• 11.02
  • 2014
  • 11:10
  • Jose Roberto de Toledo

A 109ª vítima

Publicado em O Globo em 11 de fevereiro de 2014

Santiago Ilídio Andrade morreu fazendo reportagem. Cumpriu seu dever de informar a sociedade até o fim. Deu a vida pelo jornalismo, mas não deveria ser assim. Santiago é a 109ª vítima — a primeira fatal — de uma onda de violência contra jornalistas iniciada com as manifestações de protesto, em junho de 2013.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registra ataques e prisões arbitrárias cometidos contra jornalistas que trabalham na cobertura das manifestações. Até a morte de Santiago havia 117 casos, envolvendo 108 jornalistas (alguns foram atacados mais de uma vez). Ele foi o 118º caso e o 109º jornalista vitimado — e nada indica que será o último.

Em pelo menos 60% das violações, as vítimas relataram à Abraji que a violência foi deliberada — ou seja, os repórteres, fotógrafos e cinegrafistas foram agredidos ou presos mesmo depois de terem se identificado como jornalistas. A intenção, a frequência e a repetição sugerem uma tentativa de intimidação da imprensa — tanto por parte de policiais quanto de manifestantes.

Em três de cada quatro ocorrências, as vítimas identificaram policias como seus agressores. As imagens e o inquérito policial indicam que o caso de Santiago Andrade caiu nos outros 25%: ele morreu ao ser atingido por um rojão aceso por um manifestante. Não se sabe se o agressor mirou Santiago. A esta altura, pouco importa. Querendo ou não, ele acertou a cabeça do jornalista e o coração da liberdade de expressão e informação no Brasil.

*José Roberto de Toledo é presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Assinatura Abraji