- 31.01
- 2024
- 13:27
- Abraji
Formação
Liberdade de expressão
As dicas de segurança para jornalistas do autor de Decaído, livro sobre o miliciano Adriano da Nóbrega
Qual o melhor caminho para investigar uma organização criminosa como as milícias no Rio de Janeiro? Como se proteger dos riscos e como preparar um longo apanhado de uma história intrincada, que será apresentada como um livro ou como uma reportagem de fôlego? Essas foram as questões abordadas na primeira live do ano do Programa Tim Lopes, que foi realizada na segunda-feira, 29.jan.2024, mas que pode ser vista na íntegra neste link.
A coordenadora do Programa Tim Lopes, Angelina Nunes, entrevistou o repórter Sérgio Ramalho, que lançou neste mês o livro "Decaído", a história sobre o miliciano e ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, que, foragido na Bahia, foi morto em uma operação policial de captura em 2020.
Na transmissão, Sérgio Ramalho e Angelina Nunes discutiram a relevância da disciplina, a necessidade de realizar reportagens com profundidade, os cuidados essenciais ao lidar com fontes, além de fornecerem dicas sobre o armazenamento seguro em plataformas de nuvem e hard drives. Sérgio Ramalho ressaltou também a importância de manter registros manuscritos e impressos: "Eu não só guardo os bloquinhos de papel, como também reportagens publicadas e cópias de inquéritos. O material com mais musculatura que recebi foram exatamente esses dois pendrives; então, eu os coloquei em uma nuvem. As ferramentas hoje são muito mais práticas", diz Ramalho, sobre os recursos para armazenamento e catalogação do material coletado durante a apuração.
Para escrever o livro, Ramalho levou anos de pesquisa. Mergulhou nos arquivos da Biblioteca Nacional e confrontou entrevistas e documentos. Usou aplicativos para ter mais segurança, como o Signal, para troca de mensagens, e o Life 360, que permite o compartilhamento de geolocalização.
"Esses mecanismos, embora muita gente ache que você está perdendo a sua liberdade, nesse caso, são uma garantia da sua vida. Porque se eu ficar sem fazer contato por muitas horas, as pessoas já podem acionar e mostrar, pelo menos naquele período, onde você está. Isso facilita muito a busca", diz Ramalho, sobre a ferramenta Life 360, que já foi utilizada pela Abraji em reportagens investigativas para a garantia da segurança dos repórteres.
O repórter investigativo enfrentou ameaças de morte em 2012 durante sua cobertura sobre organizações criminosas no Rio de Janeiro. Na época, quando ainda trabalhava no Globo, teve de ficar três meses fora do Rio de Janeiro, como medida de segurança. Mas mantinha contato direto com a redação. A ameaça a sua vida foi detectada pelas próprias investigações policiais. O interesse por escrever o livro sobre Nóbrega nasceu desse período, uma vez que o miliciano tinha posição de destaque no esquema criminoso. No jargão policial carioca, "decaído" é uma referência ao policial que cruza a fronteira da lei e passa para o lado do crime.
Ao longo dos anos, resultado de uma cobertura intensa, Sérgio Ramalho desenvolveu suas próprias ferramentas de cuidado, destacando a importância crucial não apenas de preservar a mensagem, mas também de assegurar a integridade física e emocional do mensageiro em cenários desafiadores.
Angelina Nunes destacou como é determinante planejar a pauta, conferindo todos os riscos, e se cercar de cuidados, inclusive ao se encontrar com as fontes. Também é importante compartilhar informações com pessoas próximas ou colegas destacados na redação para colaborar com uma intervenção caso ocorra algum problema, seja comunicando o comando da redação ou as autoridades.
A transmissão está disponível no Instagram da Abraji. Acesse na íntegra e fique ligado para as próximas lives do Programa Tim Lopes, nas quais abordaremos temas como segurança dos jornalistas em coberturas de risco, ataques à liberdade de imprensa e muito mais.
Crédito da imagem: Abraji