- 14.07
- 2005
- 12:45
- MarceloSoares
A difícil tarefa de viver nas ruas de São Paulo
CLÁUDIA TOZETTO - REPÓRTER DO FUTURO
O constante crescimento do desemprego, decorrente do capitalismo no qual nossa economia está inserida, alastra a realidade da exclusão social. “Só com o novo presidente, após quase 20 anos de baixo crescimento econômico e explosão do desemprego na última década, é que o tema exclusão social ganhou espaço na mídia e nas agendas mais importantes”, afirma Márcio Pochmann, professor da Unicamp e Ex-Secretário Municipal do Desenvolvimento do Trabalho e Solidariedade em São Paulo.
Segundo o Índice de Exclusão Social, calculado para a criação do Atlas de Exclusão Social no Brasil, na região sul-sudeste, onde o município de São Paulo se localiza, encontram-se os maiores focos de inclusão social no Brasil. Especificamente no estado de São Paulo, apenas 4 dos 600 municípios analisados apresentam uma elevado grau de exclusão social. No entanto, é necessário observar que, São Paulo apresenta sinais claros de segregação territorial urbana, isolando ricos e pobres dentro da cidade. “Há uma forte desigualdade entre riqueza e bem-estar social de seus bairros”, explica Pochmann.
Nas grandes cidades, as regiões mais carentes se caracterizam pelos altos índices de violência. “Na periferia de toda grande cidade brasileira, o mapa da pobreza, diferente do Brasil, casa com o da violência”, completa Pochmann. Com esse dado é possível detectar, por exemplo, a falta de segurança no centro da cidade de São Paulo, provocado pela alta incidência de moradores de rua na região.
A entrevista com a moradora de rua da região central de São Paulo, Maria Rosa Conceição, de 24 anos, demonstra melhor o quadro da exclusão social na cidade, além do processo que condena toda uma geração à situação de rua.
Vinda da região metropolitana de Curitiba, Maria esperançosa de que estaria empregada, deixou os familiares e o marido para trás. Chegando em São Paulo, não aconteceu nada do que havia sido acertado com o próprio marido: um trabalho com moradia na casa da tia de seu esposo. A jovem se viu sozinha, com seus dois filhos, ainda crianças de colo. Sem instrução, tentou um contato com os familiares no Paraná, os quais não tinham condição de ajudá-la a voltar para sua cidade.
Após três meses procurando trabalho e morando nos albergues da Prefeitura, Maria se viu obrigada a ir para as ruas, já que se esgotava o período máximo de permanência nos albergues. Hoje, encontra-se com um companheiro, que trabalha junto à ela catando lixo, três filhos, um deles do atual companheiro, vivendo na rua, em péssimas condições de higiene e alimentação, todos suscetíveis à contaminação e doenças devido a baixa resistência do sistema imunológico. “Eu quero que meus filhos estudem e tenham um futuro digno, para que não tenham que passar tudo o que eu passei”, desabafa a moradora que não pretende voltar ao Paraná.
Em outro ponto da cidade, a praça onde se encontra a Catedral da Sé, crianças, velhos e jovens dividem o mesmo espaço, pedindo esmolas, dormindo no chão e usando drogas sem qualquer intervenção das autoridades locais. Fernanda, uma garota de apenas 11 anos, surpreende revelando que usa cola, “thiner”e cocaína. “Saí de casa porque minha mãe me batia, dava muito trabalho à ela”, diz a garota visivelmente alterada pelo uso de drogas. “Prefiro cuidar de um cachorro do que cuidar de um filho”, afirma a menina de aparência maltratada pela situação de rua, quando questionada se pretendia se casar e ter filhos.
Fernanda e Maria Rosa, fazem parte dos 4,3% de mulheres que vivem debaixo de viadutos, nas calçadas e em diversos outros pontos da cidade, segundo a pesquisa da Secretaria de Assistência Social da Cidade de São Paulo.
Para lutar pelas pessoas vítimas das injustiças sociais, foi criada em São Paulo a Comissão Municipal dos Direitos Humanos, que fica no Pátio do Colégio nº 05. Essa comissão atende as pessoas que tem problemas e não encontram a ajuda da justiça ou o apoio do Estado. “A Comissão é dirigida àquele que é esquecido e não tem a quem se queixar”, disse José Gregori, Secretário Municipal dos Direitos Humanos, na entrevista concedida ao Projeto Repórter do Futuro. Em geral são pessoas que se queixam do funcionamento da Polícia, que não possuem renda, moradia, estão sem rumo na cidade, como Fernanda e Maria Rosa.
Segundo Gregori, estão sendo analisados projetos de campanhas para aplicação da defesa dos direitos humanos, principalmente os das crianças. Um dos projetos prevê o combate à exploração das crianças no farol. “A exploração (das crianças) não está de acordo com os direitos humanos”, disse o secretário.
Outra campanha em fase de análise seria que através das ONGs, o Estado ofereceria uma contribuição para ser realizado um trabalho restritivo para as crianças. “Vamos completar esses estudos até junho”, prometeu Gregori. Segundo ele, as ONGs teriam o papel de fazer um levantamento dos principais cruzamentos onde essas crianças aparecem, e a partir daí fazer um estudo de cada caso efetuando um monitoramento. “O caso de 400 crianças não é rigorosamente igual”, explica Gregori.
Os Direitos Humanos tem um papel fundamental para a preservação dos direitos essenciais dos cidadãos. Hoje, o Brasil necessita de uma séria política que vise melhorar as condições de seus habitantes, para assim conseguir sair da periferia do capitalismo mundial e vencer suas dependentes relações internacionais. “Falta muito para dizer que os Direitos Humanos estão em um patamar satisfatório no Brasil. O Brasil tem avançado e muito, mas não de acordo com as nossas necessidades”, disse José Gregori.
Segundo José Gregori, enquanto não houver igualdade sócio-econômica e não for disseminada a discussão sobre os Direitos Humanos não haverá maiores desenvolvimentos. “Os Direitos Humanos são uma bela aposta. É uma forma de dar, cada vez mais, consistência à democracia, horizontes para a vida e instrumentos de entendimento e de paz”, completa José Gregori.
O constante crescimento do desemprego, decorrente do capitalismo no qual nossa economia está inserida, alastra a realidade da exclusão social. “Só com o novo presidente, após quase 20 anos de baixo crescimento econômico e explosão do desemprego na última década, é que o tema exclusão social ganhou espaço na mídia e nas agendas mais importantes”, afirma Márcio Pochmann, professor da Unicamp e Ex-Secretário Municipal do Desenvolvimento do Trabalho e Solidariedade em São Paulo.
Segundo o Índice de Exclusão Social, calculado para a criação do Atlas de Exclusão Social no Brasil, na região sul-sudeste, onde o município de São Paulo se localiza, encontram-se os maiores focos de inclusão social no Brasil. Especificamente no estado de São Paulo, apenas 4 dos 600 municípios analisados apresentam uma elevado grau de exclusão social. No entanto, é necessário observar que, São Paulo apresenta sinais claros de segregação territorial urbana, isolando ricos e pobres dentro da cidade. “Há uma forte desigualdade entre riqueza e bem-estar social de seus bairros”, explica Pochmann.
Nas grandes cidades, as regiões mais carentes se caracterizam pelos altos índices de violência. “Na periferia de toda grande cidade brasileira, o mapa da pobreza, diferente do Brasil, casa com o da violência”, completa Pochmann. Com esse dado é possível detectar, por exemplo, a falta de segurança no centro da cidade de São Paulo, provocado pela alta incidência de moradores de rua na região.
A entrevista com a moradora de rua da região central de São Paulo, Maria Rosa Conceição, de 24 anos, demonstra melhor o quadro da exclusão social na cidade, além do processo que condena toda uma geração à situação de rua.
Vinda da região metropolitana de Curitiba, Maria esperançosa de que estaria empregada, deixou os familiares e o marido para trás. Chegando em São Paulo, não aconteceu nada do que havia sido acertado com o próprio marido: um trabalho com moradia na casa da tia de seu esposo. A jovem se viu sozinha, com seus dois filhos, ainda crianças de colo. Sem instrução, tentou um contato com os familiares no Paraná, os quais não tinham condição de ajudá-la a voltar para sua cidade.
Após três meses procurando trabalho e morando nos albergues da Prefeitura, Maria se viu obrigada a ir para as ruas, já que se esgotava o período máximo de permanência nos albergues. Hoje, encontra-se com um companheiro, que trabalha junto à ela catando lixo, três filhos, um deles do atual companheiro, vivendo na rua, em péssimas condições de higiene e alimentação, todos suscetíveis à contaminação e doenças devido a baixa resistência do sistema imunológico. “Eu quero que meus filhos estudem e tenham um futuro digno, para que não tenham que passar tudo o que eu passei”, desabafa a moradora que não pretende voltar ao Paraná.
Em outro ponto da cidade, a praça onde se encontra a Catedral da Sé, crianças, velhos e jovens dividem o mesmo espaço, pedindo esmolas, dormindo no chão e usando drogas sem qualquer intervenção das autoridades locais. Fernanda, uma garota de apenas 11 anos, surpreende revelando que usa cola, “thiner”e cocaína. “Saí de casa porque minha mãe me batia, dava muito trabalho à ela”, diz a garota visivelmente alterada pelo uso de drogas. “Prefiro cuidar de um cachorro do que cuidar de um filho”, afirma a menina de aparência maltratada pela situação de rua, quando questionada se pretendia se casar e ter filhos.
Fernanda e Maria Rosa, fazem parte dos 4,3% de mulheres que vivem debaixo de viadutos, nas calçadas e em diversos outros pontos da cidade, segundo a pesquisa da Secretaria de Assistência Social da Cidade de São Paulo.
Para lutar pelas pessoas vítimas das injustiças sociais, foi criada em São Paulo a Comissão Municipal dos Direitos Humanos, que fica no Pátio do Colégio nº 05. Essa comissão atende as pessoas que tem problemas e não encontram a ajuda da justiça ou o apoio do Estado. “A Comissão é dirigida àquele que é esquecido e não tem a quem se queixar”, disse José Gregori, Secretário Municipal dos Direitos Humanos, na entrevista concedida ao Projeto Repórter do Futuro. Em geral são pessoas que se queixam do funcionamento da Polícia, que não possuem renda, moradia, estão sem rumo na cidade, como Fernanda e Maria Rosa.
Segundo Gregori, estão sendo analisados projetos de campanhas para aplicação da defesa dos direitos humanos, principalmente os das crianças. Um dos projetos prevê o combate à exploração das crianças no farol. “A exploração (das crianças) não está de acordo com os direitos humanos”, disse o secretário.
Outra campanha em fase de análise seria que através das ONGs, o Estado ofereceria uma contribuição para ser realizado um trabalho restritivo para as crianças. “Vamos completar esses estudos até junho”, prometeu Gregori. Segundo ele, as ONGs teriam o papel de fazer um levantamento dos principais cruzamentos onde essas crianças aparecem, e a partir daí fazer um estudo de cada caso efetuando um monitoramento. “O caso de 400 crianças não é rigorosamente igual”, explica Gregori.
Os Direitos Humanos tem um papel fundamental para a preservação dos direitos essenciais dos cidadãos. Hoje, o Brasil necessita de uma séria política que vise melhorar as condições de seus habitantes, para assim conseguir sair da periferia do capitalismo mundial e vencer suas dependentes relações internacionais. “Falta muito para dizer que os Direitos Humanos estão em um patamar satisfatório no Brasil. O Brasil tem avançado e muito, mas não de acordo com as nossas necessidades”, disse José Gregori.
Segundo José Gregori, enquanto não houver igualdade sócio-econômica e não for disseminada a discussão sobre os Direitos Humanos não haverá maiores desenvolvimentos. “Os Direitos Humanos são uma bela aposta. É uma forma de dar, cada vez mais, consistência à democracia, horizontes para a vida e instrumentos de entendimento e de paz”, completa José Gregori.