- 28.08
- 2017
- 08:24
- Mariana Gonçalves
Liberdade de expressão
Agenda de Periodistas propõe criação de associação de jornalistas no México
Atualizado em 30.ago.2017, às 15h32, para incluir as declarações de Guillermo Osorno, da Agenda de Periodistas.
Aconteceu, neste mês (10.ago.2017), na Cidade do México, o primeiro colóquio internacional promovido pela Agenda de Periodistas, iniciativa que busca construir um programa de combate à violência contra jornalistas no México. No encontro, discutiram-se os modelos de organizações de jornalistas no mundo. O jornalista Marcelo Moreira, membro do Conselho Curador e ex-presidente da Abraji (2012-2013), esteve presente.
Na ocasião, foram apresentados os objetivos preliminares da iniciativa: valorizar o trabalho jornalístico no México, acabar com a impunidade de ataques contra jornalistas e fortalecer a categoria no país. Para concretizar os planos, a Agenda pretende promover discussões e treinamentos, divulgar os ataques à imprensa e sensibilizar a sociedade para a necessidade de estar bem informada, criando vínculos com diferentes agentes e setores sociais.
A última medida é formar uma uma organização que procure apoiar, proteger e fortalecer a categoria de jornalistas mexicana, capaz de pressionar legisladores, políticos e organizações para investigar e julgar os casos de violação contra profissionais de imprensa. A ideia é que a entidade se constitua a nível nacional, fazendo aumentar o custo político de assassinatos de jornalistas.
“Como o México tem muita impunidade, lá é um terreno fértil para a autocensura”, afirma Moreira. “Agora, apesar do medo, a solidariedade entre os jornalistas cresceu, e a demanda por uma associação tem sido grande.”
No colóquio, Moreira apresentou o modelo da Abraji, que impressionou os convidados. “Todas as associações têm suas peculiaridades”, ele conta. “Mas, diferente de outras organizações latino-americanas, a Abraji entrega um conteúdo muito bom [como os cursos e o Congresso anual] e consegue se sustentar com os próprios recursos.”
A jornalista colombiana María Teresa Ronderos, diretora na Open Society Foundations, também mencionou o projeto Tim Lopes, lançado pela Abraji em junho, no 12º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. O projeto busca revelar os bastidores dos crimes e dar continuidade às investigações de jornalistas brasileiros mortos no exercício da profissão. “É um projeto importante, porque é uma forma de cobrança, dá visibilidade aos assassinatos e também ao trabalho dos jornalistas”, afirma Moreira.
Além da Abraji, estiveram presentes no encontro membros do Fopea (Argentina), do IPYS (Peru) e da Flip (Colômbia), entre outras organizações. A nova associação busca se inspirar em modelos latino-americanos.
“Todas as organizações no encontro se manifestaram em solidariedade à Agenda, para que, quando a nova associação surja, ela tenha apoio para continuar”, continua Moreira. Para ele, não é só necessária a solidariedade entre os jornalistas mexicanos, mas também da comunidade internacional, cujo papel deve ser o de observar e denunciar violações contra a liberdade de expressão no país.
A Agenda de Periodistas nasceu em maio deste ano, após um chamado de jornalistas, organizações e instituições acadêmicas que se comoveram com o assassinato do mexicano Javier Valdez, fundador do jornal Ríodoce. Só no primeiro semestre deste ano, sete jornalistas foram mortos a tiros em território mexicano, o que fez do país o segundo mais letal para profissionais de imprensa, segundo o International News Safety Institute.
"A Agenda de Periodistas representou uma convocatória histórica: rompeu-se com muitas inércias na categoria", conta o jornalista e membro da Agenda, Guillermo Osorno. "Desde vinte anos atrás não havia acontecido uma convocatória assim."
Embora já existam outras organizações de jornalistas mexicanos com longo caminho percorrido, ele continua, "o que a Agenda tem de especial" é a grande quantidade de pessoas que atraiu nas reuniões desde o início (foram quase 400 jornalistas distribuídos em 20 estados do país). Com essa adesão, a Agenda pretende "tentar vincular todas essas organizações [que já existem] e estabelecer uma agenda que tenha uma base social ampla e legítima", diz.
O colóquio foi o último encontro de uma série de reuniões que têm sido realizadas no México desde maio. Antes de convidar associações internacionais, a Agenda já havia organizado conferências e grupos de trabalho entre jornalistas mexicanos, a fim de debater o cenário no país e estabelecer prioridades na condução do programa. As reuniões têm tido o apoio da Fundación Ciudadano Inteligente, do Chile, e da Open Society Foundations.
Nos próximos meses, será elaborado um documento contendo um plano de ações a curto e médio prazo, que deve ser levado a organismos nacionais e internacionais. O texto estará disponível para sugestões em uma plataforma digital e interativa,
segundo o site da Agenda. Paralelamente, será discutido o tipo de associação que deve colocar os planos em prática.
O jornalista Marcelo Beraba, um dos fundadores e primeiro presidente da Abraji (2003-2007), lembra a criação de outras organizações de jornalistas mexicanos no passado. “O México foi pioneiro na América Latina na difusão dos recursos do CAR (Computer Assisted Reporting) com a organização do Periodismo de Investigación, no início dos anos 1990”, por exemplo. “Assim como o IRE, dos EUA, o Periodismo de Investigación foi muito importante para a Abraji e para a implantação no Brasil dos fundamentos do Jornalismo de Precisão.” Apesar disso, essa e outras antigas associações criadas no país não vingaram com o tempo.
“Se der certo, essa associação será histórica para o jornalismo mexicano”, completa Moreira. “Foi muito importante a Abraji ter ido ao encontro e ter sido ouvida.”
“Bem-vindos nossos mais recentes hermanos a esta confraria de entidades de jornalismo investigativo”, finaliza Beraba.