Abraji completa 18 anos em meio a cenário de ameaças à liberdade de imprensa
  • 07.12
  • 2020
  • 18:00
  • Abraji

Formação

Liberdade de expressão

Acesso à Informação

Abraji completa 18 anos em meio a cenário de ameaças à liberdade de imprensa

A Abraji completa hoje (07.dez.2020) 18 anos desde sua criação, quando, em um auditório lotado na Escola de Comunicações e Artes da USP, cerca de cerca de 140 jornalistas ergueram os braços concordando em iniciar o que se tornaria uma das principais organizações de jornalistas do Brasil. De lá para cá, o cenário de ameaças à liberdade de expressão e de imprensa e ao direito de acesso a informações públicas recrudesceu, mas isso só confirma a importância dos pilares que a Abraji defende desde sua fundação.

Naquele dezembro de 2002, fazia seis meses que o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, havia sido perseguido, sequestrado, torturado e assassinado a mando do tráfico de drogas, enquanto realizava uma investigação no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.

A criação da Abraji surgiu na segunda edição do seminário “Jornalismo investigativo: ética, técnicas e perigos”, que também havia acontecido em agosto daquele ano, no Rio de Janeiro. O evento, promovido pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, respondia aos anseios de grande parcela de jornalistas no país.

O pontapé que levou à criação da Abraji surgiu de uma troca de e-mails entre uma rede de 45 jornalistas, iniciada em setembro de 2002 pelo jornalista Marcelo Beraba, sensibilizado com a tragédia ocorrida com Tim Lopes. Confira o vídeo de Beraba relembrando as ideias que prevaleceram quando da criação da Abraji.

O objetivo era criar uma organização que protegesse e representasse os jornalistas no país e também contribuísse para o desenvolvimento da imprensa. A iniciativa recebeu, aos poucos, o apoio de entidades representativas e de departamentos de jornalismo de universidades Brasil afora. Era evidente a necessidade de uma formação contínua de repórteres e editores, criando cursos e contando bastidores de reportagem.

“Havia esforço dos sindicatos e da (ABI) Associação Brasileira de Imprensa, mas eram assistemáticos, ocasionais [...] Não se permitia uma troca de informação de como fazíamos as matérias”, explica Beraba em depoimento ao terceiro episódio do podcast Jornalismo sem trégua, criado pelo Projeto Tim Lopes.

No mesmo programa do podcast, o brasileiro Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas, lembra que, em 2002, tinha acabado de obter financiamento para tocar um projeto na América Latina e no Caribe durante quatro anos. “Que era justamente para ajudar jornalistas na capacitação e na organização”, relembra Alves.

“Tínhamos ali os melhores repórteres do Brasil, todos ocupados. Percebi desde o começo que ela (Abraji) não se consolidaria, se não tivesse uma administração. Então eu me ofereci para pagar uma pessoa que fosse o gerente da organização”, complementa o jornalista e professor.

Marcelo Soares, o primeiro gerente da Abraji remunerado com dinheiro da Fundação Knight, avalia como a fundação de uma associação, nos moldes da americana IRE, criada em 1975, nos Estados Unidos, impactou o jornalismo brasileiro.

“O fato de a morte dele (Tim Lopes) ter acordado os jornalistas para a necessidade de treinamento e técnica de segurança foi uma coisa nova no Brasil. Até então quem falava para os jornalistas eram as empresas, as faculdades, de maneira muito teórica, ou os sindicatos, apenas pela questão  trabalhista. Aquela tragédia acabou abrindo os nossos olhos sobre o quanto a gente precisava se profissionalizar”.

Na maioridade, a Abraji atua sob três pilares: aprimoramento profissional dos jornalistas, defesa do direito de acesso a informações públicas e defesa da liberdade de expressão. 

A luta por um jornalismo de qualidade e o fortalecimento da democracia permanecem como objetivos mais amplos.

“O aniversário de 18 anos da associação se dá num momento de enormes desafios para o jornalismo, no qual temos sido convidados pelas circunstâncias a estarmos à altura da ‘maioridade’ e nos colocarmos na linha de frente da defesa dos repórteres e da reportagem, ao lado de outras associações de classe, sindicatos, empresas e instituições comprometidas com a democracia”, diz Marcelo Träsel, presidente da Abraji. 

O que a Abraji fez em 2020

Durante a pandemia do novo coronavírus, a Abraji promoveu quatro cursos gratuitos. Foram 5.538 profissionais e estudantes treinados, de todas as regiões do país, totalizando mais de 100 horas-aula. A associação também realizou cinco webinários com convidados nacionais e internacionais e traduziu manuais e reportagens.

A Abraji colocou no ar, de forma virtual, um dos maiores eventos de jornalismo da América Latina: a 15ª edição do Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo. Quem participou teve direito a assistir, de graça, a mais de 50 horas de minicursos, palestras e bastidores de investigações premiadas. Foram mais de 10 mil inscritos.

Além da formação continuada, a Abraji monitora os ataques à imprensa (violência, censura, agressões e assédio on-line) e envia os alertas ao Voces del Sur, que faz um mapa das violações contra profissionais de comunicação em 14 países da América Latina. E acompanha avanços e retrocessos no cumprimento da Lei de Acesso à Informação.

Neste ano, a organização passou a acompanhar casos de jornalistas bloqueados por autoridades no Twitter e, por meio de um convênio com a OAB, orienta profissionais que sofreram hostilidades no ambiente digital.

Conheça um pouco mais sobre os projetos da Abraji

CTRL+X - Monitora tentativas judiciais de retirada de conteúdo. Por meio da ferramenta, por exemplo, é possível saber quem são os políticos que movem ações judiciais contra jornalistas e comunicadores.

Achados e Pedidos - Monitora o cumprimento da Lei de Acesso à Informação (LAI), facilita o acesso de jornalistas a pedidos já feitos, evitando solicitações repetidas à administração pública. O projeto criou uma base de dados extensa, com mais de 100 mil pedidos, o que possibilita análises sobre a taxa de resposta satisfatória de cada órgão.

Publique-se - Ferramenta de busca que indexa milhares de documentos de processos judiciais nos quais há políticos envolvidos como partes. Recentemente, o projeto revelou 451 candidatos nas eleições municipais deste ano que possuem processos na Justiça.

CruzaGrafos - Ferramenta gráfica de software livre para verificações cruzadas e investigações avançadas de dados. Na prática, ao lidar com uma grande base de dados, os jornalistas vão conseguir visualizar conexões entre pessoas, empresas, políticos, instituições e dados públicos.

Comprova - Coalizão que reúne jornalistas de 28 diferentes veículos de comunicação para descobrir e investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas. Em 2020, incorporou à iniciativa oito coletivos de periferia de todas as regiões do Brasil.

Tim Lopes - Projeto que visa a não deixar impunes assassinatos contra jornalistas, em especial no interior do país. Desde que foi criado, em 2017, produziu documentários e reportagens sobre alguns dos crimes mais simbólicos contra comunicadores e repórteres do Brasil. Em 2020, lançou a primeira temporada do podcast Jornalismo sem trégua.

 

Assinatura Abraji