- 19.06
- 2008
- 15:33
- Alunos de jornalismo do UNI-BH
3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo - sexta-feira, tarde
Cobertura das palestras de sexta-feira (09/5) feita por alunos de jornalismo do UNI-BH durante congresso realizado em Belo Horizonte - maio de 2008
Jornalismo on-line
Júlia Bicalho
É possível a prática de um jornalismo consistente na Internet. A conclusão é dos jornalistas Bob Fernandes, editor-chefe do site Terra Magazine, e Sylvio Costa, diretor do site Congresso em Foco, manifestada na palestra sobre o jornalismo on-line.
Ao fazer a apresentação dos respectivos sites, eles discutiram questões que subsidiam a atividade jornalística. Apesar da abordagem distinta, já que Congresso em Foco trata especificamente de política e o Terra Magazine é uma revista eletrônica, que aborda também outros assuntos, os dois sites estão ligados a grandes portais brasileiros (IG e Terra, respectivamente).
Questionado sobre a audiência de seu site, Bob falou que prefere não saber os números diários para não entrar no jogo de selecionar apenas assuntos que vão lhe render mais acessos, como acontece com a televisão. Outra questão levantada sobre a audiência é a dificuldade de medi-la, já que não existe nenhum instituto que meça essa audiência de forma abrangente e eficaz. Mas, para ele, uma coisa é fato, a audiência on-line é muito instável.
O Congresso em Foco possui um trabalho investigativo extenso que serve de fonte para outros veículos de comunicação. Muitas vezes, esses veículos não atribuem os créditos ao site de Costa. Ele inclusive exemplificou com uma notícia publicada em seu site que havia sido reproduzida naquele dia em praticamente todos os jornais.
Apesar de estar em plena expansão, o jornalismo on-line ainda sofre resistências. "As pessoas acreditam no papel e na Globo," comentou Bob.
Acesso à informação Pública Virtual
Renata Ferri
A palestra sobre acesso à informação pública virtual foi apresentada pela jornalista argentina Sandra Crucianelli. Ela discorreu sobre o fato de alguns países, dentre eles, o Brasil, terem sites na Internet onde disponibilizam informações públicas, mas o fato de acesso aos dados ser dificultado pela falta de organização das páginas.
"Somente pessoas muito qualificadas podem conseguir chegar a essas informações através da Internet", afirma Sandra. Isso, então, exclui grande parte da população brasileira, que não tem grandes conhecimentos de informática.
Para a argentina, os jornalistas que buscam informações na web não devem se prender apenas a páginas do próprio país, pois é possível encontrar dados sobre diversas regiões do mundo em sites internacionais. Um exemplo é o www.census.gov, que é americano e traz relações sobre a economia brasileira que não existem em sites nacionais. Também há o www.clad.org.ve, venezuelano, que apresenta comparações de dados entre países.
O www.extranjeros.mtas.es é uma pagina espanhola que permite checar todos os imigrantes latino-americanos que residem legalmente na Espanha.
Para saber se o governo cumpre as promessas que faz à população nas épocas de eleição, é preciso que haja transparência e clareza na disponibilização de informações on-line.
Sandra afirma que, a partir da pesquisa em diversos sites de todo o mundo, o jornalista deve construir seu próprio banco de dados, utilizando instrumentos como o Excel. A jornalista diz também que a mídia deve pautar a questão da falta de organização nas páginas de informação, para que o problema possa ser divulgado e corrigido.
Sandra cita como exemplo de página da web que contém tudo o que é necessário para que o acesso da informação pública on-line seja bem sucedido o site argentino www.bahiablanca.com.ar
O projeto editorial da revista Piauí
Luiza Villarroel
"A imprensa é corrompida pelo hábito de multiplicar as mesmas informações. Cansados disso, eu e João Moreira Salles criamos a Piauí" , afirma Marcos Sá Corrêa ainda no início de sua palestra “O Projeto Editorial da Revista Piauí”, durante o 3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo.
Sem editorias, na Piauí se fala de tudo, mas sem obrigações de preencher espaços com determinados assuntos. Os textos têm o tamanho que conquistam. O repórter pode exercitar sua curiosidade. E Marcos Sá recomenda "exercitem sua curiosidade".
O editor da Piauí descreve ainda a surpresa com o sucesso da revista que com um ano e meio de existência vende 60 mil exemplares: "é um sinal de que mais alguém sentia um vazio quando ia às bancas", acrescenta.
No fim da palestra o jornalista abre seu laptop e indica um site chamado The Onion. Um trabalho ousado, divertido e muito bem feito. Mas 100% mentiroso. "Um site inútil. Igual a Piauí, já que a revista não irá resolver nenhum problema seu" , finalizou Marcos Sá.
Olimpíadas
Henrique Naves
A cobertura olímpica nos jornais impressos se tornou um tanto quanto desafiadora nos últimos anos. Apesar de ter começado tarde, a tradição das coberturas olímpicas já se modificou em virtude do rápido avanço da internet e das maneiras rápidas e eficientes com que rádio e televisão conseguem fazê-la.
Nos jornais impressos o desafio é maior, já que precisam encontrar maneiras de conquistar os leitores sem usar os resultados dos jogos como chamariz.
É sobre isso que falaram Cláudio Arreguy, editor da página de esportes do Estado de Minas, e Luiz Fernando Gomes, do jornal Lance!. Na palestra, que ocorreu no dia 9 de maio, eles focaram nesse desafio que o jornal impresso enfrenta para buscar novos meios de atrair o leitor.
Segundo Luiz Fernando, é preciso lutar para não se tornar obsoleto. Suas sugestões são focar, além dos resultados dos jogos, em histórias humanas, em derrotas e conquistas de personagens e nos heróis e vilões das olimpíadas.
Cláudio Arreguy concorda com o colega quando afirma que, principalmente nas olimpíadas de Pequim, em que os jogos serão basicamente de madrugada, a internet vai ser mais eficiente para publicar resultados e que, por isso, o jornal impresso precisa investir em personagens e trabalhar com links (ex: “confira os resultados dos jogos desta madrugada no Portal Uai”). O jornalista sugere também o uso de infografias, que, segundo ele, proporcionam mais prazer que a leitura.
Investimento Criança: aprenda a acompanhar as aplicações do Governo Federal em favor das crianças e dos adolescentes
Natália Vilaça
A oficina “Investimento Criança: aprenda a acompanhar as aplicações do Governo Federal em favor das crianças e dos adolescentes”, ministrada pelo economista Gil Castello Branco e pelo analista de sistemas Carlos Blener, mostrou as ferramentas com as quais os jornalistas podem ter acesso a informações precisas sobre os investimentos do governo em benefício das crianças.
Durante a oficina, Castello Branco apresentou, em primeira mão, o Sistema de Monitoramento do Investimento Criança, desenvolvido pela Unicef, que deverá ser lançado em junho. Através desse sistema, o jornalista poderá ter acesso, de forma detalhada, a todos os números referentes aos programas orçamentários voltados para as crianças.
Além disso, os palestrantes mostraram que não se deve confiar completamente nas informações oficiais, tais como as obtidas através do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) e do Siga Brasil, que mostram dados sobre os gastos do governo.
Para analisar tais informações, Castello Branco observou a importância de se entender, por exemplo, todas as fases das tabelas de execução orçamentária. Isso porque gastos de governos anteriores podem ser contabilizados na conta dos gastos públicos do governo atual apenas para inchar o valor despendido com investimentos.
A (Re) Construção do Jornalismo para a Era Digital
Júlia Bicalho
Rosental Calmon Alves, diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas, ligada à Universidade do Texas em Austin, falou sobre a crise do jornalismo atual e apresentou um programa cheio de conceitos e formas para reconstrui-lo.
Sobre o as previsões do fim do jornal impresso, do rádio e da TV, Rosental acredita em uma midiamorfose – mudança, no sentido evolutivo das mídias se tornarem multimídias – em lugar de um midicídio – destruição de mídias.
Para ele, o jornalismo deve ser híbrido e a Internet passa a ser o principal eixo da produção jornalística. "Não se trata de uma simples evolução tecnológica. Trata-se de uma revolução marcada por rupturas semelhantes 'àquelas iniciadas pela revolução industrial", afirmou.
Rosental falou que os jornalistas, especialmente os investigativos, devem fazer suas pesquisas comunicando a todos sobre o que se trata, para que possam colaborar.
Assim, a Internet, deve ser cada vez mais usada. Para ele, o jornalismo está mudando rapidamente e há a transição da mídia industrial para a mídia digital. "Só no BR, na Índia, e na China é que a circulação de jornais cresceu, devido à inovação dos jornais populares que atingem um novo público", avaliou o jornalista.
Neste novo contexto, segundo Rosental, a notícia deixa de ser o fim e passa a ser o inicio do processo. Para que isso aconteça, ele diz que os jornalistas devem aprender a interagir com o público e a cooperarem entre si, já que pela primeira vez na história o receptor é também transmissor. Para Rosental, nessa nova era, a mídia não tem mais o controle da informação, porém o jornalista possui um papel diferenciado nesse processo.
Jornalismo Investigativo no Mundo
Henrique Naves
Maria Rita
Michelle Leal
Para encerrar o primeiro dia de palestras foi realizada a super session mediada por Rosental Calmon Alves (Knight Center), com a participação dos jornalistas Américo Martins (BBC), José Maria Irujo (El País) e Lise Olsen (Houston Chronicle e IRE).
Ao abrir a discussão, Rosental levantou a questão da redução dos investimentos no jornalismo investigativo. O palestrante afirmou que é no jornalismo impresso que se faz um jornalismo investigativo de qualidade.
Américo Martins refutou esse comentário ao citar exemplos tanto radiofônicos, como o Today Program, quanto televisivos como o Panorama, que realizam bons programas de jornalismo investigativo. Ele afirma que a Grã-Bretanha tem o melhor e o pior jornalismo do mundo. Martins condenou o abuso inescrupuloso por parte dos jornalistas sensacionalistas investigando à procura do grande furo. Como editor, ele delineia dois limites para esse tipo de trabalho jornalístico: a ética e o interesse público.
Para encerrar, Martins falou dos dois grandes desafios da cobertura inglesa: o terrorismo, que exige um conhecimento aprofundado da história e a ideologia desse tipo de crime que se difere intensamente dos outros.
José María Irujo discorreu sobre a dificuldade de se fazer jornalismo investigativo na Espanha. Segundo o espanhol, é caro, arriscado, de baixo retorno e pouco difundido no país. A falta de meios, a rotina e os políticos dificultam esse trabalho. (Atualmente, na Espanha, faz-se um jornalismo declarativo, que consiste em conferência de imprensa nas quais perguntas não são permitidas.)
Irujo fez duras críticas contra essa prática e ressaltou a necessidade da persistência do jornalismo como guardião da verdade. “Nada mais político do que um jornalista acomodado”. Para ele, o profissional deve investigar sem baixar a guarda e denunciar os abusos do poder.
A ética profissional também pautou o discurso do editor do El País. Ele se declara veementemente contra o uso de câmeras escondidas e de pagar por informação. Isso transformaria os jornalistas em “comerciantes sujos” que cometem um delito para reportar posteriormente.
O jornalismo investigativo é aquele que descobre algo que todos os outros ignoravam, sem buscar atalhos. Irujo fala de uma batalha que esse estilo de jornalismo enfrenta atualmente. Em sua opinião, a formação acadêmica é essencial para a vitória, assim como o uso inteligente da internet, que de grande aliada pode passar a ameaça. Isso aconteceria porque ela tira os repórteres da rua, do contato com os personagens, do aprofundamento no assunto. Ele é otimista e diz acreditar que o jornalismo investigativo vencerá.
A repórter do jornal Houston Chronicle e integrante da IRE (Investigative Reporters and Editors), Lise Olsen, mostrou a importância da internet para o jornalismo investigativo. De acordo com sua pesquisa, a internet facilita as investigações de escala internacional, já que qualquer pessoa pode ter acesso à vasta gama de conteúdos que a web oferece. Ela apresentou novas formas de investigar e apresentar os trabalhos: a HBO, a NET e os blogs.
Lise disse ainda que a internet possibilita vida longa às matérias, e a interatividade de que o meio dispõe dá movimento e as torna mais atraentes.