• 09.03
  • 2016
  • 09:08
  • Amanda Ariela

5 dicas para verificar afirmações sobre saúde

Texto escrito por Alexios Mantzarlis e publicado em 2 de março, no site da Poynter. Traduzido e adaptado pela Abraji

“Você pode estar 100% correto factualmente e ainda ser quase inútil para seus leitores”

A segunda frase de Gary Schwitzer em nossa conversa por telefone não foi exatamente um endosso à verificação factual.

Na realidade, mostra um desafio que apuradores de fatos enfrentam diariamente. Alegações feitas por oficiais eleitos ou personalidades da mídia podem ser precisas, mas podem causar confusão nos leitores, através da omissão e da falta de contexto. Essas afirmações são, por vezes, difíceis de traduzir de uma forma que fique clara para os leitores, mas não são menos importantes do que aquelas em que os dados são confusos demais. 

Schwitzer é o editor da HealthNewsReview.org e um professor associado da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota.

A HealthNewsReview.org classifica as notícias de saúde que estão nas páginas dos maiores meios de comunicação dos Estados Unidos e, desde o ano passado, passou a classificar os releases de imprensa também. Foi lançada há 10 anos e retomou seus trabalhos com novo financiamento depois de um breve hiato em 2015. Sites similares operam em países como Austrália, Canadá, Alemanha, Japão e outros.

As histórias são avaliadas sob 10 critérios, que incluem até que ponto a história sinalizou os custos e riscos de uma intervenção e a qualidade das provas científicas.

Desenvolvimentos na área da  saúde são mais propensos a causar grande esperança ou terror generalizado do que em outros campos. Quando sua vida ou a dos seus entes queridos pode estar na reta, você é mais propenso a confiar e acreditar em uma alegação mal apurada sobre os benefícios de uma nova droga ou os riscos de uma doença desconhecida.

(Na editoria de “Bem-Estar”, muitas vezes em conflito com a cobertura da mídia em saúde, também é permeada por lógicas ilusórias e pesquisa superficial, como mostrou dolorosamente, no ano passado a farsa do chocolate)

Com o passar dos anos, a HealthNewsReview.org conquistou algumas vitórias na correção dos registros.

“Gary é o cara”, Mary Shedden, diretora de notícias da WUSF e antiga editora do Health News Florida, me disse ao telefone. O site é uma fonte particularmente útil para repórteres iniciantes no campo da saúde, que estão aprendendo os caminhos, segundo ela.

Outros repórteres de saúde do The Philadelphia Inquirer me contaram que consultam o site ocasionalmente e que agora têm mais consciência de incluir detalhes sobre custos de procedimentos nos artigos que escrevem, tudo por causa do site.

Ainda assim, os profissionais da apuração nem sempre podem contar com uma lista de contatos cheia de especialistas em saúde, muito menos ter um especialista trabalhando em sua organização. Perguntei a Schwitzer que bandeiras vermelhas poderiam ajudar os apuradores que querem verificar uma afirmação sobre saúde feita por um político ou uma figura pública.

1. Ratos e Homens

Muitas histórias sobre medicamentos e drogas novas deixam de salientar a informação de que os testes só foram conduzidos em ratos. Encontrar um efeito em ratos não significa que o mesmo efeito será visto em humanos, e pode demorar anos até que esses testes sejam conduzidos em pessoas. Schwitzer pensa que simplesmente mencionar a falta de teste em humanos é uma má prática: Esse é um fator crucial e deve ser reforçado com a mesma proeminência que os resultados do estudo.

2. Tome cuidado com conflitos de interesse

Isto é verdade para todos os campos. Uma solução parcial é a abordagem da The Conversation´s, com uma divulgação completa e detalhada das relações financeiras dos autores dos estudos científicos. Schwitzer adverte, no entanto, que "conflitos de interesse estão em cada esquina" na área da saúde. Um lugar útil para começar a pesquisar especialistas em medicina que trabalham de forma independente é o guia de profissionais da HealthNewsReview.org, que será atualizado em breve.

3. Não caia na tentação do release de imprensa e leia as entrelinhas

Como mostra a seção da HealthNewsReview.org, que analisa os releases, as informações enviadas nesse tipo de texto podem ser muito ilusórias - mesmo quando são originadas em instituições acadêmicas com uma boa reputação. Embora você possa esperar que um release de um estudo sobre os benefícios da batata financiado pela indústria da batata possa ter uma classificação baixa, talvez você sinta mais confiança em um estudo conduzido pela Oxford University. Ainda assim, a HealthNewsReview.org deu uma nota baixa para ambos. Como Schwitzer escreveu recentemente, “em cada degrau da cadeia de disseminação de resultados para o público, atores diferentes da indústria permitem que a mensagem seja encarada em uma luz mais positiva do que a evidência normalmente permitia.” Se você está verificando uma informação, vá o mais fundo possível. Pule o release e leia muito mais do que só as informações contidas ali, para ter o panorama completo.

4. Cuidado com a linguagem causal em estudos observacionais

Isso pode ser familiar para apuradores por conta de seu trabalho em outros campos. Uma associação de dois fenômenos não implica em nenhuma forma de causalidade, como observa Tyler Vigen em seu blog. Schwitzer observa várias histórias com falhas que foram publicadas entre 2010 e 2013 sobre os efeitos do café, variando de “Café pode te matar” até “Café cura câncer de pele”.

5. Aprenda a diferença entre a redução do risco relativo e absoluto

A redução relativa de 50 por cento no risco de contrair uma determinada doença parece muito impressionante. Mas se essa redução significa que os pacientes no tratamento de controle tiveram duas chances em 100 de contrair a doença, enquanto os pacientes sendo estudados tiveram 1 em 100 de probabilidade, a redução do risco absoluto é de 1 por cento. Isto é uma melhoria, mas é menos impressionante do que o primeiro dado sozinho e pode torná-lo menos razoável para encarar os efeitos secundários de um tratamento. (Mais sobre absoluta vs. redução do risco relativo aqui).

Assinatura Abraji