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Abraji 10 anos: entidade discute definição de “jornalismo investigativo”

Publicado em 10 de Dezembro de 2012, em Comunique-se.

 

Nathália Carvalho

Ao completar 10 anos, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) abriu esta semana com um seminário internacional para discutir a atuação da entidade no país e fazer um balanço sobre o trabalho realizado. Com a presença de todos os ex-presidentes da entidade e profissionais do mercado, a ocasião aproveitou para tentar definir o jornalismo investigativo.

Abraji prepara novidades para os próximos anos

Quem apresentou a proposta foi o diretor-executivo da Abraji, Guilherme Alpendre, que explicou o projeto. Diversas entrevistas sobre o tema foram realizadas e, no momento, o representante da associação mostrou o que cada profissional disse sobre o assunto.

 A pesquisa não trouxe um pensamento fechado, mas sabe-se que faz parte do jornalismo investigativo características e elementos como: Assunto de interesse público (divulgação deve fazer mais bem do que mal); Iniciativa do repórter/editor; Originalidade e descoberta de novas informações; Profundidade na investigação: fontes primárias, múltiplos pontos de vista, contextualização, acurácia, equilíbrio, transparência; e Repercussão social.

 

Veja, abaixo, a íntegra do que cada um falou sobre o tema:

IRE - Investigative Reporters and Editors

Reportagem produzida pela iniciativa e trabalho do autor, sobre assunto de importância para leitores, ouvintes e espectadores. Em muitos casos, os personagens da reportagem prefeririam que o tema tratado permanecesse oculto.

 

Pro Publica

Interesse público; Histórias com "força moral"; Que jogue luz sobre a exploração do fraco pelo forte e nas falhas dos poderosos em justificar a confiança depositada neles; O jornalismo investigativo está em risco porque os meios de comunicação passaram a vê-lo como um luxo. Faltam tempo e recursos às redações para fazer jornalismo investigativo.

 

Natalia Viana, A Pública, citando T.D.Allman

Jornalismo genuinamente objetivo é aquele que não apenas apura os fatos, mas compreende o significado dos acontecimentos. É impactante não apenas hoje, mas resiste à passagem do empo. É validado não apenas por "fontes confiáveis", mas pelo desenrolar da história. E dez, vinte, quinze anos depois ainda serve como espelho verdadeiro e inteligente do que aconteceu.

 

Wikipedia

É uma forma de jornalismo que investiga em profundidade um único ponto de interesse, em geral envolvendo crime, corrupção ou malfeitos de corporações. Um jornalista investigativo pode gastar meses ou anos pesquisando e preparando uma reportagem. É também conhecido como "jornalismo cão de guarda", ou "jornalismo Pit bull".

 

Samuel Lima, citando Solano Nascimento

Jornalismo investigativo só existe quando há investigação e quando quem investiga é o próprio jornalista.

 

Leandro Fortes, autor de Jornalismo Investigativo - Editora Contexto

"...a investigação deixou de ser um simples preceito para se transformar, graças à modernidade, em uma área de crescente especialização. Virou um nicho, uma marca e um símbolo de status dentro do jornalismo brasileiro."

 

Manuel Carlos Chaparro

Jornalismo investigativo é um rótulo que me parece um tanto arrogante. No sentido de que "nós estamos fazendo o bom jornalismo, o jornalismo importante. O resto é secundário". Isso é um equívoco inclusive teórico. Porque o jornalismo investigativo não se pode separar da atualidade que se manifesta no relato. O relato diário é a manifestação das ações que alteram a realidade e não tem sentido que você não defenda um jornalismo exigente e responsável nessa condição de relatar. Na medida em que houver bons relatos dos fatos, surgem também boas pautas para fazer o que eu chamo de desvendamento.

 

Marcelo Tas, apresentador CQC

Jornalismo investigativo é um pleonasmo vicioso, como subir para cima e descer para baixar.

 

Luis Erlanger, da Globo

Dizem que Geroge Orwell disse que jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Para que isso aconteça o jornalismo tem que ser necessariamente investigativo.

 

Mauri Köning. Gazeta do Povo e Abraji

Tenho ressalvas quanto a essa afirmação, seja ela do George Oewell ou não. Há uma miríade de coisas que muita gente não quer que se publique, e com razão, pois não são necessariamente de interesse público. Acho que a primeira pergunta a se fazer no início de uma investigação jornalística é: quem vai ganhar com o que publicarei? Acho que essa pergunta é um bom ponto de partida, mas não o único, naturalmente. A ela, somam-se outras, mas cito apenas três: os meios pelos quais conseguirei as informações são lícitos? O que pode acontecer com meu(s) informante(s) caso seja(m) descoberto(s)? Qual o limite da exposição do jornalista a riscos para obter a informação?

 

Daniela Arbex, Tribuna de Minas

Penso que o jornalismo investigativo é o jornalismo de qualidade, que denuncia a realidade, mas, principalmente, ajuda a transformá-la.

 

Angelina Nunes, O Globo e Abraji

Jornalismo investigativo é todo trabalho de jornalista que não se limita ao release, ao declaratório. O que o repórter deve fazer é cruzar dados, fuçar orçamento, ler editais, destrinchar leis, ouvir mais personagens, buscar as informações escondidas nas estatísticas. Uma boa matéria dá trabalho, requer tempo, algum dinheiro e capacitação.

 

Rosa Nívea Pedroso, UFRGS

Eu diria que esse jornalismo que realiza pesquisa, apuração em profundida, deveria se chamar jornalismo de reportagem. Na apuração (ou investigação, ou pesquisa) jornalística, o repórter utiliza métodos da Antropologia (como a etnografia) que é o trabalho de campo, a observações participante, a imersão (e não infiltração) no local. Utiliza os métodos da historiografia, através da buscar, pesquisa e análise de documentos. O repórter se aproxima do historiador e do antropólogo (e não só da polícia, como vem sendo). O repórter vai utilizar de toda gama de métodos de pesquisa disponíveis para conhecer e presente e o passado. Investigação não se refere só a crimes. Deixamos de trabalhar somente com notícias (relatos em profundidade).

 

Jardel Hudson Gomes - Centro Universitário Estácio FIC

Investigativo é o jornalismo cujo papel não se limita a descobrir e denunciar, mas contribuir para uma sociedade mais crítica.

 

Fernando Rodrigues, Folha de S. Paulo e Abraji

O termo jornalismo investigativo deriva de seu congênere em inglês, "investigativo journalism". Nos países de língua inglesa muitos também consideram essa designação um pleonasmo. Ainda assim, o investigative journalism consolidou-se no mundo todo como sinônimo de bom jornalismo, de reportagens profundas, alentadas, que procuram esgotar um determinado assunto.

 

Kleber Vinicius Monte - Universidade Castelo Branco RJ

Ramo do jornalismo criado para se diferenciar do jornalismo acomodativo. Conceitualmente, todo jornalismo é (ou deveria ser) investigativo. Mesmo o diário.

 

Acácio Rodrigues, Terra e TV Vitória

Jornalismo investigativo é a arte de ter um olhar diferenciado. É produzir um material de qualidade, mesmo com uma pauta factual.

 

Thiago Herdy, O Globo e Abraji

Jornalismo investigativo é bom jornalismo. Pode ser praticado em uma matéria sobre um acidente de carro ou o roubo do ministro. É melhor executado quando alia observação aguçada, determinação, dedicação (seja cinco horas ou dois meses) e fontes certas. Não pode cometer injustiça.

 

Lucio Vaz, autor de A Ética da Malandragem

Primeiro, entendo como jornalismo investigativo a apuração que é feita, predominantemente, pelo próprio repórter. Informações de órgãos de investigação e fiscalização podem até enriquecer e aprofundar o material, mas a informação principal tem que ser obtida pelo próprio repórter, com métodos jornalísticos, sem escuta telefônica, sem busca e apreensão. Valem informações de órgãos oficiais quando são obtidas mediante o cruzamento de dados, a partir de bancos de dados oficiais ou de ongs. A reportagem de campo, com entrevistas e observação de fatos e pessoas, campanas, também são importante. Relatório da PF e denúncias do MP só valem como complemento.

 

Leonardo Sakamoto, Repórter Brasil

É o jornalismo de "precisão" e de fôlego que, através de pesquisa de campo e/ou trabalho de gabinete com dados e documentos, tem como objetivos a) trazer à tona informação de interesse público que alguém ou alguma instituição deliberadamente mantenha em sigilo e/ou b) retirar o véu de ignorância sobre determinado assunto, aprofundando significativamente o entendimento da sociedade sobre ele e trazendo novas interpretações que, principalmente, refutem a percepção corrente.

 

José Roberto de Toledo, Estadão, Rede Tv e Abraji

É mais fácil definir jornalismo investigativo pelo que ele não é: não é entrevista quebra-queixo, resumo de release, declaração de autoridade, curadoria de noticiário alheio. Investigar é procurar informações inéditas e socialmente relevantes, contextualizá-las no tempo e no conjunto de outras informações e contar uma boa história. Não precisa ser apenas sobre corrupção, não precisa mandar ninguém para a cadeia nem derrubar ministro.

 

Franciele Vargas, via Facebook

Jornalismo investigativo é não aceitar o que as fontes relatam como verdade prontamente. É preciso um trabalho mais apurado e profundo no levantamento de informação, o que demanda paciência e tempo.

 

Rubens Valente, Folha de S. Paulo

Jornalismo investigativo é uma ideia na cabeça e um processo nas costas (RIP Glauber Rocha); Diz-se que notícia é quando o homem morde o cachorro. Jornalismo investigativo é indagar o que o cãozinho tem a dizer sobre isso; Eu não creio em jornalismo investigativo, mas que Collor, Renan, Lula, Sarney, FHC disseram que ele existe, ah existe (RIP Borges).

 

Assinatura Abraji