrito pelo famoso analista do Oriente Médio Bruce Riedel, do Instituto Brookings. Mas quando questionado sobre isso, Riedel confirmou que não escreveu o artigo.

Havia muitas pistas de que o artigo não tinha sido escrito por um falante nativo de inglês, escreveu o Atlantic Council. A colocação inadequada de substantivos e a falta frequente de artigos como “a” e “the” sugeriram fortemente que o artigo foi traduzido para o inglês por um falante nativo de russo.

Estrategicamente, o CGS Monitor publicou novamente alguns artigos que foram realmente escritos por Bruce Riedel. Assim, havia conteúdo real de Riedel o suficiente para que um artigo de opinião falso pudesse passar despercebido e ser visto como real. Embora o uso de tais técnicas de fake news não enganaria um especialista, poderia enganar alguém fazendo pesquisas ou editando a Wikipedia, como neste exemplo.

4.4. Manipulações ao traduzir falas de especialistas

Este método é usado frequentemente ao traduzir do inglês para outros idiomas. Combata isso encontrando o material original e traduzindo-o novamente.

Os países ocidentais, incluindo a Alemanha, impuseram sanções econômicas à Rússia depois que ela anexou a Crimeia em mar.2014.

Mas a transcrição do Kremlin de um discurso de 26.out.2017 do presidente alemão Frank-Walter Steinmeier sobre a Crimeia foi alterada para substituir a palavra "anexação". Na tradução russa, "anexação" tornou-se "reunificação".

Um "erro de interpretação" semelhante ocorreu em 2.jun.2015, quando a agência de notícias russa RIA Novosti publicou um artigo referindo-se a um blog do Financial Times. O artigo da RIA Novosti omitiu referências negativas à Rússia, continha traduções distorcidas e retratou a anexação de maneira favorável, como apontado pelo Stopfake.

 


 


5. Manipulação de conteúdo da mídia tradicional

Nossa tendência de confiar em veículos de boa reputação e tratá-los sem um olhar crítico é usada por propagandistas e manipuladores.

5.1. Uso de postagens de mídia marginal ou blogs

Mensagens suspeitas muitas vezes são espalhadas pela mídia marginal com nomes que soam verdadeiros, afirmando que são provenientes de mídias confiáveis.

Vários meios de comunicação russos, incluindo o jornal econômico Vzglyad, citaram a “mídia ocidental”, ao relatar sobre uma disputa com relação ao repatriamento dos corpos de 13 americanos mortos enquanto lutavam na Ucrânia.

Mas a “mídia ocidental” citada pelo Vzglyad era um jornal online suspeito, The European Union Times, descobriu o StopFake. Os links no artigo redirecionaram para o site WhatDoesItMean.com. A autora desta notícia, Sorcha Faal, era uma personagem fictícia que espalha boatos.

Para combater este tipo de manipulação, vá às fontes citadas e avalie a sua credibilidade.

Em outro caso, a mídia russa citou o que acabou se mostrando como uma postagem anônima em um blog, descobriu Stopfake. Em 16.ago.2015, a russa RIA Novosti postou uma reportagem sobre o acidente da Malaysian Airlines. A fonte era o portal alemão Propagandaschau. O portal publicou um artigo de opinião de alguém chamado “Dok” e um artigo de um ex-conselheiro político da Embaixada do Canadá na Rússia, Patrick Armstrong, que havia sido postado no site pró-russo Russia Insider. RIA Novosti apresentou o comentário de Dok como uma análise de especialista. A mídia russa não fez menção ao artigo de Armstrong, que continha afirmações anteriormente refutadas.

5.2 Distorcendo informações reais de veículos confiáveis

As notícias reportadas por veículos de boa reputação podem ser distorcidas por meios de comunicação especializados em “notícias falsas”.

Por exemplo, uma citação atribuída à congressista da Califórnia, Maxine Waters, sobre o impeachment do ex-presidente Trump foi adicionada digitalmente a uma imagem retirada de uma transmissão da CNN, concluíram Snopes e Politifact.

Na verdade, a citação não era dela e sua imagem foi tirada de uma entrevista que ela deu sobre outro assunto.

5.3. Referências a mensagens inexistentes da mídia tradicional

Sites da Rússia e da Moldávia circularam uma história falsa, originalmente publicada em dez.2017, alegando que uma mina de ouro havia sido descoberta na Crimeia. O site de notícias moldavo GagauzYeri.md relatou em 10.fev.2016 que geólogos russos descobriram a maior mina de ouro do mundo.

A suposta fonte dessa matéria era a Bloomberg, mas o hiperlink não encaminhava para seu site, o primeiro sinal de que a notícia podia ser falsa. Uma pesquisa no site da Bloomberg, assim como no Google, não encontrou tal história, descobriu o Stopfake.

Em outro caso, uma mensagem de WhatsApp divulgando uma pesquisa eleitoral falsa na Índia pareceu mais convincente com a inclusão de um link para a página inicial da BBC, embora a BBC não tenha divulgado a pesquisa, de acordo com uma análise do BOOM.

 



6. Manipulação de dados

Dados de pesquisas sociológicas e indicadores econômicos podem ser manipulados.

6.1 Manipulação de metodologia

As pesquisas de opinião podem ter metodologias fracas.

Por exemplo, no final de mar.2018, a mídia russa relatou que o anti-semitismo havia crescido na Ucrânia, mas que as autoridades ucranianas "estavam cuidadosamente ocultando isso".

O site russo Ukraine.ru citou um relatório de 72 páginas produzido pelo Ministério de Informação e Diáspora de Israel, mostrando que os judeus ucranianos haviam sofrido mais ataques (verbais e físicos) do que os judeus em todas as repúblicas da antiga União Soviética.

Porém, o relatório não foi baseado em um estudo sistemático, nem seus autores analisaram os dados disponíveis coletados por organizações que monitoram a xenofobia na Ucrânia. A julgar pelas fontes citadas, os autores fizeram um cálculo mecânico dos incidentes, independentemente da gravidade ou confiabilidade das informações. Por exemplo, foram contabilizados tanto casos reais de vandalismo quanto insultos verbais durante grandes eventos.

A afirmação mais audaciosa do relatório é que o número de incidentes anti-semitas na Ucrânia dobrou em comparação com o ano anterior. De acordo com organizações de monitoramento, o número de atos de vandalismo motivados pelo anti-semitismo aumentou, mas apenas ligeiramente - de 19 para 24. Isso é indicado pelos números coletados pelo Grupo Nacional de Monitoramento dos Direitos das Minorias, que monitora crimes de ódio na Ucrânia há mais de dez anos. Em 2017, não foram registrados casos de violência anti-semita, e em 2016 houve apenas um, disse o chefe do grupo à Rádio Liberty.

Uma análise cuidadosa do relatório mostrou que aquela não era uma avaliação aprofundada da situação. No entanto, a narrativa do anti-semitismo foi um dos principais componentes da campanha de propaganda anti-ucraniana conduzida pelo Kremlin para justificar atitudes agressivas contra a Ucrânia. Portanto, as teses do relatório sobre a Ucrânia foram prontamente aceitas pela mídia de propaganda russa.

Outra evidência contrária apareceu em uma pesquisa do Pew Research Center, com sede nos EUA, em 18 países da Europa Central e Oriental, que mostrou que a Ucrânia tinha o menor percentual de atitudes anti-semitas na Europa. Na Rússia, diz o documento, esse nível é quase três vezes maior.

O site Ukraine.ru criticou a metodologia do Pew argumentando que perguntar aos entrevistados “Você gostaria de ter judeus como compatriotas?” não era indicativo de amor ou antipatia pelos judeus.

A pesquisa do Pew, “Crença Religiosa e Pertencimento Nacional na Europa Central e Oriental”, contém uma seção de metodologia que explica como o estudo foi conduzido. É importante analisar e compreender a metodologia.

6.2 Interpretação incorreta dos resultados

Um dos atributos da propaganda é a tentativa de fazer algo parecer verdadeiro e autêntico. Portanto, as alegações de propagandistas frequentemente recorrem a resultados de pesquisas distorcidos.

O site russo pró-Kremlin Ukraina.ru publicou uma história sobre a última análise da agência de classificação de risco Fitch Ratings para a Ucrânia, focando apenas nos elementos negativos e ignorando a perspectiva geral estável. Usando apenas a primeira frase do relatório da Fitch, Ukraina.ru afirmou que a Ucrânia tinha a terceira maior economia informal do mundo, depois do Azerbaijão e da Nigéria.

A primeira frase do relatório da Fitch diz: “As classificações da Ucrânia refletem a baixa liquidez externa, alta dívida pública e fraquezas estruturais devido ao fraco setor bancário, restrições institucionais e riscos geopolíticos e políticos".

Esta é a única informação da análise da Fitch que o Ukraina.ru usou, ignorando completamente a frase que vem em seguida: “Esses fatores são contrabalançados por maior confiança e coerência política, um perfil de estado soberano com capacidade de pagar suas dívidas em curto prazo e um histórico de apoio bilateral e multilateral.”

A melhor forma de refutar esse tipo de distorção é encontrar e estudar o relatório completo.

Outra alegação equivocada do Ukraina.ru foi de que a maioria dos ucranianos não tem interesse em viajar com isenção de visto para a UE.

A fonte dessa afirmação falsa é uma pesquisa da Democratic Initiatives Foundation realizada no início de jun.2018.

Uma das perguntas era: “Quão importante é a introdução do regime de isenção de visto com os países da UE para você?” Os resultados mostraram que 10% responderam "muito importante", 29% escolheram "importante", 24% disseram "ligeiramente importante", 34% optaram por "não importante" e quase 4% responderam que era difícil dizer.


Apenas 34% disseram que viajar com isenção de visto para países da UE não era importante.

Mas a mídia russa decidiu combinar “ligeiramente importante” e “não importante”, para produzir a cifra de 58%, e afirmou que a maioria dos ucranianos não estava nem um pouco interessada nesta oportunidade.

No entanto, quando você soma os números que responderam a "muito importante", "importante" e "ligeiramente importante", obtém 63%. Isso indica que 63% dos ucranianos acham que viajar sem visto tem algum nível de importância.

6.3 Comparações inválidas

O Ukraina.ru publicou um artigo afirmando que os preços dos alimentos na Ucrânia cresceram iguais aos da Europa em fev.2018. Essa afirmação é baseada em uma postagem no Facebook do ex-primeiro-ministro ucraniano Mykola Azarov. A afirmação de Azarov, por sua vez,  foi baseada em dados da RIA Novosti, apresentados em um infográfico atraente, mas questionável.

De acordo com o índice de custo de vida do Numbeo, a Ucrânia é o país mais barato da Europa para se viver, junto com Moldávia, Macedônia e Albânia. O site também compara preços de alimentos em várias cidades do mundo, mostrando que os preços ucranianos, em média, ainda têm um longo caminho a percorrer antes de atingir os níveis europeus. Portanto, a comparação de números absolutos sem levar em conta outros indicadores está incorreta, determinou Stopfake.

Tente diferenciar os números e fatos reais das informações falsas. Muitas vezes, esses tipos de distorções incluem alguns números reais, junto com números de fontes suspeitas e falsas.

No Canadá, por exemplo, a informação de que refugiados recebem mais ajuda do governo do que aposentados têm circulado nas redes sociais desde 2015.

Isso não é verdade, de acordo com informações do governo canadense. Alguns refugiados assistidos pelo governo recebem uma pequena quantia mensal em seu primeiro ano no Canadá - cerca de 800 dólares para uma única pessoa - e um subsídio único de cerca de 900 dólares para se instalar. Eles também podem obter um empréstimo de algumas centenas de dólares para aluguel ou outras despesas. Algumas vezes, também há pequenos benefícios únicos para mulheres grávidas, recém-nascidos e crianças pequenas em idade escolar. Mas os refugiados assistidos pelo governo são obrigados a pagar o custo de sua viagem ao Canadá e seu exame médico inicial - com juros.

Os solicitantes de refúgio no Canadá não recebem assistência social até que se tornem residentes permanentes, momento em que são elegíveis para assistência social como qualquer outra pessoa. Refugiados com patrocínio privado não são elegíveis para qualquer tipo de assistência social - eles são de responsabilidade financeira de seus patrocinadores pelo período do patrocínio, que geralmente é de cerca de um ano.

Por outro lado, os canadenses solteiros idosos e que estão na faixa de renda mais baixa recebem pelo menos 1.300 dólares por mês através do programa Suplementação de Renda Garantida e Pensões de Previdência para Idosos, de acordo com o site do governo.

E um estudo de 2004 indica que a grande maioria da renda dos refugiados vem de trabalho, não de assistência social, nos sete anos após sua chegada ao Canadá. Às vezes, eles têm um desempenho melhor do que os migrantes da classe executiva ou da classe familiar.

Mas o mito persiste e versões surgiram nos Estados Unidos, o Snopes descobriu, assim como na Austrália, de acordo com a ABC News. A página mais visitada no site do grupo Canadian Council for Refugees desmascara o mito.

Um breve resumo

Aqui está o que você precisa prestar atenção ao ler as pesquisas de opinião pública e outras pesquisas:

  • A metodologia é descrita?
  • Como as perguntas são formuladas? Às vezes, elas são idealizadas para manipular e sugerir certas respostas.
  • Qual é a amostra pesquisada: por idade, local de residência e outras características? A amostra é estatisticamente válida?
  • Qual é a reputação do pesquisador? Ele é conhecido na comunidade profissional?
  • Quem pagou pela pesquisa? Centros de pesquisa sérios nunca escondem seus clientes quando divulgam os dados.
  • Compare o resultado da pesquisa com outros dados e descobertas. Se eles forem muito diferentes, os resultados devem ser questionados.

Kit de primeiros socorros

Essas dicas classificam e descrevem os métodos mais comuns de manipulação com estatísticas e oferecem maneiras rápidas que todos podem usar para verificar as informações. Este é um “kit de primeiros socorros para verificação de fatos” e também é um ponto de partida para se aprofundar em qualquer uma das direções que foram sugeridas.

Convido todos os leitores a dar feedback e complementar esta informação. Terei prazer em discutir seus comentários por e-mail, Twitter e Facebook.

Para entender mais a fundo como verificar as informações, também convido você a visitar a seção Ferramentas no site StopFake.

Consulte também a página de recursos da GIJN sobre checagem e verificação de fatos.



*Olga Yurkova é cofundadora do projeto ucraniano de checagem de fatos StopFake e cofundadora do Forbidden Facts, um projeto internacional que visa desmascarar notícias falsas e ensinar as pessoas sobre os mecanismos por trás delas. A StopFake cobre fontes em 13 idiomas, conduz pesquisas acadêmicas sobre notícias falsas e oferece treinamento institucional. Desde o lançamento em 2014, a organização verificou dezenas de milhares de artigos, fotos e vídeos e revelou mais de 3.000 casos de fraude.

Tradução: Ana Beatriz Assam.

Assinatura Abraji