• 29.04
  • 2015
  • 09:29
  • CPJ

Ataques à Imprensa: os jornalistas estão encurralados entre os terroristas e os governos

Os grupos terroristas e os governos que pretendem combate-los converteram os últimos anos no período mais perigoso para exercer o jornalismo, concluiu o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) em sua avaliação anual sobre a liberdade de imprensa, Ataques à Imprensa, divulgada na segunda (27.abril.2015). Alguns jornalistas são sequestrados ou assassinados por grupos radicais, enquanto outros são vigiados, censurados ou encarcerados por governos que tentam responder a essa ameaça, real ou imaginária.

Ataques à Imprensa é uma coletânea de ensaios de peritos regionais e da equipe do CPJ que examinam uma variedade de desafios enfrentados pelos jornalistas. A edição 2015 conta com um prólogo escrito por Christiane Amanpour, correspondente internacional chefe da CNN e membro da diretoria do CPJ.

"Os jornalistas estão ficando encurralados em uma dinâmica do terror: são ameaçados pelos protagonistas não estatais que atentam contra suas vidas e por governos que restringem as liberdades civis, entre elas, a liberdade de imprensa, em nome da luta contra o terror", declarou Joel Simon, diretor-executivo do CPJ. "Ataques à Imprensa analisa este novo panorama, e oferece perspectivas sobre as múltiplas ameaças - desde a vigilância e a autocensura até a violência e a prisão - que converteram esse período no mais mortífero e perigoso para o exercício do jornalismo na história recente".

Protagonistas não estatais, inclusive organizações criminosas e grupos políticos violentos, constituem uma ameaça significativa para os jornalistas, assim como um desafio para os defensores da liberdade de imprensa e para as organizações de notícia. Em lugares como México e Paraguai, as organizações de traficantes são a principal ameaça. Um ensaio examina como, em 2014, os jornalistas se converteram em acessórios em filmes de propaganda, o que reflete uma tendência global que consiste nos perpetradores documentarem cada vez mais seus atos de violência. Outro ensaio aborda como os jornalistas resistem aos contínuos riscos à sua integridade física.

Outros ensaios analisam como os governos abusam das leis contra o terrorismo e das leis de proteção da segurança nacional para silenciar as vozes críticas. A Etiópia, uma das nações com a maior quantidade de jornalistas presos do mundo, acusou a maioria dos repórteres encarcerados do crime de promover o terrorismo. O Egito, sob o mandato do presidente Abdel-Fattah el-Sisi, emprega uma técnica similar: as autoridades recentemente sentenciaram três jornalistas à prisão perpétua devido a suas supostas conexões com a Irmandade Muçulmana. De fato, em todo o Oriente Médio a Internet é tratada como uma inimiga, já que os líderes da região estão muito conscientes de seu poder como catalizadora de movimentos antigovernamentais.

Na Europa, os jornalistas precisam lidar com restrições em nome da privacidade, com o auge do extremismo de direita, e com os terroristas nacionais como os que assassinaram oito jornalistas da revista satírica Charlie Hebdo. Também nos Estados Unidos a ênfase na segurança nacional obriga os jornalistas a pensar e agir como espiões para proteger suas fontes de informação, escreve Tom Lowenthal, tecnólogo do staff do CPJ.

A combinação de ameaças pressupõe uma variedade de preocupações com a segurança dos jornalistas. O conflito na Síria remodelou as regras da cobertura informativa de conflitos, como diz Janine di Giovanni. Muitos dos que informam sobre o conflito sírio de fato estão fazendo a cobertura de sua primeira guerra. Um percentual crescente de jornalistas freelance são mortos no exercício da profissão, o que levou o CPJ e uma coalizão de organizações de liberdade de imprensa e meios de comunicação a defender a aplicação de melhores normas globais para protegê-los e também aos jornalistas locais dos quais dependem.

O informe se completa com ensaios sobre as diferentes formas de censura - empregadas por governos e atores não estatais - em Hong Kong, Índia, Líbia, Rússia, África do Sul, Turquia e Ucrânia, assim como na África Ocidental durante a epidemia causada pelo vírus ebola.

A primeira edição de Ataques à Imprensa foi publicada em 1986. A edição impressa de 2015 é publicada por Bloomberg Press, um selo editorial de Wiley, e já está à venda.

Assinatura Abraji