Alcolumbre tenta calar na Justiça repórter que apontou relação do político com programa de saúde que infectou pacientes
  • 29.02
  • 2024
  • 10:10
  • Abraji

Liberdade de expressão

Alcolumbre tenta calar na Justiça repórter que apontou relação do político com programa de saúde que infectou pacientes

O jornalista Heverson Castro, do Portal do Amapá, está sendo processado pelo senador Davi Alcolumbre (UB-AP) em razão de um artigo divulgado em suas redes sociais e no veículo noticioso. O tema do artigo é o envolvimento do senador no Programa Mais Visão, em Macapá, que teve mais de 100 pacientes infectados por um fungo durante cirurgias de catarata. O escândalo de saúde pública foi divulgado por boa parte da mídia regional e nacional. Alcolumbre, que afirmava ser "idealizador e viabilizador" do programa, usou o Mais Visão como plataforma de campanha eleitoral. O Ministério Público Estadual chegou a pedir a suspensão do programa por falta de licença sanitária da empresa que fazia os procedimentos cirúrgicos.

Alcolumbre, apesar de ter residência no Amapá e a publicação ter maior difusão e impacto no estado, apresentou a ação na Justiça do Distrito Federal, onde ele também tem residência por exercer mandato no Senado. Na ação, iniciada em novembro passado, o político pede que seja concedida liminar proibindo o jornalista de continuar a publicar sobre o tema, além da condenação final em danos morais no valor de R$ 30 mil. Heverson Castro recebeu a intimação do processo na semana passada e a audiência de conciliação será nesta sexta-feira (1.mar.2024). 

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se coloca ao lado do jornalista, uma vez que considera grave a atitude de um senador da República de cercear a liberdade de imprensa, um valor assegurado pela Constituição Federal. A relação de Alcolumbre com o programa de saúde oftalmológica foi anunciada pelo senador, que vem colhendo nos últimos anos os louros pela realização das cirurgias no Amapá. É de se esperar que uma imprensa atenta aponte a relação do senador quando esse mesmo programa causa prejuízos à saúde de mais de uma centena de pessoas.

O senador da República não pode se furtar ao escrutínio público, tentando cercear o exercício do jornalismo de um profissional de seu estado, sob o risco de calar não só esse profissional, mas de intimidar a imprensa local e regional. Que a Justiça do Distrito Federal garanta ao jornalista o direito de não se calar e garanta também à sociedade o direito de se informar sobre esse episódio que abalou a vida de mais de uma centena de amapaenses.

 

Diretoria da Abraji, 29 de fevereiro de 2024



 

Assinatura Abraji