• 18.05
  • 2007
  • 15:10
  • Aline Khouri – Aluna de Jornalismo da Cásper Líber

Arte ajuda a conquistar o leitor, que é 'consumista, mutante e infiel', diz Kanno

“Não é só fazer uma página bonita, a importância da iconografia é muito maior do que isso”. É dessa maneira que Mário Kanno, integrante da equipe de diagramação do jornal Folha de S. Paulo, inicia a palestra sobre “Iconografia na reportagem”, uma das palestras da sexta-feira do 2º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji.

 

Segundo ele, um dos papéis principais da editoria de arte é saber o que interessa explicar visualmente ao leitor. Além disso, é necessário que o texto possua uma integração com a imagem, tanto pelo quesito estético, como também para conquistar o leitor que é “consumista, mutante e infiel”.  Essa percepção é tão fundamental para os profissionais de iconografia que, de acordo com uma pesquisa realizada pelo projeto Eyetrack, 80 % das pessoas lêem infográficos. A mesma pesquisa demonstrou que quando o texto e a arte estão separados, o texto é ignorado. Porém, se ocorre uma integração entre esses dois fatores, há um índice maior de leitura.

 

Outra característica essencial para se obter bons resultados em projetos gráficos é que as equipes de reportagem e arte caminhem juntas, pois ambas precisam ter conhecimento suficiente para determinar qual o objetivo das matérias. Kanno destaca que esse é um dos problemas mais recorrentes em seu trabalho no jornal Folha de S. Paulo. No seu dia-a-dia, ele afirma que geralmente os jornalistas se preocupam somente com o texto e esquecem de atribuir significado às imagens ou, se o fazem, é no limite do fechamento das edições. “A gente perdeu a cultura da antecedência, não há sofisticação. Para conseguir resultados bons, é preciso ter tempo para checar”.

 

Já Fábio Salles, editor de arte do jornal O Estado de S. Paulo, afirma que no Estadão ocorre o contrário. Existe um planejamento mais minucioso com as iconografias, por isso a equipe responsável participa das reuniões de pauta e, juntamente com os repórteres, procuram aprofundar-se no conteúdo das reportagens. O editor reforça ainda que, embora o jornal consiga produzir imagens mais elaboradas, a dificuldade aumenta quando é preciso trabalhar com “hardnews”, assunto no qual a “ Folha é especialista”.

 

Salles conta que para a produção de infográficos da visita do Papa ao Brasil, foram necessários dois meses de apuração e toda uma construção de rede de relacionamentos para, enfim, chegar ao produto final publicado no jornal.  Finalmente, o editor reforça que a credibilidade de uma imagem é tão importante como a de um texto. “Infográfico sem fonte é como se fosse uma reportagem em off. É importante que o repórter e o infografista trabalhem juntos”.

Assinatura Abraji