- 05.04
- 2022
- 17:32
- Abraji
Liberdade de expressão
Assassinato de blogueiro de Fortaleza será acompanhando pelo Programa Tim Lopes
Foto: Blogueiro Givanildo Oliveira, assassinado em 7.fev.2022. Reprodução/Instagram
Como parte de sua campanha contra a impunidade em assassinatos de jornalistas e comunicadores, o Programa Tim Lopes começou a acompanhar o seu quarto caso: a morte do blogueiro Givanildo Oliveira, de 46 anos, na noite de 7.fev.2022, em Fortaleza, no Ceará. As investigações mostraram que sua morte teve como motivação a publicação de uma nota, em seu portal Pirambu News, acerca de uma operação policial que resultou na prisão de um traficante do Comando Vermelho (CV), que atuava na área de Areia Grossa.
Dias depois do crime, o site de notícias Pirambu News já havia sido desativado. Ao acessar o link do blog, o que pode ser visualizado é uma imagem com a logo do portal e um texto: “É com pesar que comunicamos o falecimento do nosso amigo Givanildo, ‘Gigi’ como era conhecido. Givanildo foi o fundador do portal de notícias Pirambu News e administrava as redes sociais do canal. Agradecemos aos amigos, leitores e familiares que contribuíram para o avanço e audiência do portal. Informamos que o portal será desativado.”
Foto: Reprodução/Print do site Pirambu News
A Abraji repudiou o crime e divulgou uma nota em 8.fev.2022, em que afirmava a preocupação com os ataques aos jornalistas e o medo provocado pelo crime que atingiu outros profissionais. Na época, a página Portal de Fortaleza havia publicado que não iria mais postar notícias policiais para preservar a integridade da sua equipe. Dois meses depois, em conversa com a Abraji, Paulo Sérgio Damaceno, jornalista do portal, deu uma outra versão para a mudança das reportagens. “É que para nós existem outras pautas que são mais informativas e que realmente não fogem do nosso foco”, afirmou.
Foto: Reprodução/Instagram
A violência contra jornalistas e comunicadores do Nordeste também preocupa a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ). O relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa do Brasil 2021, realizado pela entidade, mostrou que foi estabelecido um novo recorde do registro de agressões diretas aos profissionais de imprensa. Dados do relatório também revelaram que, na região Nordeste, aconteceram 25 casos de violência contra jornalistas (8,42% do total no país). De acordo com Maria José Braga, presidente da FENAJ, “a situação no Brasil é uma situação de insegurança para a categoria dos jornalistas, e isso se dá principalmente pela crise política institucional do país a partir da ascensão da extrema direita ao poder central”.
Os ataques e assassinatos contra jornalistas também refletem no chamado deserto de notícias. O site Atlas da Notícia é uma iniciativa que mapeia veículos de imprensa. No estado do Ceará, mais especificamente, os dados do portal revelam uma proporção de cerca de quatro veículos a cada cem mil habitantes.
Sérgio Lüdtke, coordenador da equipe de pesquisadores do Atlas da Notícia e editor-chefe do Projeto Comprova, liderado pela Abraji, afirmou que as populações de seis em cada dez municípios do Nordeste não contam com informação jornalística que retrate o lugar onde vivem. "No Ceará a situação é melhor - 56% das cidades não têm nenhum veículo de comunicação jornalística -, mas ainda assim crítica. A ausência do jornalismo local é ruim para os cidadãos e péssima para a democracia. Isso porque os desertos de notícias são territórios em que a população não conta com meios que possam refletir sua condição e o poder público é menos fiscalizado."
O Programa Tim Lopes
Outros três casos também estão sendo acompanhados pelo Programa Tim Lopes, criado em 2017 pela Abraji.
O primeiro trata do radialista Jefferson Pureza, de 40 anos, que foi morto na noite de 17.jan.2018, com três tiros no rosto, quando descansava na varanda de sua casa. O crime ocorreu em Edealina, interior de Goiás. Segundo os depoimentos que constam do inquérito, o crime foi negociado por R$5 mil e um revólver calibre 38. Seis acusados de envolvimento no crime foram presos. Os três adolescentes envolvidos no crime cumpriram medida sócio-educativa e foram liberados meses depois. O dono do lava-jato onde aconteceu a negociação do crime foi condenado a 14 anos. No entanto, foram absolvidos o vereador apontado como mandante e o seu caseiro, que apresentou os adolescentes ao político. A acusação recorreu e pediu novo julgamento.
Já o radialista Jairo de Souza, de 43 anos, foi morto ao subir a escadaria que dá acesso à Rádio Pérola FM, no dia 21.jun.2018, por volta das 4h50. O crime ocorreu em Bragança, no Pará, quando Jairo chegava ao trabalho para apresentar seu programa matinal “Show da Pérola” que ia ao ar das 5h às 9h. Ele foi baleado com dois tiros depois de passar por um portão e subir alguns degraus da escadaria. Segundo investigação policial, o crime foi encomendado a um grupo de extermínio composto por dez homens e teria custado R$30 mil. Um vereador foi acusado de ser o mandante, mas ainda não houve julgamento. Eles foram indiciados e depois de vários recursos estão aguardando o julgamento em liberdade.
O terceiro caso é do jornalista Lourenço (Léo) Veras, de 52 anos, assassinado na noite de 12.fev.2020, com 12 tiros, quando jantava com sua família. O crime ocorreu no município paraguaio de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade sul-mato-grossense de Ponta Porã. Veras noticiava a disputa do narcotráfico na região e já havia recebido ameaças de morte. O crime ainda está sob investigação do Ministério Público e da polícia paraguaia. A promotoria denunciou um suspeito à Justiça, mas não houve julgamento.
O Programa Tim Lopes é realizado pela Abraji com financiamento da Open Society Foundations. O nome do programa é uma homenagem ao repórter Tim Lopes, assassinado em 2002 por traficantes no Rio de Janeiro. A coordenação é da jornalista Angelina Nunes.