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Associações repudiam agressão a cinegrafista atingido por explosivo

Publicado na Folha de S.Paulo em 7 de fevereiro de 2014

Associações ligadas à imprensa publicaram hoje nota em solidariedade ao repórter cinematográfico Santiago Ilídio Andrade, da TV Bandeirantes, atingido por um artefato explosivo durante manifestação realizada na quinta-feira (6), no centro do Rio, contra o aumento das tarifas de ônibus do município.

Em nota publicada no site da Associação Brasileira de Imprensa, o presidente Fichel Davit Chargel afirma que "a ABI, que teve atuação destacada contra a ditadura militar nos anos 1964-1985, e, na qualidade de instituição devotada à defesa dos direitos humanos e liberdades públicas, deplora o comportamento dos agressores e exige a imediata apuração dos responsáveis pelos inadmissíveis ataques cujos alvos são frequentemente profissionais de imprensa no exercício de sua missão de informar a sociedade."

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) condena "veementemente" a agressão ao cinegrafista e cobra punição. "Diante da gravidade do fato, que constitui um atentado à liberdade de imprensa, ao direito da população de ser livremente informada e ao cidadão de exercer sua profissão, a ANJ exige que os responsáveis pelo ataque sejam identificados e punidos com todo o rigor", declara o vice-presidente Francisco Mesquita Neto.

Na página da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), nota exige "apuração célere" do ocorrido, para que "procedimentos sejam revistos e para que o Estado proteja a liberdade de expressão, a liberdade de informação e o jornalista".

De acordo com a ABI, em 2013 foram contabilizados 114 casos de agressão a jornalistas durante manifestações em todo o país. Segundo a ANJ, o profissional da Band é o terceiro jornalista ferido em manifestações em 2014.

No dia 25 de janeiro, dois jornalistas foram feridos em São Paulo: Sebastião Moreira, da Agência EFE, foi agredido por PMs, e Paulo Alexandre, freelancer, foi agredido por de guardas civis metropolitanos.

AGRESSÃO

O cinegrafista da Band foi atingido por um rojão na região da cabeça quando fazia imagens do protesto. Após o ato, a emissora divulgou uma nota afirmando que ele perdeu muito sangue e foi socorrido inconsciente para o Hospital Souza Aguiar. Ele permanece na unidade em estado grave.

Um repórter-fotográfico do jornal O Globo disse, em entrevista ao "Jornal Hoje", da TV Globo, que viu o momento em que um manifestante adepto à tática black bloc deixou um morteiro solto no chão.

"Tudo indica que um morteiro foi utilizado, mas a gente espera o laudo do Esquadrão Antibombas e da perícia do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli) para determinar que tipo de artefato foi aquele. Depois, a gente vai para a segunda etapa que é descobrir quem foi que colocou esse artefato naquele local", afirmou o delegado.

O delegado disse ainda que trabalha com a hipótese do autor do crime ser um manifestante já que o tipo de explosivo não é compatível com os artefatos utilizados pela PM. "Também temos uma testemunha que viu um manifestante de camisa cinza colocando esse artefato aceso no chão. Essa pessoa será ouvida na delegacia ainda hoje", disse.

PROTESTO

O protesto que levou ao ferimento do cinegrafista começou por volta das 17h na igreja da Candelária e seguiu em direção até a Central do Brasil. O número de manifestantes, que era de 600 pessoas, no início do ato, cresceu rapidamente por volta das 19h desta quinta-feira, quando iniciaram os confrontos.

Bombas de gás lacrimogêneo foram disparadas nos corredores da estação. Passageiros a caminho de casa ficaram desnorteados e correram para escapar da cortina de fumaça na área de embarque.

Dentro da Central do Brasil, o grupo promoveu o chamado "roletaço", que consiste em pular as roletas que dão acesso às plataformas de embarque sem pagar a passagem. Inicialmente, a polícia deixou que os manifestantes pulassem as roletas, assim como outros passageiros que aderiram ao "roletaço".

Com a multidão de pessoas no interior da estação, no entanto, houve tumulto e a polícia reagiu lançando bombas de gás lacrimogêneo.

Três catracas foram quebradas pelos mascarados que participam do protesto, assim como um telão instalado no local pela Supervia, a concessionária responsável pela administração dos sistema de trens da região metropolitana do Rio.

Assinatura Abraji