- 08.09
- 2022
- 11:00
- Abraji
Liberdade de expressão
Abraji condena ameaças de morte e desinformação contra colunista do UOL
No sábado (27.ago.2022), o jornalista, escritor e crítico literário Julián Fuks, do Ecoa/UOL, publicou sua crônica semanal com críticas à decisão do governo de tratar o coração de Dom Pedro I com pompa para o bicentenário da Independência. No texto original, o colunista usou a palavra “terrorista” em sentido figurado e evocou uma ação “poética” contra a violência e a brutalidade. Foi irônico e recorreu à metáfora, linguagem própria da literatura, para convocar um ativista com “total aversão a sangue e crueldade” - ou seja, o contrário de um terrorista.
Desde então, perfis bolsonaristas nas redes sociais, dois filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros apoiadores do chefe do Executivo passaram a fragmentar e potencializar a falta de contexto da publicação. Um dos sites que apoia o presidente publicou a seguinte manchete: “BOMBA: Colunista do UOL defende contratação de um terrorista para atrapalhar os atos de 7 de setembro”.
O programa "Os Pingos Nos Is", da Jovem Pan, disse que Fuks pediu “ato terrorista” e dedicou quatro minutos para analisar “a convocação”, se aproveitando da situação para trazer o envolvimento do candidato à presidência Lula, publicando foto do Fuks com o candidato. Em seu perfil no Twitter, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) cobrou posição do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), depois de escrever que a “esquerda ameaçava a democracia”.
Não é novidade que disseminadores das chamadas fake news se concentrem apenas em títulos provocativos, ignorando o texto na íntegra e concluindo o restante com base em suas crenças. O problema é que ataques virtuais nem sempre ficam na esfera de uma interpretação errada do texto, desencadeando ofensas e xingamentos, além de comentários xenófobos, já que o jornalista tem origem argentina. Fuks passou a receber mensagens privadas com ameaças de morte contra ele e a família. Em uma delas, um homem que se diz militar e mandou fotos com armas, avisou que tem como missão matar terroristas.
A Abraji se solidariza com Julián Fuks e condena agentes públicos que desconsideraram o propósito do texto. Forja-se um crime que não existiu para alimentar os discursos estigmatizantes contra jornalistas, atualmente o tipo de ataque mais frequente contra profissionais de imprensa, segundo nossos registros. Os ataques representam uma violação à liberdade de expressão, direito assegurado pela Constituição e pilar fundamental da democracia.
Diretoria da Abraji, 05 de setembro de 2022.