• 26.01
  • 2012
  • 07:35
  • Bruno Goes e Adriana Lins

Brasil cai 41 posições em ranking sobre liberdade de imprensa

Publicado em 25 de janeiro de 2012 em O Globo

O Brasil perdeu 41 postos na classificação anual da organização Repórteres Sem Fronteiras sobre liberdade de imprensa. Agora, o país ocupa a posição número 99. A grande perda de posições se deve, essencialmente, à violência que a imprensa sofre na região Nordeste e na zona que faz fronteira com o Paraguai.

A organização lembrou que três repórteres morreram no Brasil em 2011. O país também é prejudicado pela corrupção local, a atividade do crime organizado e os atentados contra o meio ambiente, todos eles perigosos para os jornalistas.

Há dez dias, a entidade International News Safety Institute (Insi) considerou o Brasil o oitavo país mais perigoso para o trabalho da imprensa.

Segundo o instituto, o país só fica atrás de quadros graves de violência contra a imprensa, caso do México, com o agravamento da violência do tráfico de drogas, e de países em conflito no Oriente Médio. O ranking foi baseado no número de jornalistas assassinados no exercício da profissão.

Marcelo Moreira, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), vê com preocupação a situação do país e ressalta a importância da proteção da liberdade de imprensa:

- O atentado contra um jornalista é um sério atentado à liberdade de imprensa e diretamente à sociedade como um todo. Se esta situação se prolongar, o risco é de que a gente caminhe para o pior cenário possível que é o dos jornalistas passarem a se autocensurar como forma de proteção. E aí a sociedade fica limitada no seu direito à informação. Situação que já foi vivida pela Colômbia e pela que hoje passa o México.

Para ele, o problema deve ser combatido com um trabalho sério em duas frentes:

- Primeiro de cobrança das autoridades brasileiras para que estes crimes não fiquem impunes. E segundo, que combate à impunidade seja aliado a mecanismos de proteção a atividade dos jornalistas. E estes mecanismos devem ser discutidos pela mídia brasileira como um todo.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azêdo, também lamentou a situação:

- É um dado que demonstra como a liberdade de expressão vem sendo golpeada no país, mesmo quando estamos submetidos a uma constituição democrática - diz ele, que enfatiza a situação problemática nos locais menos populosos no país:

- Essa triste situação (da queda no ranking) decorre principalmente da violência contra jornais e jornalistas no interior do país. No ano passado, nós tivemos pelo menos 11 assassinatos de jornalistas. Os crimes não são sequer esclarecidos e os meios para a punição e investigação são muito precários. Só posso dizer que é lamentável, depois de anos de luta a favor da liberdade de imprensa, hoje se constatar essa realidade.

Na lista divulgada pelo Repórteres Sem Fronteiras, Eritreia, Turcomenistão e Coreia do Norte ocupam as três últimas posições. Este ano, estes países são seguidos por Síria, Irã e China - nações que se empenham pelo controle absoluto dos meios de comunicação e adotam, segundo a entidade, um comportamento que permite a existência de um "espiral insano de terror”.

A chamada "Primavera Árabe" ganhou destaque na divulgação do índice. Segundo a organização, o mundo árabe, "motor da História em 2011", experimentou mudanças importantes quando se trata da liberdade de imprensa. Os conflitos pioraram o exercício do jornalismo em alguns casos e melhoraram em outros. Enquanto a Tunísia subiu 30 posições, pois conquistou um regime democrático - hoje ocupa a 134ª posição -, o Bharein caiu 29 devido à implacável repressão imposta aos protestos dos movimentos pró-democracia - o país ocupa a 173ª posição.

Os dois países com maior liberdade de imprensa continuam, em 2011, a ser os mesmos de 2010: Finlândia e Noruega. A Estônia aparece em terceiro lugar, logo à frente de Holanda (4º) e Áustria (5º).

Cinegrafista e radialista morreram exercendo a profissão

No dia 6 de novembro do ano passado, o cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos foi baleado e morreu no tiroteio entre policiais e traficantes, na Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Gelson foi atingido no peito e levado para a UPA de Santa Cruz, mas não resistiu aos ferimentos causados pelo projétil de fuzil, que atravessou o colete à prova de balas.

- Depois da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes no ano passado, os jornalistas do Rio de Janeiro mantiveram encontros para discutir as formas de proteção. É fundamental que este debate produza resultados. E a Abraji apoio fortemente esta discussão - disse Marcelo Moreira, presidente da entidade

Dois meses antes, o radialista Vanderlei Canuto Leandro foi alvejado por oito tiros disparados por dois homens que fugiram em uma motocicleta, no Amazonas. Segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ), o crime pode ter sido motivado pelo exercício da atividade jornalística. Leandro vinha fazendo denúncias de corrupção na administração do prefeito do município de Tabatinga, Saul Nunes Bemerguy (PR)

Veja a lista divulgada pela entidade:



1. Finlândia

2. Noruega

3. Estônia

4. Holanda

5. Áustria

6. Islândia

7. Luxemburgo

8. Suiça

9. Cabo Verde

10. Canadá

11. Dinamarca

12. Suécia

13. Nova Zelândia

14. República Tcheca

15. Irlanda

16. Chipre

17. Jamaica

18. Alemanha

19. Costa Rica

20. Bélgica

21. Namíbia

22. Japão

23. Suriname

24. Polônia

25. Mali

26. Organização dos Estados do Caribe Oriental

27. Eslováquia

28. Reino Unido

29. Níger

30. Austrália

99. Brasil



169. Myamar

170. Sudão

171. Iêmen

172. Vietnã

173. Bharein

174. China

175. Irã

176. Síria

177. Turcomenistão

178. Eritreia

Também repercutiram: Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e Gazeta do Povo

Assinatura Abraji