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Conferência de Jornalismo Investigativo (parte 2) - Ferramentas de investigação
Como o prometido, mando agora uma seleção de ferramentas e técnicas (algumas novas, outras nem tanto) que vi na Conferência Internacional de Jornalismo Investigativo (GIJC) da África do Sul. Algumas são heterodoxas, mas tem coisa potencialmente útil em várias áreas.
INVESTIGAÇÃO DE PESSOAS
a) Achar contatos pessoais:
- O plugin Lusha foi o troço mais útil que achei nesse sentido. Você instala no Chrome e entra na página do Linkedin do sujeito que você está procurando. Clica no botão do plugin e os contatos escondidos *plim* aparecem. E você não precisa ficar amigo deles. Não funciona pra todo mundo, mas nos testes que fiz teve um bom aproveitamento. Eles dão uns créditos na versão free e cobram se for usar muito.
Truecaller – Quer saber quem está por trás de um telefone? Joga nesse troço e talvez ele te dê mais detalhes da pessoa, como nome, email, endereço. Confesso que nos testes que fiz com telefones brasileiros não achou tudo, mas o pessoal de fora com quem conversei encontrava 100% das buscas corretamente. Importante: Crie uma conta de email diferente para logar no sistema. Isso porque quando vc conecta a sua conta google, esse negócio rouba todos os seus contatos (parece ser esse o modus operandi da plataforma).
Grabify – É um encurtador de urls. Mas o objetivo não é exatamente este. Quando você quer descobrir de onde um investigado está falando, você encurta uma url no serviço e manda pro cara clicar. Se ele clicar, você consegue obter o IP dessa pessoa. Com o IP, dá pra usar um serviço como este aqui pra confirmar a cidade onde sua fonte está ou, se der sorte, até a localização aproximada dentro da cidade.
b) redes sociais
- Spokeo.com - Se você conseguir um email, um username de skype ou de outro serviço do sujeito que está investigando, jogue na busca do site. Ele procura por mais de 100 sites de mídias sociais e faz um relatório, dependendo da pessoa, absurdamente detalhado. Outros emails relacionados a essa pessoa, contas verdadeiras e fakes abertas por este email, telefones relacionados a ela, fotos, pessoas com quem ela esteve recentemente. É pago, mas se isso é útil na sua investigação, 14 dólares por ano pode valer a pena.
- Stalkscan.com –Você joga o perfil de facebook de alguém e, mesmo que a pessoa seja ciosa da sua privacidade, vê um relatório com fotos, posts que a pessoa curtiu, comentários, o que ela "amou", eventos que ela participou, quais são seus familiares, entre trocentas informações que estão abertas mas normalmente não percebemos. Quem acha que não postar no modo público garante alguma privacidade vai se assustar com isso aqui.
Peoplefindthor.dk – O Facebook costumava ter uma busca superespecífica, a graph, cuja interface foi desativada. Se você souber montar a busca na url, porém, continua funcionando. O que este site faz é facilitar: em vez de você ficar decorando como monta a url de uma busca, você seleciona as variáveis e ele monta para você. Ótimo para achar personagens de matérias. Por exemplo, você poderia buscar alguém em cujo perfil estão as informações “trabalha na samarco” e “de bento rodrigues”. Ou pessoas que fizeram check-in recentemente no local de um atentado. Ou os amigos do Geddel Vieira Lima no Facebook que trabalham ou já trabalharam no Banco do Brasil.
Archive.is – espécie de waybackmachine para medias sociais. O amiguinho investigado apagou o post? É possível que ele tenha sido guardado aqui.
INVESTIGAÇÃO DE EMPRESAS
Já está por aí faz um bom tempo, mas a ferramenta ficou melhor. Serve especialmente para investigações de corrupção que envolvem empresas registradas em outros países e paraísos fiscais. O banco de dados aumentou e incorporou documentos de tudo quanto é grande vazamento, dos antigos telegramas do Wikileaks aos documentos públicos do Panama Papers. Buscando ali dentro por empresa ou por pessoa é possível checar dentro de bases oriundas (eta palavra feia) de offshores de vários países. Algumas coisas eles raspam de sites públicos, outros conseguem via vazamentos e contribuições de jornalistas e, com isso, estão criando um belo banco de dados de documentos internacionais relacionados a empresas. A busca é gratuita e existe a opção de pedir, também grátis, a ajuda do pessoal da OCCRP. São especialistas em investigação de crimes financeiros internacionais que se prontificam a ajudar na pesquisa para a sua pauta.
Ideia parecida, mas mais focado em registros de companhias. Dizem ser o maior banco de dados de empresas no mundo. Dando uma busca rápida por lá você pode, por exemplo, ver que há três subsidiárias da Petrobras registradas em Delaware, espécie de paraíso fiscal dentro dos EUA. Se alguém conseguir me explicar depois para que, eu agradeço. :)
Pra quem não conhece, o sistema da Securities and Exchanges Comission (espécie de CVM dos EUA) é interessante para pesquisar não apenas empresas dos EUA. As compahias que fazem negócios, pedem empréstimos ou pegam investimentos de fundos sediados por lá são obrigadas a abrir uma série de informações que podem ser aproveitadas em matérias. Na conferência foram mostrados exemplos de companhias chinesas cujas informações são totalmente fechadas no país de origem mas que eram abertas dentro do site dos EUA.
- Foram mostradas também pesquisas em alguns outros serviços pagos pra esse tipo de investigação, dando dados mais detalhados, como DueDil, Arachnys e o famoso Lexis Nexis – este por trás de uma série de investigações de lavagem de dinheiro mostradas. A maioria sai uma bica de caro para ter acesso, mas uma dica do pessoal de lá é que algumas universidades têm licenças e deixam você fazer pesquisas nos computadores delas.
Outros
- O investigado é dono de um iate? Em marinetraffic.com procure o iate do indivíduo e monitora onde ele está aportado e para onde ele vai. Precisa pagar para acessar um histórico de movimentação do iate de até 3 meses, mas dá pra fazer esse histórico você mesmo configurando um alerta pra receber um email a cada vez que o iate aportar em um lugar diferente. Se você souber um pouquinho de IFTT você consegue gerar uma planilha automática em tempo real.
- Acha que a imagem que recebeu de uma fonte pode ter sido manipulada? Joga no Image edited?
- Quer saber quem tuitou primeiro um negócio que viralizou? Faça uma busca aqui.
- Quer saber tudo o que as ONGs brasileiras recebem de dinheiro do governo dos EUA? Faça uma busca por "Brazil" e baixe todos os dados aqui.
- Quer buscar brasileiros que foram presos e sofrem processo de deportação nos EUA? O pessoal da Univerdade de Syracusa faz um pedido de Lai por mês e coloca os dados aqui. Faça o filtro por nacionalidade e peça série histórica.
Tem também uma lista de "100 bases de dados mais úteis" para jornalistas que rolou numa das sessões, da Margot Willians (Intercept). Não sei se dão 100 no documento e nem se são as mais úteis, mas tem coisa bacana lá =)
Este texto foi retirado de um e-mail enviado em 23.nov.2017 pelo coordenador de cursos da Abraji, Tiago Mali, à lista de e-mails de associados da Abraji. A equipe da Abraji viajou à África do Sul para participar da 10ª Conferência Global de Jornalismo Investigativo em novembro de 2017.