- 12.11
- 2018
- 16:05
- Marina Atoji
Agência de notícias busca financiamento coletivo para livro-reportagem em quadrinhos
Na categoria profissional, o futebol feminino já luta para alcançar e manter o reconhecimento. Na várzea paulistana, a diferença é pouca: falta tempo para treinar, falta dinheiro para ir aos campeonatos, falta uniforme. E, tal qual no profissional, as jogadoras persistem. São as histórias dessas mulheres que a Agência Mural de Jornalismo nas Periferias quer mostrar no “Minas da Várzea”, seu primeiro livro-reportagem em quadrinhos. Para isso, abriu uma campanha de financiamento coletivo.
A meta de arrecadação é de R$ 18.500 até 26/11. As recompensas para quem doar variam de acordo com o valor: vão de uma edição digital do livro (R$ 10) a uma camisa de futebol de Várzea da Agência Mural (R$ 80 ou mais). A produção será lançada em dezembro, na Comic Con 2018.
Priscila Pacheco e Luana Nunes trabalharam na apuração das histórias no distrito de Parelheiros, extremo sul da capital paulista, passando pela aldeia indígena do povo Guarani Mbya e Vargem Grande. Segundo Pacheco, "a pauta é uma história antiga". Ao saber da existência de um time feminino em Parelheiros, ela pensou em fazer uma reportagem sobre mulheres que jogam bola. Desistiu ao constatar que o trabalho não seria inédito. Acompanhando o tema ao longo do tempo, percebeu que havia questões ainda não abordadas: “descobri a existência de outros grupos femininos, a presença de um time formado só por indígenas na aldeia Tenondé Porã, que na Tekoa Kalipety as mulheres também estavam montando um time”, conta a repórter.
O maior desafio na apuração da história foi a comunicação, diz Pacheco. “Algumas áreas do distrito de Parelheiros têm sinal de celular muito ruim. As meninas do Minas do Toque demoravam muito para responder as mensagens para combinar o dia da entrevista, para responder quando teria jogo”.
Luana Nunes, companheira de Pacheco na reportagem, enfrentou dificuldades para contatar as jogadoras indígenas. Correspondente da Agência Mural em Parelheiros, foi pessoalmente à aldeia Tenondé Porã tentar encontrar alguma jogadora, mas não conseguia contatá-las. “[Ela] descobriu que as mulheres estavam reunidas para uma semana de reza”, conta Pacheco. Com uma pessoa que montava um time em outra aldeia, conseguiram contato com uma das jogadoras, mas sem garantias: “a jogadora não tinha celular e não era da mesma aldeia. Qualquer imprevisto a gente não tinha como se comunicar com ela”.
Os desenhistas Alexandre de Maio e Magno Borges transformaram em quadrinhos cenas selecionadas pelas repórteres. Segundo Pacheco, o foco da produção fica não apenas na paixão pelo futebol e as dificuldades de persistir no esporte, mas também nas diferenças de território na cidade de São Paulo. “A gente vai do urbano para o rural. São Paulo não é só concreto. Há uma beleza natural também”, diz Pacheco.
A Agência Mural completou três anos de atividade no último 5.nov. O ponto de partida foi o Blog Mural na Folha de S.Paulo, iniciado em 2010 e dedicado à cobertura das periferias de São Paulo por jornalistas, comunicadores e blogueiros que moram nessas regiões e nas cidades da região metropolitana.