Abraji lamenta morte de Alberto Dines, homenageado no Congresso de 2016
  • 22.05
  • 2018
  • 17:04
  • Abraji

Abraji lamenta morte de Alberto Dines, homenageado no Congresso de 2016

O jornalismo brasileiro perdeu nesta terça, 22.mai.2018, Alberto Dines, que morreu em São Paulo de insuficiência respiratória, em consequência de uma pneumonia. Aos 86 anos e 66 de carreira, Dines passou por vários veículos e empresas de mídia, como Última Hora, O Pasquim, Folha de S.Paulo e Editora Abril. Mas foi no Jornal do Brasil que se destacou nos anos 60 e 70, investindo em jornalismo de qualidade e na modernização do projeto gráfico. Em 1994, criou o Observatório da Imprensa, cuja missão era - e ainda é - debater o jornalismo contemporâneo. 

A Abraji lamenta a morte de Dines, que foi homenageado por sua contribuição ao jornalismo durante o Congresso de Jornalismo Investigativo de 2016. Impossibilitado de comparecer, enviou o seguinte discurso lido por sua mulher, Norma Couri, durante a sessão de homenagem:

Caros amigos, caras amigas:

As circunstâncias me impedem de receber pessoalmente esta homenagem, que muito me orgulha e a que agradeço de coração.

Sobretudo por vir de uma entidade que reúne a nata dos repórteres brasileiros.

Todo Jornalismo é investigativo, ou não é Jornalismo.

Donde se conclui que o que lemos, ouvimos e vemos todos os dias na imprensa não é Jornalismo.

Jornalismo hifenado, interpretativo, opinativo ou meta-qualquer-coisa, ou é um hífen ou uma cláusula limitativa.

Diante de uma premissa tão drástica, qualquer Jornalismo hifenado mais confunde do que esclarece. É uma falsa questão.

O que sobra da mídia diária é o que o olho do público vai buscar nas entrelinhas.

Só se criam caçadores da verdade com treinamento intensivo – com fórmulas e dedicação intensivas.

Mas o que estamos criando é um público dispersivo, apático, incapaz de reagir ou questionar.

Estamos produzindo midiotas, negligentes e distraídos – um público disperso.

Essa falsa questão é corrigida no dia a dia com iniciativas como as propostas pela Abraji, por aqueles que escapam do engodo e sobrevivem às armadilhas das teorizações apressadas – os que permanecem lúcidos.

Poucos.

Devem estar nesta plateia e seguramente estarão integrados à Abraji. Ainda bem..

Longa vida para a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo.

Muito obrigado.

Alberto Dines

Diretores e conselheiros da Abraji comentam a importância de Dines

Dines promoveu, inspirou ou investigou em profundidade todas as transformações do jornalismo brasileiro nas últimas décadas. Uma rara referência tanto na teoria quanto na prática da nossa profissão. A Abraji, que o homenageou em 2016 e recebeu dele palavras de carinho e respeito, lamenta a partida deste gênio que citava até a mecânica quântica ao falar da necessidade de trazer a discussão do jornalismo para a arena pública: “Ao observar um fenômeno, você interfere no fenômeno”, disse, em entrevista, em 2012.”‘Vamos observar a imprensa e, ao fazê-lo, o observador se sentirá observado e mudará seu comportamento.”

Daniel Bramatti, presidente

As primeiras páginas de Dines no JB durante a ditadura foram talvez a cereja do bolo de uma carreira recheada de ensinamentos sobre a força, a beleza e o compromisso do jornalismo com a democracia. Que o exemplo dele e de suas críticas ainda muito atuais ilumine nossa caminhada e faça com que reflitamos todos os dias sobre o que estamos fazendo.

Guilherme Amado, vice-presidente

Uma vez a jornalista e escritora norte-americana Janet Malcolm escreveu: "Qualquer jornalista que não seja demasiado obtuso ou cheio de si para perceber o que está acontecendo sabe que o que ele faz é moralmente indefensável." O incansável rigor e a crítica reflexiva do próprio campo noticioso, questões primordiais para Dines, mostram que o alcance do torpedo de Malcolm era limitado apenas a quem não concebia o jornalismo como arma de combate, como área de conhecimento primordial ao exercício democrático. Dines representou (e representa) um profissional que, a despeito das bombas sobre sua prática, não deixou de perceber sua importância em um país que privilegia a distração. Que siga iluminando.

Fabiana Moraes, diretora

Não conheci o Dines pessoalmente, mas cresci acompanhando o trabalho dele no Observatório da Imprensa. Aprendi que o jornalismo é ofício artesanal, que requer técnica e estudo, que nossa atividade pode e deve ser discutida, aperfeiçoada e criticada em público. Jornalismo não é produção de panfleto, não é folhetim de propagação de dogma ou de fé, seja para que lado for. Com o tempo, esse espaço defendido pelo Dines se tornou cada vez mais exíguo. É irônico que a morte dele tenha acontecido na semana em que as agências de checagem de fatos estejam sob ataque justamente de quem se incomoda com o tipo de comunicação que ele defendia, uma comunicação ética, aguda, precisa.

João Paulo Charleaux, diretor

Brilhante e generoso. No começo dos anos 80, entrevistei Dines para a faculdade. Fiz tudo errado: me atrasei, gravador queimou. Ele nem registrou o vexame na memória. Só pensava no que era importante. Solidário e dedicado, foi pioneiro na prática e na crítica ao jornalismo. Exemplar.

José Roberto de Toledo, conselheiro

O JB do Dines era um cult obrigatório na universidade. Anos mais tarde, nas pesquisas para o meu livro, usei muito material do jornal que ele editava. É impressionante a qualidade das coisas. Mesmo hoje é difícil achar reportagens tão bem pensadas e acabadas como muitas que saíam lá. 

Leandro Demori, conselheiro fiscal

Dines é uma referência, um sinônimo do bom jornalismo como ele sempre será: intenso, preciso e ético. Fará muita falta em tempos tão disruptivos. 

Maiá Menezes, diretora

Dines abriu caminhos tanto no mercado quanto na academia e produziu trabalhos inovadores em ambos os lados do balcão. Foi um jornalista completo.

Marcelo Träsel, diretor

Assinatura Abraji