• 14.07
  • 2005
  • 12:54
  • MarceloSoares

A uma hora do centro, um bairro rural

CAROLINA LOPES e VANDER LINS GOMES - REPÓRTER DO FUTURO

Centro. Domingo. 9:20 da manhã. Destino: Morro Doce. Subprefeitura de Perus, zona oeste de São Paulo, seguindo pela Anhangüera, passando o Trópico de Capricórnio. Ponto final. 10:26, Parque da Esperança.

Ruas estreitas. Algumas asfaltadas outras concretadas. Em sua maioria inclinadas, característica do bairro. O aglomerado de gente mostra que chegamos ao centrinho. A feira dominical parece reunir o bairro. Mais adiante, Assembléia de Deus de um lado da calçada, do outro uma Kombi adaptada que serve cachaça aos moradores. “O lazer é isso que você está vendo”. “E as crianças?”. “As crianças ficam por aí, espalhadas pela rua”, diz o mecânico Manuel José Vaz, enquanto toma a sua sagrada pinguinha dominical com os amigos e grita: “Olha o carro molecada!”. A criançada nem nota. A pipa, o estalinho, a bicicleta e as brincadeiras de roda as entretêm.

A tranqüilidade do bairro, que fica a apenas uma hora do centro de São Paulo, tem sua origem. Há apenas dez anos ele foi urbanizado. Água encanada, luz, esgoto, coleta de lixo eram apenas reivindicações dos poucos moradores que habitavam o local. Com a entrada de diversos movimentos de moradia a região teve um crescimento acelerado. Hoje são cerca de dez organizações, segundo a subprefeitura de Perus. O procedimento de urbanização realizado por eles é simples. Compra-se uma área, divide-se em loteamentos, apresenta-se uma planta topográfica da região à prefeitura e após a aprovação tem-se um novo ordenamento de famílias instaladas na região. Uma área de 200 metros quadrados ainda fica livre na partilha. É doada à prefeitura, que retorna com o bem social que for de maior necessidade da comunidade. Para as famílias já instaladas antes do ano de 2000, a prefeitura concedeu anistia.

Um dos movimentos responsável pelo assentamento de cinco mil famílias desde 1995, divide a área em lotes de 100 metros quadrados. A entrada das famílias na área é feita através de sorteio. O modo de pagamento das mesmas é popular. À vista sete mil reais ou uma entrada de 500 reais mais o restante em parcelas no valor do salário mínimo.

Silvia Ostáquio da Silva, recepcionista do movimento, informa no entanto que a procura tem baixado significativamente. Ela atribui a queda à redução de qualidade de vida generalizada que as pessoas estão passando nos últimos governos. Mas, ainda assim, a região tem sido rapidamente habitada, deixando de ser considerada pela prefeitura como área rural para ganhar status de área urbana. “Por enquanto a violência não chegou aqui, por enquanto”, avalia o mecânico Manuel, que mora há oito anos no bairro e que já sente algumas mudanças negativas: “Antes tinha uma mina de água aqui que o pessoal descia o morro para lavar roupa. Agora acabou.”.

Escola tem duas. Públicas, ambas, uma de ensino fundamental e outra de ensino infantil (EMEI e EMEF). Quem quer ensino particular tem que ir para Perus. Mas isso não é muito comum. Reclama-se muito pouco inclusive do ensino. O que a população local nota mesmo é a infra-estrutura das mesmas. Até pouco tempo havia uma das 50 escolas de lata construídas na gestão do ex-prefeito Celso Pitta. Ou, Escola Modular Metálica, como é chamada pela empresa de engenharia responsável pela obra, Araguaia Engenharia LTDA. É a maior reclamação que se tem no bairro. Já está sendo substituída. O prefeito José Serra até fez uma visita recentemente ao local e prometeu entregar as escolas novas até o fim desse mês.

As duas juntas atendem 564 alunos, segundo Elisabete Campelo, secretária da escola de ensino infantil. Somente a EMEF possui computadores. São 23 para um professor. Os alunos assistem às aulas em duplas. Com a devida anuência do professor o espaço pode virar área de lazer das crianças. Além da informática, um pátio e um parquinho estão à disposição dos alunos.
Assinatura Abraji