Formação

Help Desk

Guia de Eleições para Repórteres Investigativos | Capítulo 3: Investigando candidatos

Guia de Eleições para Repórteres Investigativos | Capítulo 3: Investigando candidatos

Publicado originalmente pelo site da GIJN.

Jornalistas de política veteranos alertam para uma falha comum nas reportagens eleitorais: os repórteres muitas vezes acreditam que já conhecem figuras públicas que decidem se candidatar a cargos nacionais e tendem a assumir que seus acordos e conexões anteriores foram amplamente examinados. Apontam exemplos como Filipinas, Índia e Brasil como lugares onde os cidadãos aprenderam, tarde demais, fatos preocupantes sobre seus líderes eleitos que poderiam ter sido encontrados durante suas campanhas eleitorais. Como repórteres, precisamos investigar mais a fundo.

Neste capítulo, compartilhamos algumas ferramentas eficazes para descobrir os históricos on-line e de financiamento de campanha dos candidatos; dicas para se conectar com pessoas que conheceram esses políticos em suas vidas anteriores; e recursos para encontrar ativos ocultos e sinais de alerta. Também compartilhamos a metodologia passo a passo que uma importante jornalista usou para investigar o presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

A investigação de candidatos envolve buscas de bens, conflitos de interesse, conexões criminais, alegações antigas, redes de negócios familiares, envolvimentos estrangeiros e muitos outros pontos da história pessoal não declarados em suas campanhas.

A criatividade provou ser importante em investigações bem-sucedidas de antecedentes políticos. Em 2016, o canal independente sérvio KRIK, membro da GIJN, produziu um banco de dados abrangente de ativos pertencentes a políticos e seus familiares, ao mesmo tempo em que desenterrou problemas antigos com as autoridades. A equipe explorou vários bancos de dados para conseguir os dados brutos e então contratou especialistas em avaliação de propriedades para examinar e contextualizar suas descobertas.

Em 2012, o jornalista paquistanês Umar Cheema obteve os números nacionais de identificação fiscal de políticos por meio de conjuntos de dados de comissões eleitorais e, trabalhando com um denunciante, descobriu que 34 ministros e mais de dois terços de todos os legisladores paquistaneses não apresentaram nenhuma declaração fiscal anual. Essa história levou a uma mudança drástica na transparência financeira nas eleições do Paquistão, com os políticos agora obrigados a adicionar suas informações fiscais em um diretório público que grupos da sociedade civil e repórteres podem explorar.

Enquanto isso, um formulário de divulgação de ativos de uma audiência de nomeação judicial federal, que não recebeu atenção anteriormente, surgiu como o catalisador para talvez a mais abrangente investigação de antecedentes políticos já feita: a revelação de 2018 do New York Times dos supostos golpes fiscais por trás do império comercial do ex-presidente dos EUA Donald Trump. No entanto, o sucesso desta história vencedora do Pulitzer dependia da habilidade de reportagem mais necessária para investigar candidatos eleitorais em todo o mundo: convencer pessoas totalmente estranhas – que geralmente são ainda mais relutantes em aparecer na mídia em ambientes politicamente carregados– a falar com você pessoalmente.

Um truque criativo que o repórter investigativo Russ Buettner usou para o projeto Trump foi o seguinte: aparecer na porta de estranhos com um arquivo grosso e visível de papéis sem importância debaixo do braço –que ao ser visto, ele descobriu, reduzia a ansiedade dos moradores, fazendo com que acreditassem que ele já conhecia todos os fatos centrais. A tática da jornalista brasileira Juliana Dal Piva é deixar pequenos bilhetes manuscritos –informando que você está buscando a opinião da pessoa, e não segredos –sob a porta de fontes desconhecidas. (Mais sobre isso abaixo.)

Vários especialistas contribuíram com técnicas e ferramentas para trazer à tona fatos históricos que os candidatos podem não desejar que os eleitores conheçam.


Ilustração: Marcelle Louw para GIJN

Ferramentas para explorar o histórico on-line dos candidatos

Use o TweetBeaver: baixe milhares de Tweets de um candidato com a ferramenta TweetBeaver em um arquivo CSV ou Excel pesquisável. Você também pode usar o serviço para baixar listas de contatos e encontrar conexões pesquisando os seguidores de uma mesma conta. Você precisará fazer login neste serviço a partir de sua própria conta do Twitter.

Experimente o WhatsMyName: copie o usuário de mídia social de um candidato –do Twitter ou Instagram, por exemplo– e conecte-o ao aplicativo WhatsMyName. Ele procurará esse nome de usuário em cerca de 600 serviços on-line diferentes, incluindo sites não relacionados ao serviço público e sites de nicho, como portais de jogos interativos. Craig Silverman, da ProPublica, alerta que uma investigação adicional é necessária para confirmar que a mesma pessoa, ou candidato, ainda está usando essa conta, mas observa que isso pode ser muito útil para obter informações e potencialmente encontrar conexões fora da política. Por exemplo: o nome de usuário privado de um ex-presidente da Moldávia –“Kremlinovici”– provou ser a chave para uma investigação da RISE Moldova, uma redação membro da GIJN, que revelou uma flagrante interferência eleitoral do governo da Rússia.

Pesquise no Wayback Machine: verifique declarações históricas excluídas ou alteradas por candidatos com o Wayback Machine, que arquiva mais de um bilhão de URLs ou endereços da web por dia. Descubra como usar os novos recursos do serviço aqui. Além disso, tente Archive.is para encontrar postagens e contas de mídia social excluídas.

Use o Who Posted What? (Quem postou o quê?) Esta é uma ferramenta confiável que possibilita que você ultrapasse os limites de análise de dados do Facebook, permitindo pesquisar postagens e vídeos por data e assunto. Seu criador, o treinador Henk van Ess, diz que os repórteres também podem substituir a palavra “posts” no link criado na busca do site pela palavra “videos” –ou talvez “images”– para encontrar links no meio apropriado. Ele também pode encontrar números de ID do Facebook, que você pode conectar a outra ferramenta, a graph.tips, para pesquisar postagens e fotografias de um usuário específico.

Tente usar as postagens do Instagram para mapear os movimentos dos candidatos. Se a pessoa que você está investigando publica regularmente nas mídias sociais e ativou a função de geolocalização em seu dispositivo móvel, você pode mapear seus movimentos anteriores com o aplicativo Creepy. Uma ferramenta de geolocalização de código aberto que pode traçar os horários e locais das postagens do Twitter, Flickr e Instagram no Google Maps, e a série de pins que o aplicativo gera pode mostrar graficamente os caminhos que os candidatos podem não desejar que os eleitores conheçam.

Procure no Google por conexões. Para procurar associações entre um candidato ou membro da equipe de campanha e outro ator eleitoral que você também está investigando, insira o nome do candidato entre aspas, seguido pelo termo AROUND(17), seguido pelo outro nome ou termo, e você poderá encontrar documentos onde essas palavras-chave aparecem dentro de um intervalo de no máximo 17 palavras uma da outra. (Qualquer número que você tentar entre 10 e 25 pode funcionar, mas certifique-se de que não haja espaço entre ‘AROUND’ e os parênteses). Para encontrar entrevistas publicadas com as pessoas associadas ao candidato, pesquise por frases que provavelmente aparecerão no Google –como “Smith diz”– em vez de palavras como “entrevista”.

Software de reconhecimento facial: pesquise fotos on-line do candidato para explorar antigos conhecidos. A maioria dos candidatos leva uma vida pública antes de concorrer ao cargo e já tem inúmeras fotos on-line de suas atividades. Você pode encontrar fotos deles com empresários estrangeiros ou grupos extremistas. Para saber mais sobre reconhecimento facial –e ferramentas poderosas como Pimeyes, Yandex e TinEye– leia este artigo da GIJN, ou este, que inclui algumas maneiras criativas de usá-las em conjunto com os bots do Telegram.

Como encontrar informações de contato de fontes envolvidas nas campanhas

A verificação de candidatos geralmente envolve conversar com estranhos: entrar em contato com pessoas que conhecem ou conheciam os candidatos ou seus negócios anteriores. No entanto, as listas telefônicas são uma relíquia, e os endereços de e-mail de fontes em potencial foram amplamente apagados das pesquisas do Google nos últimos anos devido a preocupações com a privacidade. Os repórteres precisam de ferramentas para fazer essas abordagens.

  • A comunicação por e-mail continua sendo o canal preferido de muitos especialistas eleitorais em todo o mundo. Tente determinar o endereço de e-mail correto para as pessoas que você precisa por meio do plug-in Name2Email do Chrome ou por meio de sites como o Email Format. Silverman, da ProPublica, diz que duas ferramentas de plug-in comumente usadas por recrutadores – SignalHire e ContactOut – podem ser úteis para obter detalhes de contato de fontes que não aparecem nos perfis do LinkedIn. Enquanto isso, a extensão Lusha do Chrome é um programa gratuito que pode extrair informações de contato do LinkedIn e do Twitter que podem não aparecer nessas contas e pode ajudar os repórteres a entrar em contato com ex-funcionários de qualquer organização sendo investigada.
  • Use o Hunter para extrair e-mails de um site, seja de um partido político ou uma empresa que o candidato possui ou trabalhou. O Hunter oferece 25 pesquisas gratuitas por mês e oferece vários níveis pagos para mais pesquisas.
  • Para repórteres que cobrem eleições fora da União Europeia –que é afetada pelas restrições de privacidade do Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR)– tente sites como Truecaller e Sync.ME para obter números de telefone de fontes.
  • A ferramenta de pesquisa de pessoas Pipl Pro é cara –mas as apostas são tão altas nas eleições, e a ferramenta é tão poderosa, que algumas redações podem considerar se inscrever durante o período eleitoral. O detetive cibernético da BBC, Paul Myers, considera o serviço um de seus favoritos – e, na Conferência Global de Jornalismo Investigativo de 2019 na Alemanha, Myers mostrou como, em um minuto, o Pipl poderia revelar dezenas de detalhes de contato e negócios de propriedade de uma das figuras públicas mais resguardadas da Grã-Bretanha.
  • Experimente a ferramenta LittleSis para encontrar conexões entre ativistas políticos –especialmente na América do Norte. “É bastante centrada nos EUA, mas não exclusivamente”, diz a detetive digital Jane Lytvynenko, que atualmente é pesquisadora do Shorenstein Center da Universidade de Harvard. “Ele mapeia conexões entre pessoas-chave nas quais você talvez não tivesse pensado”. Ela diz que pesquisar um nome na LittleSis pode revelar, por exemplo, que algumas das mesmas pessoas envolvidas com a campanha ‘Build The Wall’ de Trump também estavam envolvidas com sua falsa campanha ‘Stop The Steal’.

Ferramentas para verificar sinais de alerta e ativos ocultos

Expor os bens secretos e os conflitos financeiros dos políticos –e seus esforços para escondê-los– é, obviamente, um modelo clássico de história de antecedentes nas eleições. Veja a Caixa de Ferramentas da GIJN sobre novos métodos para encontrar ativos ocultos; e nosso guia sobre investigação de lavagem de dinheiro para obter pistas sobre como rastrear essas movimentações. Além disso, os especialistas sugerem os seguintes métodos:

  • Tente pesquisar no novo banco de dados OpenSanctions, fácil de usar, para ver se os nomes dos candidatos ou de seus doadores apareceram em listas de sanções econômicas ou de viagem, ou estão vinculados a ditadores estrangeiros ou organizações terroristas. Incluindo os nomes de mais de 140.000 pessoas com acesso a fundos públicos e 24.000 indivíduos sancionados; o OpenSanctions também permite que os repórteres façam cruzamentos com bancos de dados maiores para encontrar conflitos de interesse.
  • O arquivo Aleph, construído pelo Projeto de Jornalismo sobre Corrupção e Crime Organizado (OCCRP), representa uma das mais poderosas ferramentas de rastreamento de dinheiro disponíveis. Com dados de 150 milhões de entidades e oferecendo excelentes recursos de raspagem e compartilhamento seguro de dados, o Aleph é uma excelente ferramenta para conectar atores políticos poderosos com dinheiro oculto.
  • Verifique o banco de dados de vazamentos e conjuntos de dados da OpenCorporates para explorar os interesses comerciais dos políticos. O recurso inclui informações de propriedade de mais de 100 milhões de entidades corporativas. Lionel Faull, um repórter investigativo que seguiu rastros de dinheiro em toda a África, descreveu a OpenCorporates como um “balcão único” eficaz para dados corporativos que podem sinalizar negócios em jurisdições distantes do foco da investigação. Ele recomenda usá-lo em conjunto com o Aleph.
  • Considere a ferramenta Nexis Diligence, que pode explorar vastas coleções globais de registros públicos, listas de observação, fontes legais, arquivos de sanções e listas de “pessoas politicamente expostas” para histórias relacionadas a riscos de atores eleitorais. A função ‘Person Check‘ oferece uma poderosa lupa de diligência prévia para indivíduos. Embora os vários serviços avançados de dados e análises da LexisNexis –que têm várias aplicações para investigação de eleições– envolvam custos de assinatura significativos, a plataforma é amigável para jornalistas, os membros da GIJN desfrutam de taxas reduzidas e muitos repórteres que não podem pagar as taxas também usam o serviço através de terminais em algumas bibliotecas universitárias que assinam ou pedem conselhos a bibliotecários de pesquisa.
  • Para as eleições dos EUA –e, potencialmente, para pistas sobre doadores internacionais– o OpenSecrets é um excelente banco de dados pesquisável sobre financiamento de campanha e contribuições de lobistas do Center for Responsive Politics.
  • Uma ferramenta que pode ser útil para investigar empresas misteriosas associadas a campanhas eleitorais é a Whoxy, que pode ajudar a identificar a pessoa que originalmente registrou o site de empresas de fachada.
  • Se o seu país não tem leis de liberdade de informação, identifique governos estrangeiros com os quais seu candidato tem algum histórico, escolha os países desta lista que têm essas leis –e registre solicitações de acesso à informação para esses governos. (Confira o guia da GIJN para leis e procedimentos de acesso à informação em todo o mundo.)

Uma metodologia para investigar candidatos

A repórter investigativa brasileira Juliana Dal Piva –colunista da plataforma de notícias UOL e ex-repórter do O Globo– indiscutivelmente se aprofundou mais nas relações secretas do autoritário presidente brasileiro Jair Bolsonaro, seus aliados e seus familiares, do que qualquer outro jornalista.

As corajosas revelações de Dal Piva a tornaram alvo de inúmeras ameaças de apoiadores de Bolsonaro, incluindo uma de um advogado que a fez se esconder e, posteriormente, entrar com uma ação civil por danos.

Dal Piva diz que Bolsonaro era uma personalidade relativamente desconhecida antes de chegar à presidência em 2018. Como muitos candidatos ao redor do mundo, o público em geral pouco conhecia sobre seu histórico, motivações e supostos conflitos de interesse. As investigações descobriram uma rede de irregularidades financeiras envolvendo o presidente e seu círculo íntimo.

Os passos de Dal Piva para investigar candidatos e suas conexões incluem:

  • Suponha que você não sabe nada sobre o candidato e comece sua pesquisa do zero. Além disso, evite atribuir padrões éticos aos candidatos com base em suas profissões anteriores –especialmente profissões com reputação elevada, como o clero ou a lei. “É um erro comum que os jornalistas pensem que conhecem os políticos”, diz ela. “Então as pessoas não voltam ao básico e ao começo. Quem foi a primeira esposa; a segunda esposa; onde estão os filhos agora? –você pode começar com uma pesquisa no Google, mas as perguntas em si são importantes”.
  • Pesquise registros judiciais de processos e depoimentos anteriores envolvendo o candidato e anote os nomes e detalhes de contato das partes e dos advogados envolvidos.
  • Crie sua própria biografia do candidato, com foco na família e conexões com indivíduos, grupos, interesses financeiros –e a pergunta: quem são eles, realmente? Inclua fatos sobre sua criação, afiliações religiosas e ideológicas, histórico legal e mudanças de posicionamento sobre questões.


A jornalista brasileira Juliana Dal Piva esboça mapas de “teias de aranha” –como este das conexões do presidente Jair Bolsonaro– ao investigar candidatos eleitorais. Imagem: Cortesia de Juliana Dal Piva

  • Esboce um mapa de conexões “teia de aranha” em uma grande folha de papel ou quadro branco, com círculos para categorias como cônjuges, filhos e ex-cônjuges; aliados, doadores e inimigos; casas e escritórios atuais e antigos; e empresas e instituições de caridade. Adicione detalhes e setas de conexão à medida que avança. Repórteres experientes em tecnologia também podem usar softwares de visualização de dados para mapear essas conexões.
  • Faça a pergunta: o candidato construiu sua riqueza pessoal antes de se tornar um político, ou quando já estava no cargo? Se for este último, então: em que medida eles se beneficiaram de políticas e fundos públicos –e a quem devem favores?
  • “Pergunte quem são seus aliados e quem são seus aliados recentes –e, mais importante, quem são seus inimigos que costumavam ser aliados?” ela aconselha. “Estas serão pessoas importantes para sua investigação”.
  • Se o seu país tiver leis de divulgação de ativos para oficiais eleitos, use portais on-line de gerenciamento de eleições, se disponíveis –ou solicitações de liberdade de informação– para acessar esses documentos e colocar todos os ativos em sua própria categoria em uma planilha. Procure ativos não declarados, como veículos, fazendas, casas de férias e ações de empresas – e fique atento à supervalorização de casas (uma técnica frequentemente usada para esconder dinheiro).
  • Se o seu país não tiver leis de divulgação de ativos, vasculhe o Facebook e outras contas de mídia social dos cônjuges dos candidatos, em particular, em busca de pistas sobre ativos não declarados. A jornalista freelance liberiana Bettie K. Johnson-Mbayo, por exemplo, diz que as postagens dos cônjuges dos políticos oferecem uma mina de ouro em potencial para os repórteres. Dal Piva diz que os repórteres no Brasil –assim como outras democracias– podem simplesmente buscar dados sobre os candidatos e seus bens em portais on-line, mas que muitas vezes são necessários pedidos de acesso à informação para encontrar cópias dos documentos originais.
  • Dal Piva alerta que alguns sistemas de divulgação de bens não exigem que os candidatos atualizem o valor dos bens adquiridos em ciclos eleitorais anteriores, portanto, os repórteres também devem consultar escrituras e registros de imóveis, bem como fontes de avaliação, para construir um panorama preciso do balanço patrimonial do candidato.
  • Torne fácil e seguro para os denunciantes compartilharem evidências e vazarem documentos, com pedidos de “pistas” e canais de comunicação criptografados, mas tome cuidado com possíveis motivações políticas. Embora indique às fontes as contas seguras do ProtonMail, Dal Piva diz que os denunciantes no Brasil tendem a entrar em contato por telefone para reuniões pessoais. Ela diz que a maioria se sente à vontade para se comunicar via WhatsApp e observa que o idealismo político de muitos funcionários de campanha os torna potenciais denunciantes. “Muitas pessoas nas campanhas se sentem traídas ou ficam genuinamente alarmadas com as coisas que veem”, observa ela.
  • Observe o candidato em vários eventos públicos ou na rua –e fique atento aos funcionários de baixo escalão que sempre os acompanham. “Essas pessoas que estão com o candidato todos os dias são muito importantes e sabem muito – o motorista; o fotógrafo, o funcionário que faz a comida”, observa. “Você tem que arranjar tempo para andar na rua e se apresentar pessoalmente”.
  • Experimente a tática do bilhete por baixo da porta na casa de estranhos. Quando sua batida não for atendida na casa de um estranho conectado a um candidato, tente arrancar uma página do bloco de anotações e deixar um pequeno bilhete embaixo da porta ou na caixa de correio. Dal Piva diz que esses bilhetes devem (1) ser honestos sobre seu papel como repórter; (2) afirmar que você está “querendo entender” algo; (3) dizer que você está buscando as “opiniões” do estranho sobre um problema, em vez de fatos, e (4) incluir seus detalhes de contato profissional. Sinta-se à vontade para usar frases como “em off” ou “sem identificação”, pois essas fontes provavelmente têm experiência com a mídia. Espere do lado de fora por alguns minutos, pois você pode ser convidado a entrar imediatamente. “É incrível quantas entrevistas eu consegui com esses bilhetes”, comenta ela.
  • Alcance o máximo de pessoas que puder. “Mas, se você estiver usando as redes sociais, certifique-se de ter um perfil profissional que liste sua função de repórter, para que estranhos com os quais você entra em contato saibam quem você é e que você não é apenas um troll”, diz ela. “Enviei 30 ou 40 mensagens para estranhos e seis meses depois alguém finalmente respondeu, e foi uma fonte muito importante. Eu descobri que aquela pessoa tinha me pesquisado primeiro”. 

Construa um bom conjunto de bancos de dados de verificação de antecedentes

Embora o seguinte conjunto de bancos de dados de informações de candidatos seja específico para o Brasil, Dal Piva diz que eles podem fornecer pistas para repórteres em países semelhantes sobre quais tipos de bancos de dados locais podem estar disponíveis e como um conjunto de dados de antecedentes robusto deve ser:

“É muito interessante conversar com pessoas com quem o candidato brigou em processos anteriores, e esses registros judiciais também contêm números de telefone e endereços de e-mail”, diz Dal Piva. “Mas, no fim das contas, para entender o candidato, você precisa entender a pessoa –sua religião; o que eles estudaram quando eram jovens; sua motivação para entrar na política; tudo.”

Nota do Editor: Este capítulo é parte do guia da GIJN para investigar eleições. A Introdução, o Capítulo 1, o Capítulo 2 e o Capítulo 4 deste guia também foram publicados.

Recursos adicionais

Guia de Eleições para Repórteres Investigativos: Introdução

Investigando Políticos: Capítulo 8 do Guia da GIJN de Investigações Cidadãs

Recursos essenciais para a eleição dos EUA: um guia de campo para jornalistas na linha de frente

Ilustração de capa: Marcelle Louw/GIJN

Assinatura Abraji