• 20.06
  • 2008
  • 09:36
  • Alunos de Jornalismo do UNI-BH

3º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo - fundamentos da reportagem

Cobertura das palestras do eixo Fundamentos da Reportagem feita por alunos de jornalismo do UNI-BH durante congresso realizado em Belo Horizonte - maio de 2008

Como construir o texto jornalístico

Natália Vilaça

A palestra “Como construir o texto jornalístico”, ministrada pelo jornalista Paulo Totti foi uma grande aula. Com mais de 50 anos de experiência na profissão, Totti abordou os principais aspectos da redação jornalística, mas destacou, principalmente, a importância de uma boa apuração na hora de escrever uma reportagem.

Logo no início da oficina, o jornalista deixou claro que “o texto jornalístico tem que ser, sobretudo, informativo”.

Para que cumpra esta função, Totti enfatizou o grande valor do lide. Segundo ele, dificilmente um jornalista consegue escrever um bom primeiro parágrafo na primeira tentativa. Assim, para nortear seu trabalho, o repórter deve ter em mente a função principal do lide: resumir a idéia geral da matéria.

Ao longo da palestra, Totti deu dicas primordiais para quem pretende fazer um jornalismo de qualidade. Uma delas mostra que uma boa reportagem é aquela que prende a atenção do leitor até o último parágrafo. Para tanto, o jornalista deve apurar cuidadosamente as informações e deixar aflorar sua criatividade. 

Outra dica diz que um bom repórter não deve ter medo de perguntar. Segundo Totti, “o repórter que mais pergunta é o que melhor informa”.

Além disso, o jornalista ainda indicou livros cuja leitura é primordial para qualquer jornalista. São eles: “Formação econômica do Brasil, de Celso Furtado; “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda; e “Casa grande e senzala”, de Gilberto Freire. Entre os autores internacionais, Totti citou Gay Talese (autor de “O reino e o poder: uma história do The New York Times”, entre outros) e Tom Wolf (que escreveu “Fogueira das vaidades”, por exemplo), ambos adeptos do gênero conhecido como Novo Jornalismo.


Precisão na apuração jornalística

Natália Vilaça

Os jornalistas Eduardo Lorea, do jornal gaúcho Zero Hora, e Mário Magalhães, da Folha de S. Paulo, ministraram a palestra “Precisão na apuração jornalística”. Como coordenador do Programa de Prevenção de Erros dos jornais do grupo RBS, Lorea mostrou que é possível minimizar as incorreções na apuração através de métodos como a classificação das falhas cometidas.

Essa seria uma forma preventiva para que tais erros não se repitam em edições futuras. Já o ex-ombudsman da Folha destacou que, enquanto exercia a função, seu trabalho era analisar os erros após a publicação do jornal, através, principalmente, do retorno dos leitores.

Os jornalistas exemplificaram os erros mais freqüentes, a proporção entre as falhas cometidas e as correções publicadas, entre outros itens, ao longo de toda a palestra. Ambos concordaram que uma boa checagem de informações é um dos meios mais eficazes para evitar que se cometa erros. Contudo, eles lembram que eliminar as falhas por completo é impossível.

Lorea ainda destacou que, “para ser bom em checagem, é preciso saber o que é fundamental em cada caso. Para um caso específico, uma checagem específica”. Para Magalhães, a regra de ouro de uma boa apuração ensina que, sempre que possível, ela deve ser feita pessoalmente.

Os palestrantes destacaram ainda que o ideal para se evitar erros é trabalhar com a prevenção. Observar as falhas anteriores ajuda a não cometê-las novamente. Eduardo e Mário mostraram também que, ao contrário do que ocorre em muitas redações, o jornalista deve ser estimulado a apontar o próprio erro. Assim, é possível minimizar as incorreções presentes diariamente nas páginas dos jornais.

Metodologia da reportagem

Luiza Villarroel

Claudio Tognolli iniciou sua palestra falando sobre Lei de Imprensa, comportamento com fontes e erros no momento de uma reportagem investigativa.

"Comemorar o fim da Lei de Imprensa é um absurdo. Virou um grande negócio processar jornalistas, já que você pode entrar com a ação muito tempo depois do ocorrido e cobrar quanto desejar" – iniciou o diretor da Abraji.

Com a Lei de Imprensa, pode-se processar o jornalista até dois anos após o corrido e cobrar no máximo 200 salários mínimos. Para o jornalista, esta lei é fundamental para o Brasil, país onde mais se processa jornalistas no mundo.

Ao falar em como se comportar com fontes, Tognolli ressaltou um problema: quando a fonte vira um amigo. Mas o profissional avisou, "ensine a sua fonte como ela deve agir e seja claro que ela não deve contar o que não quer ver publicado".

Tognolli criticou ainda a atitude de muitos jornalistas no momento de se realizar uma reportagem investigativa, uma vez que muitos profissionais copiam informações enviadas pela polícia. "O documento público deve ser usado como ponto de partida e não como ponto de chegada" , advertiu o jornalista.

Ao entrar no assunto específico da palestra, Tognolli apontou quatro formas de se fazer jornalismo dentro da Metodologia da Reportagem: Positivismo, Marxismo, Fenomenologia e Quântico ou Gonzo. O primeiro preocupa-se em demonstrar ao leitor a realidade mensurada pelos números, sem juízos de valor e adjetivos. O segundo preocupa-se na produção de textos pensados diante da relação existente entre o trabalho e capital. Para a Fenomenologia, interessa o jornalismo literário, encarando a construção jornalística de uma maneira poética.

Já o jornalismo quântico ou gonzo baseia-se na infiltração do jornalista em situações sem que sua identificação seja feita, "o fato de analisar o fenômeno o altera. Então se envolva com o fenômeno da maneira que quiser. Inclusive se misture com ele para não alterá-lo" – afirmou o professor. "Em toda reportagem utilizem as quatro metodologias. É a melhor maneira de se fazer uma reportagem", finalizou Tognolli.

 

Assinatura Abraji