- 19.06
- 2008
- 15:45
- Alunos de jornalismo do UNI-BH
3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo - sábado
Cobertura das palestras de sábado (10/5) feita por alunos de jornalismo do UNI-BH durante congresso realizado em Belo Horizonte - maio de 2008
Telejornalismo
Natália Vilaça
A palestra sobre telejornalismo contou com a presença de três grandes nomes da TV brasileira: Giovani Grizotti, repórter da RBSTV, Benny Cohen, editor geral de jornalismo da TV Alterosa, e Fernando Gomes, editor-chefe e apresentador de telejornal da TV Assembléia mineira.
Grizotti, o primeiro palestrante a dividir sua experiência com os participantes, é especialista no trabalho com câmeras escondidas. Segundo ele, o uso deste recurso, muitas vezes, requer que o repórter seja “mais ator do que jornalista”.
Para Grizotti, nesses casos, a preservação da identidade do repórter é imprescindível. Ele ainda ressaltou que “esse tipo de trabalho não é fácil” e que, sem fontes, é muito difícil ser jornalista. Segundo Grizotti, para ser um bom repórter, é preciso gostar do que se faz.
Benny Cohen foi o segundo palestrante da oficina. Apesar de nunca ter exercido jornalismo investigativo, Cohen foi um dos responsáveis pela mudança na cobertura de notícias da TV Alterosa. Antes, as reportagens mostravam nome e rosto de suspeitos de crimes e das vítimas. Atualmente, as identidades são preservadas. “Nem sempre o que está na imagem é a verdade verdadeira. Não é trabalho da imprensa se antecipar ao poder judiciário. Toda pessoa é inocente até que se prove o contrário”, disse Cohen.
Por último, Fernando Gomes apresentou o jornalismo realizado nas TVs públicas. Segundo ele, os jornais da TV Assembléia procuram abordar assuntos de interesse público, procurando dar mais foco às cidades do interior. Isto porque é lá que está grande parte dos telespectadores da emissora. Gomes ainda mostrou que é necessário ter cuidado para que os políticos não façam com que a TV se torne um grande palanque, usando-a em benefício próprio.
Investigação na América Latina
Renata Ferri
Cristian Cantero, repórter do jornal paraguaio Última Hora iniciou a apresentação dizendo que todo jornalismo deve ser investigativo. O Paraguai, tem um histórico de reportagens envolvendo investigação de tráfico de drogas, armas, veículos, corrupção no governo, no poder judicial, e prostituição.
Segundo Cantero, essa forma de investigar assuntos que não são expostos teve início em 1908 quando o espanhol Rafael Barret publicou uma matéria denunciando escravidão.
A ditadura que houve no país (1954 – 1989) impediu que se desenvolvessem muitas investigações jornalísticas, porém, com a chegada da liberdade política, o jornal Última hora pôde trabalhar com temas que devem ter a atenção da sociedade. E como resultado, houve diversos processos judiciais e algumas pessoas foram responsabilizadas e condenadas a partir das informações adquiridas pelos jornalistas.
De acordo com Cantero, as dificuldades enfrentadas pelos repórteres são a falta de tempo, pois algumas notícias exigem rapidez na divulgação; o acesso a informações públicas, que nem sempre é garantido; e o fato de ser necessário trabalhar em grupo juntamente com diversos profissionais de outros ramos como engenheiros e economistas.
“É necessário ter a liberdade de falar e denunciar aquilo que fere os direitos humanos", disse o jornalista colombiano, Hollman Morris. Ele produz documentários investigativos, que fazem denúncias e colocam em foco os acontecimentos relevantes da sociedade.
Para que um jornalista tenha sucesso em suas empreitadas investigativas, segundo Morris, é preciso ser otimista; não desprezar a pessoas sobre as quais se escreve; ter acesso a arquivos; estar sempre ciente do que acontece pelo mundo; conhecer detalhes técnicos e nunca ter medo.
"Os jornalistas têm a obrigação de falar pelas pessoas que são vítimas das relações humanas", defende Morris ,após exibir um documentário de sua autoria que conta a história de uma família inocente que foi assassinada pelo exército colombiano, apenas por estarem no lugar errada, na hora errada.
Radiojoralismo
Matheus Bigode
Na palestra sobre radiojornalismo, a professora Nair Prata, pesquisadora do assunto, falou da adição de texto e imagem à webradio, que não tem mais frequência medida em hertz, é hospedada exclusivamente na Internet. Ela ressaltou a nova maneira de interação entre ouvinte e locutor, na qual o primeiro passa a comandar a ação, o que, segundo Prata, ainda é uma utopia. Nair assegura que o advento da internet não representa o fim do rádio, apenas coloca esta mídia sob um novo suporte, o da digitalização.
O americano Dean Graber apresentou dados da radiofonia nos EUA, como os 93% de americanos que utilizam as frequências AM e FM no carro. Ele disse que os repórteres agora se vêem diante do texto e do vídeo. Para ele, o jornalismo é diretamente impactado pela introdução da Internet. Dean aconselha os estudantes a aprender utilizar todas as mídias, pois elas estão cada vez mais convergentes. Graber ainda dá dicas de sites como o BBC.training.com, no qual o internauta aprende como fazer entrevistas no rádio e o uso do microfone e do gravador.
O jornalista da Rádio Itatiaia e da da TV Alterosa, Carlos Viana, falou da importância do sentimento presente na notícia. Para ele, o rádio faz com que o ouvinte construa sua própria imagem a partir do que ouve. Ele acredita que o jornalismo investigativo no rádio é possível pois, com a voz, tem-se mais tempo para retratar o fato.
Lavagem de Dinheiro
Bruno de Melo
O palestrante Rodrigo Carneiro, delegado da Polícia Federal e especialista em Segurança Pública e Defesa Social falou sobre a importância do conhecimento de conceitos sobre lavagem de dinheiro que, segundo ele, muitas vezes são utilizados equivocadamente pela imprensa.
Carneiro também destacou algumas informações importantes que podem ser acessadas na investigação jornalística. “O jornalista deve ficar atento a dados sobre quem investiga, como atividade profissional, bens incompatíveis com a renda e riqueza exterior. Pode-se obter dados através de pesquisas em cartórios, bancos de dados e investigação financeira”.
O jornalista Amaury Ribeiro Jr., do Correio Braziliense, falou sobre os caminhos que o jornalista pode percorrer na obtenção de dados. “A polícia dificilmente fornece informações, devido à necessidade do sigilo. Mas o conhecimento de aspectos financeiros, como bolsa de valores, receita etc, já ajuda a não depender tanto de órgão oficiais”.
Investigação jornalística na cobertura esportiva
Bruno de Melo
Para falar de esporte também como objeto de investigação jornalística, a Abraji recebeu Paulo Vinícius Coelho (PVC), da ESPN, um dos mais reconhecidos jornalistas esportivos do país. Ele falou sobre a importância do rigor na apuração e o relacionamento ideal com as fontes.
Segundo PVC, antes de querer ser um jornalista esportivo, você deve ser um jornalista. Ou seja, ter compromisso com a apuração, checagem e responsabilidade, entre outros aspectos importantes. “Todo jornalista não deve nunca deixar de ser repórter. O seu leitor, ouvinte ou espectador precisa, antes de tudo, saber a melhor história”.
PVC falou sobre algumas reportagens investigativas importantes que já fez e como conseguiu apurar a melhor notícia. “Eu tenho um relacionamento profissional com minhas fontes. Eu sei que estou falando não com um amigo, mas com uma fonte. E, minha fonte, sabe que está falando com um jornalista. Assim, ela sabe que aquilo que vai me dizer, vou publicar, se for relevante, é claro”.
O jornalista também falou do que não se deve fazer na relação com uma fonte. “Nunca se torne refém de uma fonte. Se houver pauta, apure. Se conseguir uma boa matéria, publique”.