- 14.07
- 2020
- 15:30
- Abraji
Liberdade de expressão
Ataque à imprensa é método no governo Bolsonaro, diz RSF
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou no dia 13.jul.2020 a segunda parte de uma série de publicações sobre liberdade de imprensa no Brasil. De acordo com o relatório, foram 21 novos ataques à imprensa por parte do presidente Jair Bolsonaro no segundo trimestre de 2020, totalizando 53 episódios nos seis primeiros meses do ano.
Os casos de assédio e agressão partem não só do presidente, mas também de seus filhos, que ocupam mandatos legislativos, e de ministros. Segundo o documento, pelas redes sociais, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), disparou 43 ataques contra a imprensa; o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) foi autor de 47; e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) foi responsável por 63 hostilidades. “O trio ampliou as agressões a jornalistas considerados incômodos demais à família e ao governo”, diz trecho do informe.
O ex-ministro da Educação Abraham Weintraub e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, também aparecem no relatório com 16 e 4 ataques, respectivamente. No levantamento da Abraji de autoridades que mais bloquearam jornalistas, uma forma de cercear a liberdade de imprensa, Weintraub aparece em segundo lugar, atrás apenas do presidente.
“No governo Bolsonaro, o ataque à imprensa é método”, afirmou à Abraji o diretor regional da RSF para a América Latina, Emmanuel Colombié. “A hostilidade propagada por essa rede, que chamamos de ‘sistema Bolsonaro’, tem sérias consequências, porque encoraja apoiadores do governo a fazer o mesmo, multiplicando as engrenagens desse sistema”, complementa.
Para Colombié, esses ataques permanentes encontram um eco específico nas redes sociais, nas quais o presidente e seus aliados são particularmente ativos e onde não hesitam em espalhar informações falsas.
Ao todo, a RSF registrou 101 ataques diretos a veículos de comunicação no primeiro semestre. O relatório chama atenção para um sistema de ofensas a mulheres jornalistas. Elas sofreram 15 ataques diretos, enquanto os homens foram atacados 13 vezes.
O presidente da Abraji, Marcelo Träsel, afirma que o discurso estigmatizante de Jair Bolsonaro e seus apoiadores — aliado a teorias conspiratórias contra a imprensa — legitima as agressões sofridas por jornalistas durante a cobertura de eventos políticos ou da pandemia. E, nas palavras dele, acabam produzindo um clima de desconfiança do jornalismo, o que muitas vezes dificulta o trabalho dos repórteres.
“Muitos apoiadores do governo federal têm invadido as transmissões das emissoras de televisão para ofender repórteres ou criticar a empresa para a qual trabalham. Durante os eventos de apoio ao presidente em Brasília e em outras cidades, jornalistas foram agredidos por militantes ao tentar fazer entrevistas ou registrar as atividades”, exemplifica.
Na avaliação do presidente da Abraji, jornalistas que expõem erros ou infrações de autoridades sofrem assédio nas redes sociais. “Desde 2018 os jornalistas brasileiros trabalham sob um clima de violência psicológica, que vem se tornando violência física”, explica Träsel.
Em abril de 2020, a RSF divulgou relatório sobre a deterioração da liberdade de imprensa no Brasil. O país, que ocupava a 105ª posição em 2019, caiu para a 107ª. Para a organização, a chegada de Jair Bolsonaro à Presidência da República contribuiu para derrubar o país no ranking pelo segundo ano seguido.
Foto: Marcos Corrêa/ Fotos Públicas