Abraji lança documentário sobre seus 20 anos
  • 07.12
  • 2022
  • 14:00
  • Abraji

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Abraji lança documentário sobre seus 20 anos

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) completa, nesta quarta-feira (7.dez.2022), 20 anos de atuação. É uma história que se mistura com as mudanças nas redações e nas universidades, no modelo de negócios e nas formas de fazer jornalismo, com os avanços e retrocessos na profissão, a consolidação de meios independentes e a trajetória de um jornalismo que pautou as grandes transformações do país. O aniversário será celebrado com a divulgação do documentário on-line “Abraji 20 anos: de Tim Lopes a Dom Phillips”.

Roteirizado, dirigido e montado por Diego de Godoy e com 46 minutos de duração, o documentário foi gravado durante a última edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em ago.2022, na FAAP, em São Paulo.

Dividido por subtemas, o filme aborda, entre outros pontos-chave, a transição entre as reportagens com auxílio de computador (RAC) e o que se conhece hoje como jornalismo de dados, além de um problema com o qual os jornalistas tentam resolver: a desinformação.

A história é contada a partir dos depoimentos de todos os ex-presidentes da organização: começando pelo cofundador Marcelo Beraba, passando por Angelina Nunes, Fernando Rodrigues, Marcelo Moreira, José Roberto de Toledo, Thiago Herdy, Daniel Bramatti, Marcelo Träsel e a atual presidente, Katia Brembatti.

Cecília Olliveira, atual diretora da Abraji, e Marina Atoji, que foi gerente executiva da associação por oito anos, de 2012 a 2020, e hoje atua como gerente de projetos na Transparência Brasil, falam sobre temas caros à Abraji, como a necessidade de diversidade, representatividade e inclusão no jornalismo e como a Lei de Acesso à Informação, encampada fortemente pela Abraji, se tornou um avanço institucional importantíssimo para a formação de uma sociedade mais transparente e democrática.

Kátia Brasil, cofundadora e editora executiva da Amazônia Real, compartilhou o que a agência de jornalismo independente tem feito em Manaus. Ela cita um trabalho de formação desenvolvido para jovens indígenas, para que possam contar suas próprias histórias.

Um dos pontos do documentário trata do dilema em torno do próprio nome da Abraji, que poderia sinalizar algo “fechado” e “setorizado”, excluindo outras formas de se fazer jornalismo. José Roberto de Toledo, que dirigiu a Abraji no biênio 2014-2015, relembra a discussão que marcou a época da criação da entidade: uma associação de jornalismo ou de jornalismo investigativo?

“Nem todo jornalismo é investigativo. A cobertura de uma partida de futebol é jornalismo. A cobertura de um debate eleitoral é jornalismo. Agora, para fazer uma investigação, você precisa de tempo, de gente qualificada, de recurso”, disse Toledo.

“Por isso mesmo é um jornalismo mais caro de se fazer e o mais difícil. Porque outra característica do jornalismo investigativo é que ele vai mostrar coisas que outros estão tentando esconder”, completou Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, em outro trecho do documentário.

Como um dos objetivos era elevar o padrão do jornalismo que vinha sendo praticado no Brasil e, de certa forma, levar as redações a estimular entre suas equipes a realização de apurações aprofundadas, por meio de técnicas de investigação, optou-se por criar uma associação voltada para o jornalismo investigativo.


Da RAC ao jornalismo de dados

No documentário, Rosental Calmon Alves recordou que, no Brasil, a Abraji foi o principal agente incentivador da RAC (Reportagem Assistida por Computador) - quando a apuração jornalística é feita com o auxílio de computadores -, o princípio do Jornalismo Guiado por Dados.

À medida que governos e instituições ligadas ao poder público começavam a utilizar canais para compartilhar informações e bases de dados diretamente com o público, o valor das fontes exclusivas para os jornalistas passou a cair. Se por um lado os repórteres deixavam de depender exclusivamente das fontes oficiais, por outro despontava a necessidade de dominar técnicas e ferramentas para navegar em grandes volumes de dados a fim de extrair informações de interesse jornalístico.

“É quando a gente faz a transição da planilha de Excel para a linguagem de computador. Você deixa de usar números e letras e passa a usar códigos. Porque as quantidades de informações e de dados já não eram mais na casa dos milhares ou das centenas de milhares ou do milhão. Já era na casa do bilhão. Então, foram saltos que a imprensa foi tendo que dar, se adaptando às mudanças tecnológicas, e a Abraji teve um papel importante para garantir que essas técnicas chegassem para um maior número de jornalistas”, pontuou Toledo.


Uma resposta à morte de Tim Lopes

Mais do que contar a história da Abraji, o documentário se propõe a mostrar as transformações que atravessaram o cenário da mídia brasileira e mudaram o jeito de se fazer jornalismo no país.

“Quando morre Tim Lopes, a nossa preocupação com a segurança se eleva em um novo patamar, de que algo a mais era preciso fazer. Não bastava apenas, como era feito, pautar jornalistas experientes que sabiam como planejar, como entrar e como sair de uma favela”, refletiu Marcelo Moreira, que liderou a Abraji de 2012 até o fim de 2013.

Uma das principais organizações na área da proteção aos jornalistas no Brasil, a Abraji promoveu, ao longo desses 20 anos, não só treinamentos para preparar profissionais para executar pautas de risco, como também iniciativas que denunciassem as violações contra a imprensa e seus profissionais, fossem ataques físicos, ameaças virtuais, assédios judiciais ou assassinatos. 

“Quando eu vejo, hoje, a morte do Dom [Phillips, jornalista britânico assassinado no Amazonas em 2022], comparando com a morte do Tim, houve um retrocesso [...]. A gente andou muitos passos para trás. Quando eu soube da morte do Dom, eu falei ‘não é possível que 20 anos depois essa cena se repita’. E a impunidade é esse combustível para que a violência continue”, avaliou Angelina Nunes, uma das fundadoras da Abraji e hoje coordenadora do Programa Tim Lopes, criado em 2017 como uma resposta ao aumento da violência contra jornalistas.

Além do documentário, a Abraji publica hoje (7.dez.2022) um resumo de suas missões, projetos e desafios. Para saber mais, clique aqui.


Documentário “Abraji 20 anos: de Tim Lopes a Dom Phillips”
Roteiro, direção e montagem: Diego de Godoy
Direção de fotografia e som direto: Luiz Cunha
Fotografia adicional: Carol Quintanilha
Artes e pós-produção: @dgdgd.tv

 

Assinatura Abraji