Abraji lança relatório com dicas de segurança online para jornalistas
  • 08.08
  • 2024
  • 13:58
  • Rafaela Sinderski e Samara Meneses

Liberdade de expressão

Acesso à Informação

Abraji lança relatório com dicas de segurança online para jornalistas

Falar sobre redes sociais é, necessariamente, tratar de uma dualidade: enquanto são um meio importante de circulação e divulgação de conteúdos jornalísticos, também servem como palco para a violência contra pessoas jornalistas e comunicadoras, meios de comunicação e imprensa de modo geral. Essa dinâmica complexa é tema do relatório Violência on-line: a internet como arena de ataques contra jornalistas, lançado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) durante seu 19º Congresso Internacional de Jornalismo.

O relatório apresenta análises sobre a violência online contra jornalistas entre o período de 2021 e 2023, quando o monitoramento passou a destacar se um episódio de violência envolvia ou não uma agressão online. Os discursos estigmatizantes se destacam no ambiente digital, representando 85,9% dos 156 casos registrados nessa categoria em 2023. 


No 19° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, realizado em julho deste ano na ESPM/SP, Gabriela da Costa, pesquisadora na área de democracia e tecnologia no ITS Rio; Patrícia Figueiredo, jornalista freelancer; Paula Guimarães, cofundadora e diretora executiva do Portal Catarinas; e Rafaela Sinderski, pesquisadora da Abraji, realizaram a oficina “Como se proteger de ataques virtuais”, trazendo orientações sobre o que fazer caso sofra um ataque online e como tentar evitar esses episódios com dicas de segurança e proteção digital. 

Palestra “Como se proteger de ataques virtuais”, realizada no 19° Congresso da Abraji na ESPM/SP - foto por: Gadiel Oliveira

Patrícia compartilhou um episódio de tentativa de intimidação virtual enquanto trabalhava como repórter de um projeto de fact-checking, em 2017. “Naquela época, eu ainda não via muitas discussões sobre o que se entendia exatamente por assédio virtual ou ataques digitais contra jornalistas. Na ocasião, não entendi que estava sendo vítima de algo, e segui minha vida, tentando agir normalmente. Só depois de alguns anos, conversando com colegas e, mais recentemente, com uma pesquisadora americana que analisa as pressões que jornalistas enfrentam, é que entendi como aquele episódio me afetou pessoal e profissionalmente.”

Em 2022, cerca de 15 jornalistas foram alvo de tentativas de invasão de contas no X (antigo Twitter), em um ataque massivo de phishing.

Violência de gênero online 

Casos como o de Patrícia não são incomuns, a Abraji identificou que as jornalistas mulheres eram as maiores vítimas de ataques no ambiente digital, por isso criou o Projeto Violência de Gênero contra Jornalistas, analisando mais atentamente tanto a violência de gênero como a online. 

Dos 32 alertas explícitos de gênero identificados, 65,6% tiveram origem ou repercussão na internet em 2023. Dentre as vítimas - mulheres, cis e trans, e comunicadores LGBTQIA+ - 78,1% foram mulheres e 52% deses episódios foram registrados como comentários explicitamente machistas, misóginos e/ou transfóbicos.

“Eu fiquei me sentindo um pouco violada em meu espaço pessoal, que é como eu lidava com as redes sociais naquela época, ao ver pessoas que eu não conheço falando sobre mim de maneira tão agressiva nas postagens. Acho que hoje em dia temos uma percepção muito mais clara de como ataques contra pessoas jornalistas também são ataques contra o jornalismo e não apenas ataques pessoais”, relatou Patrícia. 

Métodos de segurança digital 

Patrícia não deixou de destacar como buscar entender formas de garantir sua segurança online foi essencial para seu trabalho. "Por um lado, o episódio teve um lado positivo, me fez ir atrás de métodos de segurança digital há muitos anos, quando este assunto ainda não era tão falado, e pensar em estratégias de senhas, logins, backups etc. Também me despertou interesse em como eu administro minha presença digital, me levando a repensar muito como e o que eu posto, e para quem."

O uso das redes sociais é fundamental para a divulgação do trabalho jornalístico, sendo inviável que o profissional se ausente do meio digital, portanto, a Abraji reuniu algumas dicas e orientações para que os profissionais de imprensa possam se proteger online. 

Os pontos elencados são recomendações da Abraji, somadas às indicações do Thomson Reuters Foundation em manuais sobre o assunto. Há também indicações da organização Redes Cordiais: 

  • Gerencie o conteúdo que você disponibiliza online: Mantenha de modo privado as informações que podem ser usadas para verificar sua identidade, entrar em contato ou localizá-lo(a) offline. Isso inclui dados como data de nascimento, número de telefone pessoal e endereço;
  • Proteja suas contas: Elabore senhas longas com a combinação de letras, números e caracteres especiais. Nunca reutilize senhas em contas diferentes;
  • Mapeie ameaças: Antes de publicar uma história, pode ser útil mapear os grupos e indivíduos que serão impactados por ela, a fim de prever potenciais reações agressivas online;
  • Proteja sua imagem – e a de quem você ama: Evite expor, com imagens ou outras informações, familiares e amigos em contas profissionais abertas;  
  • Documente o que for possível: Procure documentar parte das mensagens e conteúdos agressivos, principalmente aqueles com tom ameaçador. Esses materiais são provas da violência e podem ser compartilhados com seus editores e enviados às autoridades e a organizações de defesa da liberdade de imprensa – como a Abraji;
  • Denuncie e compartilhe sua experiência: Compartilhar o que está acontecendo pode ajudá-lo(a) a se proteger melhor, além de ajudar outros(as) profissionais que estejam passando pela mesma situação, mas faça isso de forma estratégica; 
  • Não compartilhe a ofensa: Não reproduza o conteúdo das ofensas que você recebeu. Isso ajuda a dar publicidade ao ataque do ofensor ,ajudando-o a atingir seu objetivo de associar seu nome a crimes, xingamentos, adjetivos pejorativos.
  • Não mergulhe nas ofensas: Preserve a sua saúde mental evitando ler e ver todos os comentários ofensivos. Peça ajuda a alguém próximo, a sua redação ou a uma organização para ajudar a recolher e documentar esses comentários.
  • Para as redações: Ofereçam conversas e treinamentos sobre doxing e outras formas de assédio virtual, preparando, dentro do possível, seus profissionais para tais acontecimentos. Organizações internacionais como a Thomson Reuters Foundation e o The New York Times possuem guias de como se proteger de assédio online.

Lista de organizações que apoiam jornalistas brasileiros em situação de crise/vulnerabilidade por algum motivo:

CPJ
Rory Peck Trust
Free Press Unlimited
RSF
IWMF
Abraji
ITS Rio
Tornavoz
Ajor
Rede de Proteção de Jornalistas e Comunicadores 

Uma lista de organizações mais global está disponível no site da rede Journalists in Distress (JiD) Network.
 

 

 

Assinatura Abraji