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Guia de Eleições para Repórteres Investigativos | Capítulo 4: Investigando mensagens políticas e desinformação

Guia de Eleições para Repórteres Investigativos | Capítulo 4: Investigando mensagens políticas e desinformação

Publicado originalmente pelo site da GIJN.

As plataformas de mídia social se tornaram domínios poderosos de mensagens políticas nas eleições. Seu impacto vai do positivo, como aumentar o engajamento de eleitores jovens e desprivilegiados, ao fútil, como divulgar memes de candidatos, e ao negativo, exemplificado por anúncios pagos muitas vezes enganosos e campanhas coordenadas de desinformação.

Enquanto isso, a mídia estatal e os atores partidários continuam sendo os principais amplificadores dos autocratas. Em lugares como África e Índia, esses elementos fabricaram narrativas falsas por meio de redes de mensagens complexas e disciplinadas. Ao mesmo tempo, a crescente monopolização de canais de TV privados por aliados de líderes autoritários abafa as vozes da oposição em países como Sérvia e Polônia.

Graças ao compartilhamento e rastreamento de dados, a publicidade de campanhas on-line agora pode ser direcionada com precisão para subgrupos demográficos. De acordo com a First Draft News, uma organização sem fins lucrativos de verificação de fatos, essa “colcha de retalhos de leis e uma abordagem laissez-faire da publicidade política resultaram em falta de responsabilidade nas campanhas políticas e na disseminação de falsidades e desinformação”.

Como resultado, é cada vez mais responsabilidade da mídia chamar a atenção e apresentar evidências aos eleitores sobre o que realmente está acontecendo.

Embora as organizações de verificação de fatos geralmente façam um trabalho admirável ao expor falsidades on-line e identificar imagens manipuladas, muitas vezes o papel de rastrear os indivíduos por trás da desinformação eleitoral ou dos truques sujos é deixado para os jornalistas investigativos. Eles se tornaram a principal fonte para descobrir questões críticas sobre mensagens eleitorais, como: quem está conduzindo as mensagens políticas on-line? Que conversas eles desencadeiam e entre quais eleitores? De onde vem o financiamento para os candidatos?

Para repórteres em democracias estabelecidas sob o cerco da desinformação e forças antidemocráticas, Sarah Blaskey, uma repórter investigativa do Miami Herald, oferece esta sugestão perspicaz: as democracias são muito mais frágeis do que você pensa, então cubra sua eleição como se você fosse um correspondente estrangeiro.

Neste capítulo, compartilhamos técnicas úteis para rastrear conversas políticas ou publicidade de campanha e narrativas de desinformação on-line, bem como dicas para encontrar as fontes dessas campanhas com base em entrevistas com alguns dos principais especialistas em manipulação de mídia do mundo. Também compartilhamos uma lista de “truques sujos” que os jornalistas precisam observar e explicamos como revelar os culpados ou as leis questionáveis ​​por trás deles.

Uma nota rápida sobre os termos: este capítulo usa os termos informações falsas, que é amplamente definido como informação falsa que é espalhada independentemente de haver intenção de enganar, e desinformação, que se refere à publicação de informações deliberadamente enganosas ou tendenciosas, narrativas manipuladas ou fatos e propaganda.

Tendências de mensagens a serem observadas


Ilustração: Marcelle Louw para GIJN

O First Draft News sinalizou três formatos principais de interferência eleitoral.

  1. Desinformação destinada a desacreditar candidatos e partidos.
  2. Operações de informação destinadas a interromper o processo de votação e desencorajar a participação, como enganar os eleitores sobre os horários e locais para votar.
  3. Falsidades destinadas a minar a confiança do público nos resultados.

Claire Wardle, cofundadora da First Draft News, alerta que a “transformação do contexto em arma de guerra” –onde o conteúdo genuíno é intencionalmente distorcido– é a forma mais persuasiva de desinformação nas eleições.

Além de falsidades direcionadas, países em todo o mundo estão vendo inúmeros exemplos de uma poderosa tática de mensagens, uma vez descrita pela personalidade da mídia de direita Steve Bannon –que trabalhou brevemente na Casa Branca como consultor do então presidente dos EUA, Donald Trump– como “inundar a zona com merda”. O objetivo é corroer a confiança do público na mídia e em outras instituições, sobrecarregando as pessoas com uma enxurrada de alegações e conspirações. Impulsionado por partidários e amplificado por algoritmos de mídia social que priorizam o discurso raivoso sobre os fatos, esse tipo de mensagem de “alegação sem provas”, que não faz nenhum esforço para fornecer nem mesmo as evidências mais tênues, representa uma ameaça fundamental à democracia em todos os lugares, de acordo com um recente livro que analisa a erosão da confiança pública nos EUA. Seus autores –Nancy Rosenblum, da universidade de Harvard, e Russell Muirhead, de Dartmouth– chamam o fenômeno de “teoria da conspiração sem teoria” e alertam que “o novo conspiracionismo impõe sua própria realidade por meio da repetição”.

Branko Čečen, diretor do Centro de Jornalismo Investigativo da Sérvia (CINS) –uma organização membro da GIJN– alertou recentemente que um número alarmante de eleitores na região dos Bálcãs caiu sob o domínio de teorias de conspiração on-line completamente infundadas. “É inacreditável como uma porcentagem grande de pessoas aqui está completamente convencida pelas piores teorias da conspiração possíveis”, diz ele. Enquanto muitos daqueles que foram enganados estão hiperengajados na política, Čečen observou que o dilúvio de falsas alegações também teve um efeito oposto, induziu a apatia em outros cidadãos, que “apenas retraíram-se”.

As campanhas políticas também estão usando cada vez mais novas tecnologias para contornar as regras que protegem os eleitores de assédio e intimidação por telefone, e podem usar campanhas de texto em massa anônimas para incitar os apoiadores a invadir eventos ou locais de votação específicos. Por exemplo, a Comissão Federal de Comunicações dos EUA proíbe o uso de “discagem automática” para enviar mensagens políticas aos cidadãos. Em resposta –em vez de contratar exércitos de voluntários para discar manualmente todos os números– algumas campanhas estão usando plataformas de mensagens de texto semiautomáticas, ponto a ponto, para bombardear as pessoas com mensagens em massa não solicitadas.

Da mesma forma, o Partido Bharatiya Janata, do presidente indiano Narendra Modi, construiu um enorme exército de voluntários que estão preparados para compartilhar repetidamente mensagens e temas de campanha pré-escritos com seus amigos e familiares. E uma análise de 2021, do Centro Africano de Estudos Estratégicos, encontrou campanhas desenfreadas de desinformação eleitoral em vários países daquele continente. “A desinformação coordenada que descobrimos é apenas a ponta do iceberg”, explicou Tessa Knight, pesquisadora sul-africana do Digital Forensic Research Lab (DFRLab) do The Atlantic Council. “Está se expandindo à medida que governos e figuras políticas aprendem a manipular algoritmos de redes sociais por meio da produção de conteúdo falso, duplicado e coordenado”.

Monitorando mensagens políticas

Dada a enxurrada de informações que envolve as eleições, os especialistas da área tentam organizar e automatizar ao máximo seu monitoramento. Eles recomendam seguir grupos do Facebook e listas do Twitter, bem como usar truques de pesquisa do Google como site:twitter.com/*/lists “NOME DA LISTA” para rastrear alvos e prestar atenção em quais contas relacionadas e canais de vídeo as plataformas de mídia social recomendam automaticamente.

“Ao acompanhar as pessoas conduzindo a conversa, o importante é deixar os algoritmos fazerem o trabalho. Então, quando você segue uma conta, o Instagram recomenda automaticamente uma lista de outras relacionadas”, diz Jane Lytvynenko, pesquisadora do Centro Shorenstein da Universidade de Harvard que estuda manipulação de mídia digital.

Descubra onde as conversas políticas estão acontecendo. Cada país, região e grupo ideológico têm suas mídias sociais e plataformas de mensagens preferidas. O WhatsApp domina no sul da África e muitas partes da América Latina; na China é o WeChat; entre os grupos de direita é, em grande parte, o Telegram; e nas Filipinas é quase inteiramente o Facebook. Portanto, é crucial identificar as principais plataformas e aplicativos de mensagens em seu cenário eleitoral desde o início.

“A primeira coisa realmente importante é entender onde as conversas estão acontecendo e as tendências”, diz Lytvynenko. “Por exemplo, vemos uma grande aceitação do Telegram em países como o Brasil, mas está diminuindo nos EUA. Mas esteja ciente de que os grupos do Facebook continuam sendo um grande vetor de desinformação e informações falsas”.

Descubra o que os eleitores estão tentando descobrir. Use os filtros da ferramenta Google Trends para saber o que as comunidades de votação estão pesquisando, bem como as acelerações repentinas de interesse em um tópico eleitoral.

Encontre tweets relacionados a eleições que os políticos apagaram. Procure tweets deletados por políticos na ferramenta gratuita Politwoops, que agora apresenta um banco de dados de mensagens deletadas de autoridades eleitas em mais de 50 países.

Preste atenção na 

plataforma de mensagens do Telegram. “O Telegram é politicamente relevante em mais países do que há alguns anos”, explica Lytvynenko. “À medida que as plataformas maiores, como Facebook e Twitter, tentam estar mais conscientes dos movimentos extremistas, muitos desses grupos se sentem cada vez mais seguros no Telegram e temem muito menos serem fechados. Os repórteres deveriam realmente observar esses canais de perto”.

Use este processo de 3 etapas para pesquisas no Telegram. Lytvynenko sugere esta estratégia para pesquisar tópicos eleitorais no Telegram:

  1. Use o seguinte operador no Google –site:t.me (palavras-chave)– para encontrar os poucos canais do Telegram que podem ser úteis para você, usando palavras-chave.
  2. Em seguida, abra a ferramenta Tgstat e conecte os canais interessantes que encontrar. “O Tgstat é particularmente útil porque oferece uma visão do ecossistema e, em seguida, você segue esses canais”, diz Lytvynenko. Os repórteres também podem usar a ferramenta Telegago para essas buscas.
  3. Por fim, baixe o aplicativo de desktop do Telegram. Ao fazer isso, observa Lytvynenko, você tem a opção de exportar o histórico da conversa. “Isso ajuda com qualquer tipo de análise em massa. A beleza do aplicativo de desktop Telegram é que, uma vez inscrito em canais suficientes, você pode usá-lo como um mecanismo de pesquisa“. Ela diz que você também pode encontrar conversas do Telegram que ocorreram antes de você ingressar na plataforma.

Experimente o Snap Map e o TweetDeck para notícias de última hora. O recurso Snap Map do SnapChat mostra mapas de calor da atividade de mensagens e permite que você amplie um ponto em um mapa e assista aos vídeos sendo feitos em tempo real. “É uma ferramenta útil e permite que você colete mais contexto em uma situação de notícias de última hora”, diz Craig Silverman, especialista em manipulação de mídia da ProPublica. O TweetDeck permite que você reúna postagens de mídia social de um local ou de um tópico específico em colunas em um painel e muito mais.

Experimente o truque de copiar e colar para verificar se há sites partidários aliados. Copie um pedaço de texto da página “Sobre” ou “Início” de sites hiperpartidários, cole-o no Google e, em segundos, você poderá ver se o conteúdo está replicado em outros sites. Além disso, procure logotipos e layouts semelhantes, pois podem indicar o envolvimento do mesmo web designer.

Use Twitonomy para analisar contas hiperpartidárias. A ferramenta Twitonomy permite que os repórteres acessem uma determinada conta do Twitter, mostrando quando e com que frequência a pessoa tweeta, quem ela retweeta e a quais outras contas ela responde.

Experimente a nova ferramenta de análise da Mozilla que rastreia desligamentos da Internet. Em março, a Mozilla abriu acesso a um vasto conjunto de dados sobre interrupções na Internet em todo o mundo, algumas das quais podem ser relacionadas a eleições. Solicite acesso gratuito ao conjunto de dados através deste formulário.

Ferramentas para explorar as fontes de propaganda política on-line

 

As campanhas de propaganda política on-line usam cada vez mais táticas de microssegmentação, nas quais anúncios diferentes, ou versões ligeiramente modificadas do mesmo, têm como alvo subgrupos demográficos específicos. Por exemplo, uma análise das eleições gerais do Reino Unido de 2019 pela First Draft News descobriu que um anúncio do Partido Conservador dizendo “Conclua o Brexit!” atingiu exclusivamente usuários do sexo masculino com menos de 34 anos. Mas uma cópia quase exata deste mesmo anúncio, com apenas uma nova legenda focada em serviços de saúde e segurança, só foi vista por mulheres. A reportagem explica que os algoritmos das redes sociais amplificam as mensagens para os grupos que inicialmente têm mais resposta, eventualmente criando uma estratégia de divulgação confiável. E os anúncios on-line podem ser uma pechincha para campanhas. O First Draft News encontrou um anúncio do SnapChat que atraiu mais de meio milhão de impressões e custou apenas US$ 765 para ser executado.

Pesquise na Biblioteca de Anúncios do Facebook por anúncios políticos. Apesar do amplo ceticismo sobre as estratégias de dados no Facebook, vários especialistas, incluindo Julia Brothers, gerente do programa eleitoral do Instituto Nacional Democrata dos EUA, dizem que a Biblioteca de Anúncios do Facebook se tornou uma importante ferramenta global para explorar anúncios políticos e os grupos por trás deles.

“Deve ser uma prática padrão nas eleições que os repórteres explorem a Biblioteca de Anúncios do Facebook, para ver quais anúncios políticos estão por aí”, concorda Silverman, da ProPublica. “Você pode procurar páginas específicas; você pode fazer pesquisas por palavras-chave. Suspeito que o Facebook se esforce menos em países menores, mas se as pessoas quiserem veicular anúncios políticos no Facebook, elas devem se registrar com antecedência e serem aprovadas pelo Facebook, e esses anúncios devem ser arquivados por anos”. Silverman diz que os repórteres podem ir mais fundo pesquisando nomes de interesse que encontram na Biblioteca de Anúncios no banco de dados OpenCorporates.

Confira a ferramenta de anúncios políticos do Google, que está crescendo rápido. Embora atualmente limitado a alguns países, o Relatório de Transparência de Publicidade Política do Google deve crescer rapidamente em 2022 e 2023. Ele afirma incluir informações detalhadas sobre os padrões de gastos de “anunciantes verificados” em anúncios relacionados às eleições, e os dados são atualizados diariamente.

“Não é tão bom quanto o rastreador do Facebook, mas você pode baixar os dados do Google –você também pode visualizar alguns deles– e você pode pesquisar um pouco, então eu definitivamente checaria”, diz Silverman. Repórteres nos EUA também podem explorar o excelente NYU Ad Observatory –desenvolvido pela Unidade de Cibersegurança para Democracia da Universidade de Nova York– para obter informações mais detalhadas sobre as organizações por trás da publicidade no Facebook.

Encontre pesquisadores locais que já estudam anúncios políticos. “Existem acadêmicos em seu país que estudam propaganda política? Geralmente existem pessoas assim em quase todos os países”, diz Silverman. “Definitivamente, converse com eles e veja quais estudos e dados eles estão coletando, o que pode ser diferente do que as plataformas estão publicando”.

Como rastrear atores por trás da desinformação eleitoral

 

“A divulgação de informações falsas, principalmente nas redes sociais, é cada vez mais lucrativa política e financeiramente”, observa Lytvynenko. “Uma maneira de pensar sobre isso como um repórter investigativo é perguntar: ‘Quem se beneficia?’ Se você está preocupado com a interferência patrocinada pelo Estado, pergunte se os estados desinformantes conhecidos –Rússia, China, Irã– se beneficiam diplomaticamente ao interferir em uma narrativa eleitoral local”. Ela acrescenta: “Nacionalmente, vemos políticos usando informações falsas para reforçar suas próprias agendas; fazer parecer que eles têm mais apoio do que realmente têm; ou para impulsionar uma política específica”.

Dado os breves períodos de atenção que as mídias sociais ajudam a gerar, Lytvynenko diz que as formas visuais de desinformação são cada vez mais poderosas e recomenda este guia abrangente do Washington Post para entender a ameaça.

Quem são os desinformantes nas eleições? Estes podem ser agentes políticos por trás de campanhas nacionais coordenadas; mídia de notícias hiperpartidária; fazendas de trolls estrangeiras apoiadas pelo Estado; extremistas políticos ou antidemocráticos; grupos de interesses especiais; redes de propaganda nas mídias sociais; e, às vezes, adolescentes que encontraram uma maneira de monetizar falsidades políticas, por uma fração de centavo por visita ao site. Eles também podem ser participantes involuntários. Como aponta o First Draft News, uma afirmação sincera de um cidadão bem-intencionado sobre uma questão complexa pode ser reaproveitada por agentes de desinformação para uso em mensagens eleitorais. Sua reportagem ofereceu este exemplo: “Uma [pessoa] relatando erroneamente a causa de uma temporada de incêndios florestais na Austrália como uma onda de incêndio criminoso, que é então captada por teóricos da conspiração com uma agenda de negação climática”.

Em 2016, uma investigação de Silverman revelou que mais de 100 sites de desinformação pró-Trump estavam sendo administrados por jovens propagandistas em uma única cidade da Macedônia, alguns dos quais ganhavam até US$ 5.000 por mês em receita de publicidade baseada em tráfego. A maioria não se importava com as diferenças ideológicas entre Donald Trump e sua adversária democrata, Hillary Clinton. Eles simplesmente descobriram que os compartilhamentos de mídia social dos apoiadores de Trump eram mais lucrativos –e, no entanto, acredita-se que suas postagens falsas e enganosas tiveram uma influência maligna nas eleições de 2016 nos EUA. Em 2020, o repórter francês Alexandre Capron descobriu que uma campanha de desinformação prejudicial na República Democrática do Congo não foi motivada nem por dinheiro nem por influência política, mas simplesmente pelo direito de se gabar nas redes sociais.

“O primeiro estágio de desinformação que costumamos ver é uma enxurrada de conteúdo nas mídias sociais – geralmente conteúdo visual; às vezes fora de contexto, às vezes recortado de forma enganosa”, observa Lytvynenko.

Experimente novas ferramentas de insights de desinformação. CrowdTangle tem sido a ferramenta preferida para rastrear narrativas no Facebook, Reddit e Instagram. Mas Silverman alerta que essa ferramenta perspicaz agora tem novos limites –como a suspensão de novas contas– e enfrenta um futuro incerto. Este é, sem dúvida, um golpe para os repórteres nas eleições dominadas pelo Facebook, em países como as Filipinas. No entanto, Silverman diz que recursos emergentes, como Junkipedia, têm o potencial de cumprir pelo menos uma função de investigação semelhante na maioria dos países e com recursos mais amigáveis ​​para a mídia. A Junkipedia se concentra na desinformação viral e no “conteúdo problemático”.

Use ferramentas de verificação rápida para novos rumos de histórias. Embora as organizações de verificação de fatos normalmente assumam o papel principal no desmascaramento, imagens e alegações suspeitas geralmente surgem em investigações maiores – que também exigem verificação e podem gerar novos rumos valiosos. No popular guia de verificação de imagens da GIJN, o treinador de jornalismo Raymond Joseph descreve meticulosamente como usar várias ferramentas fáceis de usar, incluindo o aplicativo gratuito Photo Sherlock e o aplicativo Fake Image Detector para verificar fotos manipuladas nas mídias sociais, bem como dicas sobre como localizar pistas nas imagens. Especialmente útil para repórteres pressionados pelo tempo das campanhas; ele também explica como os jornalistas podem verificar fotos em segundos em seus telefones celulares, inserindo URLs de fotos ou endereços da Web no Imagens do Google.

Eduque o público sobre os tipos comuns de propaganda eleitoral. As informações falsas e a desinformação são, infelizmente, tão difundidas que é importante entender as diferentes espécies de falsidades –como agitprop, que é projetado para provocar o público em uma ação específica, ou gaslighting, que produz narrativas falsas e enganosas para atacar fatos estabelecidos e minar a confiança– e contextualizar suas diferenças. Para saber mais sobre isso, veja este explicativo útil do grupo sem fins lucrativos Data & Society e esta caixa de ferramentas sobre desordem de informação da First Draft News.

Rastreie os superdisseminadores de desinformação. Como você pode distinguir a desinformação eleitoral coordenada nas mídias sociais do compartilhamento inocente de mensagens populares, mas imprecisas? CooRnet, um programa desenvolvido na Universidade de Urbino, na Itália, usa algoritmos para identificar padrões de compartilhamento suspeitos. Uma ferramenta dentro da linguagem de programação R, o CooRnet é ainda mais poderoso quando combinado com a plataforma de visualização de código aberto Gephi.

Use a ferramenta Twitter SNA da WeVerify para encontrar beneficiários de desinformação. No Capítulo 1 deste guia, traçamos o perfil da nova ferramenta gratuita Twitter SNA que pode ser usada para rastrear e mapear graficamente os indivíduos por trás da desinformação eleitoral promovida no Twitter. Duas razões pelas quais os especialistas consideram essa ferramenta um divisor de águas são: que ela se concentra mais nos usuários do que no conteúdo e que os repórteres não precisam de habilidades especiais. Notavelmente, essa ferramenta também pode revelar as organizações e sites que potencialmente mais se beneficiam das campanhas enganosas.

Identifique contas de mídia social automatizadas. Além de outras informações úteis, o aplicativo accountanalysis usa várias técnicas para expor contas suspeitas de ‘bots’. Por exemplo, seu recurso “Daily Rhythm” sinaliza contas que postam tweets entre 1h e 5h, horário local, quando os humanos normalmente estão dormindo. Enquanto isso, a ferramenta Botometer oferece pontuações sobre a probabilidade de uma conta que você está investigando, ou seus seguidores, serem bots.

Procure tentativas de explorar falsidades. Por que alguns políticos se preocupam em divulgar falsidades que já foram desmascaradas e não parecem ajudar suas campanhas? “Depois de vincular a desinformação a um determinado político ou grupo ativista, é importante checar se eles tentam promover alguma política que ande de mãos dadas”, diz Lytvynenko. “Nos EUA, vemos uma enorme restrição aos direitos de voto por trás da falsa campanha ‘Stop the Steal’ [que promoveu a mentira de que Donald Trump foi traído na vitória em 2020]. Essa etapa ajudará você a entender o propósito da desinformação”.

Não se esqueça da ameaça deepfake. Vídeos deepfake, que criam imagens realistas, mas fabricadas, de pessoas reais, podem ter um efeito corrosivo na confiança pública e na democracia, como explicou a professora de direito Danielle Citron em um TED Talk de 2019. Da mesma forma, Silverman alertou que “é apenas uma questão de tempo até que a tecnologia seja usada para impactar uma eleição”. Sua previsão, até agora, ainda não se concretizou, mas especialistas apontaram para uma tendência crescente de táticas “cheapfake” surpreendentemente eficazes e de baixa tecnologia, como simplesmente alterar a legenda de um vídeo político. Silverman adverte que as eleições são provavelmente mais vulneráveis ​​a deepfakes nas 48 horas anteriores aos dias das eleições, já que campanhas ou jornalistas teriam pouco tempo para vetar ou refutar os vídeos.

Experimente o InVid ou o novo Microsoft Video Authenticator para investigar deepfakes suspeitos e use fontes tradicionais para verificar se o candidato estava na cena retratada no clipe.

Investigando truques sujos nas eleições

Os truques sujos das eleições geralmente são perseguidos apenas por jornalistas investigativos, por vários motivos. As agências de aplicação da lei raramente chamam atenção para táticas antiéticas, os grupos de supervisão de votação tendem a demorar muito para reagir, o público geralmente é o alvo ou as vítimas e os atores por trás de uma campanha de má-fé muitas vezes podem levá-lo a escândalos eleitorais mais amplos.

Estes são distintos dos truques políticos legítimos –como afogar os repórteres em grandes quantidades de dados deliberadamente. Um exemplo clássico: a divulgação de centenas de páginas do prontuário médico de um candidato próximo ao prazo da campanha.

Em vez disso, estamos falando de táticas destinadas a desinformar ou enganar os eleitores, e também incluem leis devidamente promulgadas que os jornalistas podem expor como antidemocráticas, antiéticas ou racistas. Por exemplo, em 2014, uma nova lei no estado americano do Alabama exigiu uma lista restrita de documentos de identificação com foto como prova aceitável de voto, incluindo carteiras de motorista. Mas apenas um ano depois, oficiais partidários fecharam sistematicamente os escritórios do governo que emitem essas licenças em bairros propensos a apoiar o partido da oposição. Para refutar a alegação de que cortes orçamentários estavam por trás das medidas, o Brennan Center, uma organização política e jurídica apartidária, publicou um mapa mostrando como os 31 fechamentos no estado aconteceram predominantemente em condados com uma alta proporção de cidadãos propensos a votar na oposição.


O Comprova, projeto colaborativo do Brasil, tem investigado alegações eleitorais por vários anos. Imagem: captura de tela

Use crowdsourcing para expor a verdade. As origens de chamadas robóticas eleitorais enganosas –chamadas automatizadas que podem propagar uma grande quantidade de mensagens pré-gravadas– são notoriamente difíceis de rastrear. Mas os especialistas acreditam que o crowdsourcing é uma das melhores maneiras de detectar truques sujos de campanha como esses. Em 2018, o Projeto Comprova descobriu falsidades que minavam as eleições no Brasil, quando uma colaboração de 24 organizações de mídia publicou o mesmo número de WhatsApp e recebeu uma enxurrada de dicas de seu público combinado. E o projeto continua monitorando possíveis truques sujos de campanha antes das eleições de 2022 no país.

“O crowdsourcing é extremamente importante, principalmente quando se trata de identificar narrativas iniciais de desinformação –especialmente para o WhatsApp”, diz Lytvynenko. “Crie uma linha de denúncias e colabore”.

Os sinais de alerta a serem observados incluem:

  • Engarrafamentos encenados e direcionados em dias de eleições e dias de recenseamento eleitoral.
  • A técnica conhecida como push-polling, em que as pesquisas de opinião pública usam enquadramento desonesto ou mensagens manipuladas para mostrar supostamente o declínio do apoio a candidatos ou políticas da oposição.
  • Chamadas robóticas de desinformação para desencorajar a votação, como espalhar informações falsas sobre o calendário eleitoral e os requisitos de identificação.
  • Intimidar novos eleitores alegando que o registro eleitoral atrai maior escrutínio por parte das autoridades fiscais.
  • Práticas anticompetitivas, como privar a campanha de um oponente de habilidades ou oportunidades na mídia.
  • Confundir deliberadamente os eleitores sobre os procedimentos de votação por correio.
  • Usar estratégias de marketing negativo para manchar candidatos alegando vínculos falsos ou exagerados com indivíduos impopulares.
  • Uso ilegal ou antiético de recursos públicos para atividades de campanha.
  • Registrar o endereço residencial de um candidato da oposição em um novo distrito político.
  • Solicitar interferência estrangeira.

Táticas legislativas controversas também podem incluir:

  • Mudar as regras eleitorais para desfavorecer, dissuadir ou dificultar a situação para os eleitores da oposição. Isso inclui leis destinadas a impedir o registro de eleitores em dias populares com certas comunidades partidárias e leis que exigem identificações que os eleitores da oposição são menos propensos a possuir.
  • Leis do “manual eleitoral dos autocratas”. Veja a lista de truques legislativos sujos comumente usados ​​por autoritários mencionados anteriormente neste guia.
  • Gerrymandering extremo. O abuso do processo de redesenho dos limites dos distritos políticos pode levar a eleições nas quais os eleitores não escolhem seus líderes, mas os líderes escolhem seus eleitores. Como resultado, os partidos que perdem o voto popular por grandes margens ainda podem ganhar o controle dos órgãos representativos, zombando dos princípios democráticos. Embora seja um problema menor em nações com representação proporcional, como Israel e Holanda, ou países que permitem que organizações não-partidárias estabeleçam suas fronteiras legislativas, como Austrália e Canadá, as táticas de manipulação continuam sendo uma ameaça aos direitos dos eleitores em lugares como Hungria, EUA, Hong Kong, Sudão e Filipinas.
  • Leis que usam o pretexto de alegações de fraude eleitoral para dificultar a votação. Pesquisas indicam que a fraude eleitoral em pessoa é extraordinariamente rara em todo o mundo e insignificante para os resultados nacionais, mas muitos partidos políticos exageram grosseiramente essa questão sem importância para introduzir leis que intencionalmente dificultam a votação para certos grupos que tendem a votar contra eles. Se seus dados locais mostrarem que a fraude eleitoral é menos comum do que, digamos, ferimentos causados ​​por raios ou jogadas na qual o golfista acerta a bola no buraco com apenas uma tacada, use ferramentas de visualização como o Flourish para destacar essas anomalias de dados. “Lembre-se de que a maioria das narrativas de fraude eleitoral começa localmente”, observa Lytvynenko.
  • Fechamento de locais de votação partidárias. O repórter vencedor do Pulitzer, David Cay Johnston, diz que a supressão de eleitores pelo fechamento direcionado dos locais de voto está aumentando nas democracias. Procure bancos de dados semelhantes ao do Centro de Integridade Pública nos EUA, que pode mostrar o fechamento de locais de votação específicos em áreas de apoio da oposição.

“As redações precisam pedir ao público que seja seus olhos e ouvidos nas eleições”, diz Silverman. “Então diga a seus leitores ou telespectadores: ‘Se você vir ou ouvir tentativas de enganar ou interferir na votação, aqui está como chegar até nós’. Afinal, é a democracia deles”.

Esta é a parte final do guia da GIJN para investigar eleições. A Introdução, o Capítulo 1, o Capítulo 2 e o Capítulo 3 também foram publicados.

Recursos adicionais

Investigando Políticos: Capítulo 8 do Guia de Investigações Cidadãs da GIJN

Recursos essenciais para a eleição dos EUA: um guia de campo para jornalistas na linha de frente

Webinar GIJN: Eleições no Brasil 2022 –Dicas de investigação

Ilustração de capa: Marcelle Louw/GIJN

Assinatura Abraji