- 08.07
- 2011
- 13:43
- O Globo
A farra do dinheiro público nos gastos para a Copa
Publicado no “O Globo Blogs” em 04 de julho de 2011
A palestra "Como investigar obras para a Copa do Mundo 2014" aconteceu no sábado, último dia do Congresso da Abraji. Os jornalistas José Cruz, do UOL, e Mauro Cezar Pereira, da ESPN, mostraram um pouco de seu trabalho de acompanhamento e investigação dos gastos públicos brasileiros para o evento mais importante do mundo futebolístico.
O primeiro passo para investigar o assunto é acompanhar os relatórios e os dados disponíveis nos órgãos oficiais de controle:
- Controladoria Geral da União
- Tribunal de Contas da União
- Senado Federal
- Câmara dos Deputados Federais
Com essa dica, parece até fácil. Mas o principal problema apontado pelos jornalistas é que os números divulgados por esses órgãos não batem. Além disso, o Ministério dos Esportes, criado em 2003, ainda não tem equipe e estrutura suficientes para organizar e distribuir tarefas ligadas à execução e fiscalização das obras para 2014, segundo José Cruz. Também não existe um programa específico para o orçamento, o que dificulta ainda mais a investigação. O site Contas Abertas é um aliado na hora da apuração (não só dos custos das obras, diga-se de passagem).
Relatórios do TCU mostram que foram compradas cinco mil tochas para o Pan Americano de 2007, no Rio de Janeiro, mas apenas 500 foram usadas. Após o fim dos jogos, ainda existiam computadores que sequer foram tirados da caixa. E, pior: uma falha no planejamento do sistema de tecnologia de informação do Pan forçou uma remodelação do sistema, que aumentou em 16.000% os gastos com esse departamento. Informações de arrepiar a espinha de qualquer contribuinte, que banca a falta de preparo e a desorganização com o dinheiro público.
Mauro Cezar Pereira criticou a falta de planejamento também sobre os locais escolhidos para abrigar novos estádios. Para ele, faria mais sentido se o estádio da região Norte fosse construído no Pará (onde os times Paysandu e Remo têm grande importância e público) e não no Amazonas (onde não existem clubes de expressão nacional).
Serão construídos ou reformados 12 estádios para 2014, sendo nove com dinheiro público e três com investimentos privados. O Grêmio Arena, por exemplo, vai custar cerca de R$ 400 milhões para os investidores particulares, e será mais barato que 10 dos 12 estádios. Para se ter um retrato da dimensão dos custos, os estádios que foram construídos para a Copa de 2006 na Alemanha custaram entre R$ 100 e R$ 140 milhões, de acordo com Mauro Cezar.
Para o jornalista da ESPN, a maioria das pessoas (e dos próprios jornalistas) acredita que o jornalismo esportivo se resume a acompanhar resultados de jogos, treinos e contratações, e se esquecem que há um mundo de interesses que envolve bilhões de reais por trás de tudo isso. Por isso, Mauro acredita que a investigação dessas cifras é importante, ainda mais quando os investimentos são públicos. "Esporte não é só entretenimento, é também uma questão de saúde. Para cada dólar investido em esporte, uma nação economiza três dólares em saúde", disse, frisando que é papel do jornalismo tratar os esportes como uma coisa séria e não apenas diversão.
Mauro compartilhou ainda uma tabela (que você pode ver aqui) que mostra que a sede dos grandes eventos esportivos escolhidas nos últimos tempos se concentram em países corruptos. Difícil acreditar que é tudo obra da sorte e do acaso, não é?