- 06.11
- 2018
- 14:44
- Rafael Oliveira
Liberdade de expressão
Com 146 checagens, Projeto Comprova encerra suas atividades na eleição de 2018
Com o fim da campanha eleitoral de 2018, o Projeto Comprova encerrou em 30.out.2018 suas atividades de verificação de conteúdos duvidosos nas redes sociais e WhatsApp. Ao longo de 12 semanas, a coalizão inédita coordenada pela Abraji checou a veracidade das principais informações compartilhadas na internet.
Para o coordenador da iniciativa Sérgio Lüdtke, o Comprova colocou a desinformação em evidência. “Junto com as outras organizações que fizeram checagens, [ajudamos] a trazer a público o problema e alertar as pessoas sobre a desinformação. Ainda que tenhamos conseguido com alguns desmentidos a despublicação de boatos, eu creio que o alerta foi a principal ajuda”, afirma.
Os 24 veículos de comunicação que participaram do projeto checaram ao todo 146 histórias durante os três meses que a iniciativa durou. Desse total, mais de 90% se mostraram falsas, enganosas ou descontextualizadas e apenas 9 eram verdadeiras. O WhatsApp do Comprova recebeu mais de 67 mil mensagens com pedidos de checagem.
A quantidade de mensagens recebidas é apontada por Lüdtke como um dos principais desafios do Comprova. Segundo o coordenador, a equipe do projeto precisava constantemente checar se o conteúdo recebido via WhatsApp também estava viralizando nas redes sociais “mapeáveis”. “[Ao mesmo tempo] o risco era desconsiderar algo importante por estar sendo compartilhado somente no WhatsApp. Com o crescimento das solicitações vindas pelo nosso número, tínhamos amostras significativas que até nos permitiram fazer apostas e verificar conteúdos que somente viralizavam pelo aplicativo de mensagens”, explica.
Para a diretora do First Draft e idealizadora do Comprova Claire Wardle, o projeto excedeu as expectativas. “Receber quase 70 mil mensagens do público foi incrível. Nós recebemos 660 mensagens durante nosso projeto nas eleições da França”, diz. Em 2017, a organização que Wardle dirige realizou uma iniciativa semelhante no pleito presidencial francês, intitulado CrossCheck.
Para a pesquisadora, a grande diferença entre o Comprova e o CrossCheck foi a forma como o WhatsApp foi utilizado no Brasil, tanto pelos jornalistas, quanto pelo público. “A escala de desinformação no Brasil era significativamente maior no Brasil do que na França, então os jornalistas brasileiros tiveram muito mais trabalho para fazer. Nós aprendemos muitas coisas no Comprova que agora podemos aplicar em outros países em que estamos trabalhando, como Nigéria, Índia e Indonésia”, afirma Wardle.
A continuidade do Comprova nos próximos pleitos é incerta, mas Lüdtke acredita que a iniciativa deve deixar frutos para o jornalismo brasileiro. “[Acreditamos que] a experiência possa motivar o uso da colaboração entre as redações bem antes [de uma próxima edição do Comprova]. Eu acredito muito na força e na importância do jornalismo colaborativo.
Para a diretora do First Draft, o “nível de confiança construído entre jornalistas trabalhando em diferentes redações foi fantástico de assistir”. “O Comprova mostra o que é possível quando redações trabalham juntas, ao invés de competir”, diz.