- 09.12
- 2021
- 17:40
- Abraji
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Abraji e Farol olham para desafios do jornalismo no Brasil em 2022
Pandemia, eleições, crise econômica, desinformação e crescimento das ameaças à liberdade de imprensa. Esse é o cenário que se desenha para os jornalistas brasileiros em 2022. Um ano em que a exaustão, após dois anos da pandemia de covid-19 e de sucessivas crises políticas, não poderá ditar o ritmo do trabalho jornalístico, cada vez mais precarizado. E, em meio a tantos desafios, o próximo ano aponta ainda para o fortalecimento das iniciativas independentes e do empreendedorismo dos profissionais.
Esse é o quadro traçado pelo especial “O Jornalismo no Brasil em 2022”, parceria do Farol Jornalismo e da Abraji e lançado hoje (09.dez.2021). Para o projeto, que este ano chega a sua sexta edição, Moreno Osório, fundador do Farol, convidou dez profissionais que escreveram sobre diversos temas, como a cobertura de assuntos ligados a pessoas com deficiência e do acesso desse público a informações, como apresenta Gustavo Torniero em seu artigo.
“Promover o jornalismo de qualidade é um dos pilares da Abraji, e os artigos neste novo especial em parceria com o Farol podem contribuir para que nós, jornalistas, tomemos um tempo para avaliar os desafios e oportunidades para melhorar cada vez mais a nossa prática profissional”, afirma Marcelo Träsel, presidente da Abraji.
Outro assunto abordado no especial foi a dificuldade na obtenção de dados que deveriam ser públicos para a cobertura das diversas instâncias de poder, como destaca Maria Vitória Ramos, diretora da Fiquem Sabendo, que escreveu sobre o uso indevido da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) para negar informações que deveriam ser obtidas via Lei de Acesso a Informações (LAI).
Falando de estereótipos e negligência da cobertura jornalística tradicional sobre determinados grupos, Lenne Ferreira, do Alma Preta, afirma que esse é um contexto que vem mudando, ainda que impulsionado pelas reações nas redes sociais, e que o próximo ano deve espelhar essas transformações. Para ela, o jornalismo deve buscar a pluralidade e mostrar as realidades diversas que compõem o país, nas questões raciais, sociais, econômicas ou religiosas.
Sob o risco do recrudescimento da violência devido à profissão, o jornalista enfrentará as mudanças que vêm ocorrendo no fazer jornalístico, como o fechamento das redações e a apuração cada vez mais virtual por conta da crise sanitária. A organização do trabalho on-line tende a ser seguida em 2022, como explicam as pesquisadoras da Universidade de São Paulo (USP) Ana Flávia Marques e Janaina Visibeli, com o modelo híbrido (cloud based). E não se fala apenas em desaparecimento das redações, mas em enxugamento de equipes e precarização das relações de trabalho.
Os riscos de aumento dos ataques à profissão, potencializados por uma disputa dura nas eleições presidenciais, são apontados pela pesquisadora e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Verônica Toste.
Fundador do site Congresso em Foco, Sylvio Romero afirma que, diante de uma cobertura política difícil e de um contexto de autoritarismo crescente, o jornalista deve buscar três frentes de atuação: estabelecer novas relações com seu público, fazer parcerias com o saber científico e incorporar cada vez mais a tecnologia em seus processos.
Também falando sobre jornalismo político, a repórter do UOL Juliana Dal Piva destaca perguntas importantes que devem ser feitas durante a cobertura eleitoral. Uma delas é sobre como dar espaço equânime aos candidatos, uma vez que a relação do presidente Jair Bolsonaro (PL) com a imprensa está cada vez mais deteriorada.
É preciso que o jornalismo em 2022 mantenha os olhos abertos para as mudanças climáticas. É o que alerta André Biernath, repórter de ciência da BBC Brasil, destacando que a falta de dados científicos no Brasil pode travar o crescimento do jornalismo científico. E é nesse deserto de dados e informações públicas que cresce a desinformação, como escreve o editor do Aos Fatos Luís Felipe dos Santos. Ele mostra como a disputa por atenção nas redes estabeleceu um “sistema de crenças”, ancorado muitas vezes em afirmações falsas em detrimento da realidade.
Mas 2022 traz um novo fôlego para o jornalismo. Ele nasce das periferias das cidades e dos grandes centros do país, baseia-se na escuta e na maior proximidade entre o jornalista e a comunidade sobre a qual e para quem ele escreve. O artigo de Laércio Portela, da Marco Zero Conteúdo, vai nessa linha e apresenta uma série de iniciativas, sobretudo no Norte e Nordeste do País.
“Dizer que 2022 será difícil é uma projeção fácil, senão óbvia. Que consigamos, apesar da exaustão, dos ataques e da precarização, fazer a profissão evoluir no ano que se avizinha — e assim reforçar ainda mais as barricadas de defesa da democracia”, escreveu Moreno Osório, no texto de abertura do projeto.