• 21.06
  • 2013
  • 14:22
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A dificuldade de ser repórter nos tempos atuais

Publicado na Coluna Miram Leitão em 21 e junho de 2013

Uma repórter pede socorro à Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Que máscara usar para ir às manifestações e reduzir os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo? A Abraji, solícita, informa, dá o nome das melhores marcas e várias outras dicas. Já avisou às moças, por exemplo, que nunca devem ir maquiadas aos protestos, porque o gás gruda na maquiagem. E a Associação faz isso porque bem no começo desses eventos traduziu e divulgou aos associados um manual de como se proteger na cobertura de confrontos de rua.

Em rede, jornalistas trocam dicas sobre o que fazer em situações de emergência, numa cobertura difícil para a qual ninguém está completamente preparado. Os repórteres tinham feito ultimamente cursos para cobrir eventos extremos em áreas de risco, como houve na ocupação das favelas do Rio. Mas agora é o inesperado das manifestações.

Nos protestos, repórteres são frequentemente hostilizados por manifestantes e carros de duas redes de TV, Record e SBT, foram queimados. Num único dia, sete repórteres da "Folha" foram feridos naquela triste quinta-feira da semana passada em que a Polícia de São Paulo reagiu com incompreensível truculência à manifestação.

Essa tem sido a rotina. Repórteres têm trabalhado muitas horas, em ambiente difícil, e sendo alvos de inexplicável hostilidade de ambos os lados.

Mas não é só isso. O ministro Gilberto Carvalho pôs sobre a imprensa parte da culpa do que está acontecendo, ao dizer que a "imprensa teve papel de estimular moralismo no sentido despolitizado”. O que o ministro queria: que ninguém revelasse os desmandos que apura nas suas investigações para poupar a imagem dos políticos? Ou será que os políticos é que deveriam zelar para fortalecer a confiança que a população tem neles ouvindo os clamores da opinião pública?

Neste momento, há ainda um outro fator de tensão para jornalistas de qualquer idade, tempo de profissão, serviços prestados: eles podem ser demitidos nos vários programas de redução de custos que têm acontecido nas empresas. Em momento de transição do modelo de negócios, certos veículos têm escolhido o pior caminho: enfraquecer, em vez de fortalecer, o centro do seu negócio.

A imprensa, seja ela por que mídia for, tem que oferecer conteúdo de qualidade. E isso se faz com bons jornalistas. E muitos. Eventos da magnitude que temos visto exigem uma quantidade grande de repórteres apurando todos os ângulos dos fatos. Emagrecer as redações é o caminho para tornar os veículos dispensáveis neste tempo de oferta abundante, mas desorganizada, de imagens e relatos de baixa credibilidade feitos pelos que não são profissionais da imprensa.

Difícil momento este para os jornalistas. Tempos de desafios e riscos, nos quais é preciso – a despeito de tudo – manter a certeza de que somos mais necessários que nunca, para informar e explicar esse vasto e complexo país. Sei que não serve de consolo, mas gostaria de dizer que estou orgulhosa de vocês.

Assinatura Abraji