• 13.03
  • 2013
  • 13:38
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1º Seminário Regional da Abraji reúne participantes de 11 Estados do Brasil

Onze Estados do país estavam representados na platéia do 1º Seminário Regional de Jornalismo Investigativo realizado pela Abraji no último sábado (9.mar.2013), em São Paulo. Entre os 224 participantes inscritos havia profissionais e estudantes do Sul (PR, RS e SC), Sudeste (MG, RJ e SP), Nordeste (BA, CE, RN), Norte (TO) e Centro-Oeste (DF).

O dia foi de programação intensa, mas não sem uma dose de descontração - especialmente no primeiro painel, "Reportagem: O jogo suspeito e a queda de Ricardo Teixeira", que foi moderado por Juca Kfouri (Folha de S.Paulo/ESPN).

O jornalista não economizou elogios a Filipe Coutinho, Julio Wiziack, Leandro Colon, Rodrigo Mattos e Sérgio Rangel. Juca já conhecia a equipe e chegou a ser consultado durante a produção da série de reportagens que levou à saída de Ricardo Teixeira do comando da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). "Deixei minhas netas me esperando para vir aqui participar deste painel não só por causa do meu carinho pela Abraji, mas principalmente porque estes meninos merecem", disse Kfouri, bem-humorado.

Kfouri também provocou os repórteres: "E se vocês se deparassem com um escândalo envolvendo seus times do coração? Hesitariam em revelar?", ao que todos deixaram clara a distância entre o trabalho jornalístico e a paixão no esporte.

Só Wiziack não se manifestou sobre a hipótese, lembrando que "não entendia nada de futebol" antes de fazer as reportagens. "Tive que correr atrás para saber quem era quem, as relações dos envolvidos", completou. Mas a experiência do repórter na cobertura do setor financeiro e de negócios foi essencial para rastrear o dinheiro de Ricardo Teixeira.

Filipe Coutinho e Leandro Colon destacaram que as reportagens foram fruto de um trabalho que foi além dos relatórios e investigações policiais. "É importante repercutir esses materiais, mas também é preciso investigar outras frentes", disse Coutinho. "Os documentos oficiais são só o ponto de partida", completa Colon. 

Filho da rua

Documentos oficiais também foram o ponto de partida para Letícia Duarte (Zero Hora) levar adiante a série "Filho da Rua", também tema de painel no Seminário. A pesquisa em registros sobre crianças em situação de rua em Porto Alegre deu suporte à jornada de três anos acompanhando a vida de Felipe, um menino que deixou a própria casa em 2002, com cinco anos, e em 2008 já havia passado por todos os projetos e redes de assistência da cidade.

Conforme a apuração acontecia, a aproximação com Felipe e a família foi inevitável. A repórter comentou que um dos maiores desafios do trabalho foi - e continua sendo - lidar com essa proximidade, já que além de uma fonte ele é alguém com quem Letícia se importa. Felipe ligou para ela após fugir de mais uma internação para tratar da dependência do crack. “Eu deixei um telefone com ele, mas ele nunca havia me ligado. Naquele dia, ele me ligou e disse: `desculpa, eu fugi`".

Letícia disse que não esperava tamanha repercussão sobre a reportagem, que recebeu prêmios como o Esso de Reportagem 2012 e Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Mesmo assim, ficou satisfeita porque ajudou a recolocar o tema das crianças de rua em debate.

Reflexões

Os painéis "Jornalismo investigativo: ensinar e aprender" e "Manual de Jornalismo Investigativo e a experiência brasileira" provocaram debates e reflexão entre participantes e palestrantes. No primeiro, Eugênio Bucci (ECA-USP/ESPM) e Cleofe Monteiro (Anhembi Morumbi), com a mediação de José Roberto de Toledo (O Estado de S.Paulo/Rede TV!/Abraji), mostraram que ainda há muito o que fazer para melhorar o ensino de jornalismo investigativo no Brasil. 

Bucci defendeu que é preciso preparar os futuros profissionais para gerenciar redações e pessoas, pois a tendência é que nasçam cada vez mais meios independentes de produção de jornalismo investigativo. Cleofe mostrou a falta de entusiasmo de estudantes com a carreira em jornalismo investigativo e enfatizou a importância de revalorizar o profissional dessa área.

Ao apresentar um pouco do livro que organizou recentemente, o Global Investigative Journalism Casebook, o professor norte-americano Mark Hunter (INSEAD) destacou a rápida evolução do jornalismo investigativo no Brasil na última década. E afirmou: "sempre haverá trabalho para quem souber investigar", pois a ideia de que o público quer apenas entretenimento e superficialidade é equivocada. "As pessoas querem saber o que acontece de verdade", disse. Perguntado sobre a preferência de alguns estudantes pelo jornalismo literário pela moderadora Ana Estela de Sousa Pinto (Folha de S.Paulo/Abraji), Hunter foi enfático: é uma ferramenta válida, mas o jornalista nunca pode colocar seu estilo à frente da dor ou da aflição de quem está sendo retratado na reportagem.

O evento foi patrocinado pela Souza Cruz e contou com o apoio da Universidade Anhembi Morumbi, que cedeu o auditório do campus Vila Olímpia para a realização dos painéis.

Assinatura Abraji