Abraji condena exposição de dados pessoais de repórter do projeto Comprova
  • 16.11
  • 2020
  • 20:00
  • Abraji

Abraji condena exposição de dados pessoais de repórter do projeto Comprova

Entre os dias 11.nov.2020 e 14.nov.2020, a estudante de jornalismo Andressa Vieira, integrante do Coletivo Niara, grupo de disseminação da cultura negra da Universidade Federal do Pampa, no Rio Grande do Sul, foi vítima de doxing (exposição de dados pessoais na internet). Ela teve seu nome e telefone divulgados pela advogada Flávia Ferronato.
 
Andressa Vieira afirma que abordou a advogada no dia 10.nov.2020 pelo Twitter, usando a conta oficial do Coletivo Niara para questioná-la sobre informações veiculadas em um texto que comparava condutas dos desenvolvedores de vacina contra a covid-19 e fazia afirmações enganosas sobre o Instituto Butantan e o governo de São Paulo.

A verificação do artigo opinativo pelo site Jornal da Cidade Online também estava sendo realizada pelo portal Favela em Pauta e pelo maior grupo de mídia de Santa Catarina, o NSC Total. Todos integram o consórcio de 36 veículos e coletivos independentes do projeto Comprova, iniciativa sem fins lucrativos para verificar desinformação, coordenada pela Abraji.

Após o coletivo ter sido bloqueado no Twitter da advogada, Vieira buscou no site da OAB os contatos de Ferronato. Por telefone, a advogada disse que só responderia a perguntas pelo WhatsApp, mas impôs uma condição para a conversa continuar: que a estudante informasse o seu RG, o que foi desaconselhado pela Abraji.

Ferronato então usou sua conta no Twitter para expor os prints das conversas com a repórter e divulgou o telefone de Vieira em um vídeo no qual era entrevistada por Ricardo Roveran, do programa  “Ponto Central”, no dia 14.nov.2020. A pedido da Abraji, o YouTube derrubou o vídeo no dia seguinte (15.nov.2020). 

No dia 13.nov.2020, o blog Rota 2014 já havia revelado o celular de Andressa Vieira. No mesmo dia, o Jornal da Cidade Online publicou a foto da estudante em uma matéria em que classifica o Comprova como “partidário”, expondo ainda o nome de um ex-funcionário da Abraji, o qual não tem relação alguma com o projeto.

Desde os episódios, o Coletivo Niara tem sido alvo de mensagens misóginas. A estudante recebeu uma mensagem anônima em seu celular solicitando seu número de documento de identidade.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo repudia a atitude da advogada Flávia Ferronato de expor o nome e o número do celular da repórter e as mensagens que trocaram pelo Whatsapp durante uma apuração jornalística. Além de ser uma clara forma de intimidação, vazamentos do tipo podem incitar ataques coordenados de seguidores e militantes aos profissionais de imprensa vítimas da exposição.

Como a Abraji mostrou em casos similares contra jornalistas mulheres, o doxing coloca em risco a integridade física de repórteres e é uma forma de constrangimento à liberdade de imprensa. Como advogada, Ferronato lançou mão de um expediente perigoso, para intimidar alguém que estava tão somente fazendo seu trabalho. 

Como se isso não bastasse, discursos estigmatizantes propagados por veículos como o Jornal da Cidade Online tentam desacreditar o trabalho das agências de checagem, fundamental para a democracia, sobretudo durante a maior crise sanitária da história.

Diretoria da Abraji, 16 de novembro de 2020.
 

Assinatura Abraji