Abraji condena discurso de vereador contra repórter de Pelotas (RS)
  • 20.01
  • 2023
  • 18:10
  • Abraji

Liberdade de expressão

Abraji condena discurso de vereador contra repórter de Pelotas (RS)

Na terça-feira passada (17.jan.2023), César Brisolara, conhecido como Cesinha (PSB), presidente da Câmara de Vereadores de Pelotas, no Rio Grande do Sul, abriu sua fala na tribuna proferindo ataques à jornalista Rafaela Rosa, do Diário Popular, veículo com 132 anos de circulação pelo interior do estado. Ao contestar uma reportagem, publicada naquele dia, que tratava de planos para criar e alterar cargos e regras na Casa Legislativa, o vereador afirmou ser vítima de perseguição e chamou a repórter de “incapaz”, “incompetente” e “tendenciosa”.
 
Em sua fala, Brisolara também manifestou incômodo com a capa do mesmo jornal no dia 08.dez.2022. Ele lembrou que o Diário Popular colocou a manchete de uma fraude na área de saúde da cidade e, logo abaixo do texto, havia uma foto dele sobre outra reportagem, também assinada por Rafaela Rosa. Disse que a escolha da diagramação feita pelo jornal deu a entender que ele era um bandido – e que a opção editorial sinaliza, no fundo, questões de racismo por um negro ocupar um espaço de poder. Segundo ele, o jornal reconheceu o erro na edição, mas nunca se retratou.

Voltando ao tema da reportagem publicada em janeiro, o vereador afirmou que a repórter publicou informação errada por "não saber fazer contas de matemática" e que ela o perseguia. Declarou também que Rafaela Rosa trocava mensagens com uma servidora que ocupa um cargo de direção na Câmara e poderia ter esclarecido os fatos antes de falar de novas nomeações, e que é por isso que “a sociedade não acredita nos meios de comunicação”. 

À repórter, o vereador Cesinha sugeriu que deixasse o jornalismo para disputar uma eleição e fazer política. Antes dos ataques na Câmara, Rafaela Rosa já tinha pedido demissão do Diário Popular após aceitar um convite para atuar como jornalista em Brasília. Procurada, a assessoria de imprensa do vereador não respondeu aos questionamentos da Abraji enviados por email.

A Abraji repudia os ataques e cobra da presidência do PSB no Rio Grande do Sul e da Câmara de Vereadores um posicionamento sobre o caso. Se valer do poder de usar a tribuna por mais de 13 minutos para defender a liberdade de imprensa e, ao mesmo tempo, tentar descredibilizar o trabalho de uma jornalista não é apenas uma contradição, mas, principalmente, uma manobra política para evitar condenações das organizações que monitoram as violações à liberdade de expressão.

Pelo papel do jornalismo de exercer o escrutínio dos poderes públicos, a relação entre imprensa e políticos pode ser tensa e, muitas vezes, conflituosa. Mas espera-se civilidade no jogo democrático ao apontar erros e imprecisões em reportagens. Veículos têm obrigação de corrigi-los - como o Diário Popular fez no dia seguinte às reclamações apontadas pelo vereador. Mas classificar publicamente a jornalista de burra é desrespeitoso e reforça estigmas contra mulheres no exercício da profissão.

Diretoria da Abraji, 20 de janeiro de 2023.
 

Assinatura Abraji