- 09.12
- 2020
- 16:11
- Abraji
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Abraji condena ataque da PMRJ contra o repórter Rafael Soares
No começo da noite da terça-feira (08.dez.2020), a Polícia Militar do Rio de Janeiro publicou, nas redes sociais da corporação, um vídeo de dois minutos com ofensas e acusações infundadas contra o jornalista Rafael Soares, que cobre segurança pública para os jornais O Globo e Extra. Na tarde de 09.dez.2020, a tenente-coronel responsável pelo vídeo foi exonerada do cargo de porta-voz.
Amparado em documentos públicos internos produzidos pela PM, o jornalista assinou a reportagem sobre o aumento do uso e do descarte da munição usada por policiais do 15º BPM, em Caxias, região da Baixada Fluminense - o mesmo batalhão de policiais investigados pela morte das meninas Emilly e Rebecca, atingidas por um tiro de fuzil quando brincavam na porta de casa, na sexta-feira passada (04.dez.2020).
No vídeo, a tenente-coronel Gabryela Dantas, coordenadora de comunicação social e porta-voz da PM fluminense, classifica a reportagem como “maldosa”, “irresponsável”, “covarde”, “mentirosa” e “inescrupulosa”. Também acusa o autor de fazer ilações sem fundamento sobre o consumo de munições.
Ainda segundo a porta-voz, Rafael Soares se aproveitou "da comoção nacional (a morte de mais duas crianças negras) para colocar a população contra a Polícia Militar". Ela insinua que o repórter, mesmo depois de ter procurado a PM, ignorou a contestação dos dados fornecidos pela equipe de Comunicação. A tenente-coronel ignora que a matéria publicada tem a versão da PM incluída.
Nos últimos segundos do vídeo, a tenente-coronel dá a entender que o trabalho do repórter - que “ao longo dos anos” teria tentado rotular as tropas da corporação - poderia ter evitado a morte do cabo Derinaldo Cardoso dos Santos, baleado em Mesquita, também na Baixada Fluminense. Mas a oficial não detalha como o trabalho crítico da imprensa poderia interferir na morte de policiais durante um assalto.
A convocação para divulgar de forma massiva o vídeo teve efeito imediato. Em menos de uma hora, Rafael Soares foi obrigado a fechar suas redes sociais devido a centenas de notificações de ofensas, inclusive pedindo a prisão dele.
O linchamento virtual continuou nas últimas horas. A deputada federal Major Fabiana (PSL-RJ), PM reformada, escreveu: "Que a classe jornalística entenda o recado e comporte-se com ética. É só o começo". Outros parlamentares do mesmo partido também convocaram seus apoiadores, como o deputado estadual Anderson Moraes (PSL-RJ), que chamou Rafael e os jornalistas de "vermes defensores de vagabundos". Dois deputados oriundos da PM do Rio também ecoaram as hostilidades.
Apesar da exoneração da tenente-coronel, o vídeo com os ataques ao jornalista continuava circulando até a emissão desta nota, às 16h15.
A Abraji manifesta solidariedade a Rafael Soares. A incitação da população contra o jornalista mostra não só falta de respeito à liberdade de imprensa, mas claro objetivo de intimidar o repórter.
Diretoria da Abraji, 09 de dezembro de 2020.