Acesso à informação ganha destaque no 20º Congresso da Abraji
  • 02.09
  • 2025
  • 08:28
  • Samara Meneses

Acesso à Informação

Acesso à informação ganha destaque no 20º Congresso da Abraji

Pensando em discutir um dos pilares do jornalismo, o acesso à informação, o 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji reuniu especialistas, jornalistas e pesquisadores para debater como a transparência, a disponibilização de dados públicos e a fiscalização do poder público impactam o trabalho da imprensa. Ao longo do evento, diferentes mesas abordaram o tema a partir de perspectivas variadas.

Na oficina "Como produzir pautas com dados raciais?", as palestrantes Agnes Sofia Guimarães (Afro-Cebrap/Instituto Elos) e Camila Rodrigues da Silva (Alma Preta Jornalismo) apresentaram o projeto Retratos da População Negra no Brasil, que reúne dados raciais públicos de forma centralizada. A iniciativa busca facilitar o acesso e a análise desses dados, contribuindo para qualificar o debate sobre desigualdades e fomentar a criação de políticas públicas voltadas à população negra.

A mesa "Transparência na educação: conciliando a busca por informação e o direito à privacidade" discutiu um impasse que afeta diretamente jornalistas e pesquisadores. Desde 2022, mudanças na política de divulgação do Inep restringiram o acesso a microdados educacionais antes amplamente disponíveis, sob a justificativa de adequação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Clarissa Luz(LuzLaw), Daniel Corrá (ONG Todos Pela Educação), Fernanda Campagnucci (InternetLab) e Thamires Mirolli (Fundação Lemann), mediados por Renata Cafardo (Jeduca), debateram os desafios de equilibrar a Lei de Acesso à Informação (LAI) e a proteção de dados pessoais.

No campo da cobertura política, a mesa "Emendas parlamentares: como cobrir o desvio de dinheiro público depois das decisões do STF" trouxe Dimitrius Dantas (Globo), Idiana Tomazelli (Folha de São Paulo) e Natália Portinari (UOL), mediados por Guilherme France (Transparência Internacional Brasil), para mostrar como acompanhar e investigar o uso das emendas, especialmente as chamadas “emendas pix”, ressaltando a importância de mecanismos de controle e do jornalismo para evitar o mau uso de recursos públicos.

"Desafios do uso da Lei de Acesso à Informação em favelas, periferias e pequenas cidades" colocou em evidência a importância da LAI para o jornalismo local e comunitário, onde a escassez de dados públicos e a falta de transparência ainda são grandes barreiras. Michel Silva (Fala Roça), Raquel Rocha (Site Coreto) e Taís Seibt (Fiquem Sabendo), mediados por Nina Weingrill (Énois/Caravana), compartilharam experiências e soluções práticas para superar o “deserto de dados” e fortalecer a cobertura jornalística independente em territórios que muitas vezes permanecem à margem das políticas de transparência.

Na palestra "Acesso negado? Como ultrapassar barreiras impostas pelo Estado e fazer a LAI funcionar”, especialistas debateram como a Lei de Acesso à Informação (LAI) ainda enfrenta obstáculos na sua aplicação, especialmente em nível municipal. Adila Damiani (Transparência Capixaba), Bruno Morassutti (Fiquem Sabendo) e Francisco Leali (Estadão), mediados por Rafaela Sinderski (Abraji), discutiram casos de pedidos ignorados, respostas genéricas e ocultação de dados, além de compartilhar estratégias para tornar o uso da LAI mais efetivo, desde contornar negativas até pressionar pela ampliação da transparência pública.

Na sessão "Como utilizar dados para investigar violência de gênero?" mostrou como o jornalismo de dados pode ser um instrumento de transformação social quando aliado a uma perspectiva interseccional. Ana Carolina Araújo (Instituto AzMina) e Vitória Régia da Silva (Gênero e Número/Ajor), com mediação da jornalista de dados, Aline Gatto Boueri, exploraram o conceito de “feminismo de dados” e explicaram como relações de poder e desigualdades estruturais moldam a produção e interpretação de números. O painel destacou como usar bases de dados de forma crítica e sensível para criar narrativas jornalísticas impactantes sobre violência de gênero.

Com essa diversidade de perspectivas, o 20º Congresso da Abraji reforçou que garantir o acesso à informação envolve a defesa da transparência, o monitoramento do poder público e a proteção dos profissionais de imprensa. A Redação-Laboratório da Oboré produziu matérias que destacam os principais pontos debatidos ao longo das atividades. O conteúdo completo pode ser conferido no site www.congressoabraji.wordpress.com 

 

*Foto: Luciana Vassoler/Abraji

 

Assinatura Abraji