• 07.12
  • 2015
  • 15:30
  • -

Brasil avança na checagem de fatos com dois novos projetos lançados em 2015

As iniciativas de checagem de fatos no Brasil ainda são tímidas, mas neste ano duas novas empresas foram lançadas: Aos Fatos e Lupa.

Em 2014 projetos mais consolidados nessa área começaram a aparecer. Foi o caso do Truco!, lançado pela Agência Pública, e do Preto no Branco, do grupo O Globo, concebido por Cristina Tardaguila. 

Ambos os projetos foram lançados durante as eleições e tiveram influência do Chequeado (Argentina), primeiro site de checagem de dados da América Latina. A diretora Laura Zommer deu  grande apoio ao Truco!, afirma Natalia Viana, fundadora da Pública: “Laura prestou consultorias para nós e passou muito da sua experiência quando estávamos ainda engatinhando."

Para Natalia, a ideia do Truco! foi ir além da checagem, “trazendo uma linguagem interessante atrativa para os leitores e uma gamificação da checagem de fatos. No projeto, as frases ditas pelos candidatos recebem cartas como ‘blefe’, ‘não é bem assim’ e ‘tá certo, mas peraí’, além de desafios diretos em que questionamos os parlamentares sobre determinado pronunciamento.” Com o fim das eleições, o Truco! foi transformado em projeto permanente, e hoje o Truco! no Congresso faz checagens diárias de discursos de congressistas, além de reportagens sobre projetos de lei controversos.

O Preto no Branco, por sua vez, realizou 374 checagens dizendo respeito aos sete principais candidatos à presidência, além dos primeiros colocados a governador nas pesquisas de seis estados durante 81 dias.O blog começou como um projeto pequeno dentro d’O Globo, acabou se tornando “digno de página 3”, como define Cristina Tardaguila, e no final teve cerca de 2,5 milhões de visitantes únicos.

Hoje, Cristina dá continuidade à iniciativa em uma nova empresa: a Lupa. Lançada em novembro deste ano, o projeto conta com o apoio da revista piauí, mas é independente e não possui vínculos com a revista.

“O objetivo da Lupa é ampliar o Preto no Branco: não deixar de fazer checagem politica, mas apostar em ampliar a checagem pra questões da vida cotidiana do brasileiro, falando sobre meio ambiente, saúde, produtos e até mesmo sobre trivialidades, fatos divertidos”, afirmou Cristina. A jornalista ainda ressaltou que a Lupa tem a preocupação de ser sempre a mais inovadora possível. “Nossos leitores podem se preparar para formatos diferentes de postagens, alvos dos mais diferentes possíveis, formatos de entrega diversos.” 

 

Aos Fatos e o desafio do modelo de negócios

A Aos Fatos surgiu em um cenário um pouco diferente. A fundadora, Tai Nalon, teve seu primeiro contato com o embrião da checagem de dados nos projetos Mentirômetro e Promessômetro, lançados pela Folha de S.Paulo em 2010. A ideia era medir as declarações de políticos em campanha durante as eleições

A vontade de criar uma empresa de checagem de fatos surgiu em 2014, quando Tai pensou em dar continuidade aos projetos na Folha, mas não conseguiu colocar o plano em prática.“Com a abertura de bases de dados e o advento de ferramentas que ajudam a investigação jornalística pela internet, foi possível resgatar o trabalho de checagem com uma roupagem investigativa. Aí que entra nosso processo de checagem: analisamos a relevância das declarações dos políticos da esfera federal, consultamos a fonte original, consultamos fontes oficiais, consultamos fontes alternativas, contextualizamos e, por fim, classificamos entre quatro categorias: verdadeiro, impreciso, exagerado e falso”, afirmou a jornalista.

Tai enfrenta agora os desafios para manter uma empresa de checagem de fatos independente, sem ter uma fonte de financiamento estabelecida. “A agenda política contempla interesse de muita gente grande, então é quase uma saga quixotesca conseguir dinheiro”, conta ela.

Para conseguir dar os primeiros passos com a start-up, a fundadora lançou uma campanha de crowdfunding, e mesmo assim, a dificuldade de conseguir o montante estabelecido foi grande. Mas ela acredita que esse não é um problema brasileiro, uma vez que já viu empresas estrangeiras passarem pela mesma dificuldade. 

A jornalista resume o contexto dos novos projetos semelhantes ao seu, em uma perspectiva global:“Lá fora, esses trabalhos são precursores de uma cultura jornalística em fase de transformação. Aqui, ainda estamos bem atrás. Tentamos trazer essas ideias transformadoras para o ambiente jornalístico brasileiro.”

Assinatura Abraji