- 16.11
- 2020
- 17:35
- Abraji
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Abraji registra ao menos dois ataques contra jornalistas no domingo da eleição
Foto cedida por Magnus Nascimento, da Tribuna do Norte.
A Abraji recebeu denúncias sobre dois ataques contra jornalistas no domingo de eleições (15.nov.2020). Após publicar orientações para os jornalistas garantirem sua segurança durante o pleito eleitoral, a associação foi procurada por vários jornalistas de São Paulo e do Rio Grande do Norte.
O candidato derrotado à prefeitura de Natal Sérgio Leocádio (PSL) agrediu o repórter Ícaro Carvalho e o fotojornalista Magnus Nascimento, da equipe da Tribuna do Norte. Na manhã de domingo, Leocádio se exaltou ao ser fotografado na seção eleitoral da Universidade Potiguar (UnP) e reagiu com violência a um pedido de entrevista.
Carvalho disse à Abraji que perguntou a Leocádio sobre suas expectativas para o resultado da votação. A reação foi violenta. Primeiro, o político do PSL o empurrou e tentou, sem sucesso, tomar o celular do repórter. Depois, deu um soco abaixo da costela direita do fotógrafo e ainda tentou arrancar a máscara do profissional, quebrando qualquer protocolo de segurança indicado na epidemia de covid-19.
Leocádio, que é delegado da polícia civil, estava acompanhado de três seguranças vestidos com algemas no colarinho que ofenderam os jornalistas durante o ataque.
Os dois jornalistas da Tribuna do Norte registraram, por volta das 12h, um boletim de ocorrência, na 1ª Delegacia de Plantão da Zona Sul de Natal, após concluírem a cobertura da votação na UnP. No documento, Nascimento e Carvalho relatam, além das agressões, que sofreram injúria, crime previsto no código penal (art. 140).
Segundo os repórteres do jornal potiguar, o candidato derrotado do PSL se dirigiu aos profissionais com palavras de baixo calão e palavrões e os chamou de “a imprensa de Álvaro Dias (PSDB)”, candidato a prefeito mais votado no primeiro turno.
O Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte repudiou a agressão e solicitou uma apuração rigorosa por parte das autoridades de segurança pública. “Com a mesma violência que o delegado quer tratar a bandidagem, exposta nos programas eleitorais, ele quer tratar o cidadão comum”, diz a nota.
A Tribuna do Norte apurou que Leocádio nem sequer votava na UnP e estava na seção fazendo campanha de boca de urna. O Sistema Tribuna afirmou que “tomará as providências legais cabíveis para a reparação dos danos causados aos seus conceituados jornalistas.”
Questionado pela Tribuna do Norte após votar em outra seção na Candelária, outro bairro da capital, Sérgio Leocádio disse não ter nada a declarar.
Procurado pela Abraji, o candidato derrotado não se pronunciou até a publicação desta matéria.
Ponte Jornalismo
No mesmo domingo, a Guarda Civil Municipal (GCM) de Diadema, região do ABC paulista, lançou spray de pimenta contra manifestantes durante o ato contra a morte de um jovem na última terça-feira (10.nov.2020). O repórter Arthur Stabile, da Ponte Jornalismo, cobria o protesto e também foi alvo da repressão.
As imagens registradas pela Ponte mostram o supervisor da (GCM) Penna correndo atrás dos manifestantes para dispersá-los. O comandante também usou o gás lacrimogêneo contra o rosto do jornalista. À Abraji, Stabile declarou que foi atacado mesmo depois de ter se identificado e que vestia roupas que o diferenciavam dos ativistas. “Eles estavam todos de branco, e eu completamente de preto”, explicou.
O repórter do site diz que, em um primeiro momento, não sentiu os efeitos do spray e continuou a gravar a confusão. Depois, foi atacado novamente. No vídeo divulgado pela Ponte, Penna justificou que agiu para afastar o jornalista. O supervisor da guarda alega, na mesma gravação, que não havia identificado Arthur Stabile como jornalista, nas vezes em que usou o gás de pimenta contra o repórter.
Penna relatou à Ponte que a ação teve início porque um guarda levou um tiro durante o ato, mas, ao ser questionado sobre o estado de saúde do homem ferido, não deu maiores detalhes. Stábile conta que Penna passou a reagir de forma violenta quando um homem chamou a GCM de “vermes”.
Procurada pela Abraji, a Prefeitura de Diadema informou que a GCM manteve dois policiais da instituição no local para garantir a segurança do processo eleitoral, na seção da Escola Municipal Humberto Marouelli Mendonça, no bairro de Piraporinha.
A GCM afirmou também que os seus policiais foram alvo de objetos arremessados pelos manifestantes e que receberam ofensas verbais. A GCM declarou que, em meio ao protesto, “ouviu-se um estampido e um dos GCMs informou que havia sido ferido na perna”. Esse agente foi levado ao hospital, onde, de acordo com a prefeitura de Diadema, “constatou-se que o ferimento era proveniente de arma de fogo.”
Na mesma nota enviada à Abraji, a GCM ressalta: “as equipes que chegaram, em apoio, utilizaram armamentos de menor potencial ofensivo, conforme preceitos da Lei 13.060, para dissuadir os manifestantes e garantir a segurança do local de votação”.
Mais denúncias
A Abraji ainda foi informada sobre outros casos de violência contra jornalistas durante a campanha eleitoral.
Na sexta-feira, 13.nov.2020. o jornalista Marcos Guedes, da Record TV, foi espancado na cidade de Valinhos, interior de São Paulo, enquanto apurava uma reportagem sobre desinformação nas eleições do município. Segundo as investigações da Polícia Civil, o principal agressor foi Marcio Xavier Filho, integrante da campanha da Capitã Lucimara (PSD), eleita no domingo prefeita da cidade paulista.
“Impedir que um repórter exerça seu ofício livremente sinaliza o desprezo pela democracia. Apurar informações e revelá-las para a sociedade é o dever da imprensa, sobretudo durante uma campanha eleitoral”, destacou Marcelo Träsel, presidente da Abraji.
O Fantástico, da TV Globo, também noticiou que o filho do prefeito reeleito da cidade de Alvorada, no Tocantins, é suspeito de envolvimento no atentado contra a rádio local BR FM, que faria um debate eleitoral entre os candidatos à prefeitura da cidade. Lucas Ribeiro de Lima é filho de Paulo Antônio (DEM), vencedor do primeiro turno. Dez dias atrás, uma explosão destruiu transmissores da emissora e a Polícia acredita que o incêndio foi provocado pelo atual diretor de meio ambiente da prefeitura da cidade.
Em nota exibida pelo programa, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) condenou o atentado à rádio e disse considerar inaceitável qualquer tipo de ataque contra profissionais e veículos de comunicação.
Outros casos de agressões e tentativas de censura contra veículos e jornalistas também estão sendo apurados pela Abraji. Durante o segundo turno eleitoral, organizações vão continuar recebendo alertas de ataques contra o exercício do jornalismo. Veja como acionar essas entidades aqui.